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Gustavo Jacques Dias Alvim Cadeira n° 29 Patrona: Laudelina Cotrim de Castro |
Desde minha tenra idade, o mundo das letras, palavras e frases
fascina-me. Fui apresentado a esse empolgante universo pela minha mãe,
inicialmente no lar, por meios lúdicos, folheando livros e revistas, fazendo
desenhos, recortes e pinturas, e, depois, aos sete anos, por ela mesma, no
Grupo Escolar “Castro Alves”, em Vera Cruz, pequena cidade paulista, onde
nasci, e no qual tive a alegria de tê-la como professora do primeiro ano
primário. Foi, portanto, a minha querida e saudosa genitora quem me
alfabetizou, usando a “Cartilha Ativa”, cujo método era o sintético,
responsável pela leitura rápida que adquiri.
A partir daí, apaixonei-me pela leitura. Estimulado pelos meus pais,
também leitores contumazes, tornei-me grande amigo de livros, revistas e tudo o
que fosse material impresso. Ainda
cursando o primário, pude ler os livros mais importantes para crianças então
publicados. Devorei, dentre outras, as famosas obras de Monteiro Lobato, com as
suas inesquecíveis personagens: Narizinho, Dona Benta, Visconde de Sabugosa,
bem como “Os doze trabalhos de Hércules” correspondendo a uma dúzia de volumes,
e vários outros livros de história, dos quais me lembro de: “Reinações de
Narizinho”, “Caçadas de Pedrinho”, “O Pica-pau Amarelo”, “Jeca Tatu”, “A Ilha
do Tesouro”, “Viagens de Gulliver”, dentre muitos outros. Além disso, minha
família assinava revistas infantis, famosas e de grande circulação, que
esperávamos mensalmente, vindas pelo correio, como o “Tico-tico” (com histórias
do Zé Macaco e Faustina; Chiquinho; Reco-reco, Bolão e Azeitona), “Globo
Juvenil”, “Gibi” e muitas outras de cunho moral, cívico, religioso ou de
simples entretenimento.
Lembro-me, também, que meu pai era assinante da “Folha da Manhã”
(atualmente, “Folha de São Paulo”), jornal diário que chegava da capital paulista
pelo trem do final da tarde, com notícias do dia anterior, que era lido
avidamente por ele, e igualmente da” Voz de Vera Cruz”, este de circulação
dominical, do qual meu progenitor era colaborador. Eu gostava de dar uma olhada nos dois jornais
e ler neles o que me parecia interessante. Foi esse contato prematuro e
despretensioso com os periódicos que me propiciou o único vício: ler jornais
diariamente. Quando não posso fazê-lo
parece-me que está faltando algo. Se não posso lê-los, guardo-os para dar uma
repassada em outro momento, antes de me desfazer deles. Antigamente, quando a
tinta dos jornais tinha um cheiro mais forte, eu dizia que era esse odor o que
me atraía. Posso dizer que leio jornais desde meus dez anos de idade.
Outro fato interessante, que confirma o meu amor pela leitura e que me
faz também voltar à pré-adolescência, foi a transformação da minha incipiente
biblioteca, para torná-la um espaço público. Minha família havia se mudado para
Piracicaba, onde, inicialmente, moramos numa casa antiga, espaçosa, com garage,
grande quintal, pomar, horta, galinheiro, quartinho para despejo e pátio
cimentado para jogar bola, andar de bicicleta etc. Havia também, construídos
separadamente da casa, mais quatro cômodos, três dos quais usados para instalar
o consultório médico do meu pai, destinando-se o que sobrava para ser o local
dos brinquedos, onde jogávamos, principalmente, futebol de botão, com
participação de vários amigos, meninos vizinhos de quarteirão. Nesse quarto,
cujo pé-direito era bastante alto, numa estante com várias prateleiras
espaçosas, que iam até o teto, a gente guardava os livros. Os meus amigos, que
iam para minha casa disputar os campeonatos de futebol de botão, não resistiam
ao desejo de folhear ou de ler aquelas publicações, atraentes, às quais muitos
deles não tinham acesso por falta de condições econômico-financeiras. Não era
incomum um ou outro pedir emprestado para levar para suas casas algum volume.
Isso me deu a idéia de organizar uma biblioteca. Com a ajuda de meu irmão, encapamos
todos os livros com papel pardo, numeramos os livros e revistas, colando nela
algarismos recortados de outros impressos para identificá-los, fizemos o
cadastro das obras, bem como dos consulentes. Para ter o direito de retirar o
livro e levá-lo para casa, por prazo determinado, o interessado tinha de se
associar à biblioteca e pagar uma pequena taxa mensal, que era integralmente
revertida para a ampliação do acervo. A iniciativa foi um sucesso e,
indubitavelmente, serviu para difundir o gosto pela leitura.
É sabido que a leitura é imprescindível e primordial na formação de um
escritor. Para escrever bem é preciso ler muito; não ter preguiça de consultar
dicionário, nem de reescrever muitas vezes o mesmo texto. Porque eu comecei a
ler muito cedo, também iniciei meus textos poéticos aos onze anos de idade. Fiz
poesia na infância e na adolescência e somente nesse período. Escrevi para
jornaizinhos escolares e tive o meu primeiro trabalho impresso publicado no
“Diário de Piracicaba”, aos 16 anos, por ter obtido uma menção honrosa num
concurso de contos de Natal, promovido por esse jornal já extinto.
Nunca mais parei de escrever. Com 20 anos, morando e estudando em São
Paulo, fui contratado como revisor de uma revista; dois anos depois eu era o
seu diretor-redator. Por onde passei, escolas, empresas, igreja, eventos,
clubes, eu semeei jornais. Fui fundador e sócio-proprietário de “A Província”,
juntamente com Cecílio Elias Netto. Escrevi livros. Fiz a edição de muitos
outros. Para onde eu vou, levo comigo algo para ler. Estimulo pessoas a lerem.
Vibro quando vejo meu neto e minha neta lendo seus livros, juntando dinheiro
para comprá-los ou indo ao dentista com um deles sob o braço.
Amo meus livros, adoro a minha modesta biblioteca! O mundo das letras é
o meu mundo!
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