Acadêmica Myria Machado Botelho Cadeira n° 24 - Patrona: Maria Cecília Machado Bonachella |
Há
dois mil anos o sol acordou cedo em Jerusalém e havia um movimento desusado,uma
sensação esquisita de algo incompleto que carregava as expressões de uns e de
outros. Os acontecimentos terríveis da semana
saíram do usual, e cercados de fatos reais e sobrenaturais trouxeram para todos
que os presenciaram, ou souberam do
drama pungente, um misto de perplexidade, uma sensação de que algo muito grande
ainda estava por vir, e a tragédia ainda não fora arrematada.
Muitos
se recordavam do homem humilde, montado num jumento que há poucos dias fora
aclamado por uma multidão em Jerusalém e recebido como Rei e Filho de Davi. Não
foram poucos os que traziam, cravado nas retinas e nos corações, aquele olhar
profundo e inesquecível provindo de um nazareno extremamente belo, de túnica
muito branca... Seu olhar devassador mais parecia enxergar lá dentro da própria
alma e descobrir anseios, sofrimentos e traições!
Fatos incomuns acompanhavam aquele
peregrino de toda a Judéia, a Samaria e a Galiléia:curas e feitos maravilhosos,
e palavras sábias e iluminadas provindas
do céu! Eram histórias e parábolas belíssimas que continham o fogo da verdade e
da confiança, palavras que consolavam, remediavam, perdoavam, e asseguravam um mundo
melhor e uma vida mais além... onde não
havia sofrimentos...Palavras que traziam para os corações o sentido da vida, a
dignidade e o respeito merecidos por todos, filhos de um mesmo Deus e irmãos
entre si mesmos.
Naquela
manhã, o aspecto da cidade se transformara: os gritos dos almocreves
repercutiam mais brandos e as bestas vindas das fontes, carregadas de odres,
batiam seus cascos nas pedras, mais compassadas dentro do cenário natural. Os
pássaros e as borboletas caprichavam em seus trinados e revoluteios,
confundindo-se com as flores que se abriam exalando aromas suaves... os
rebanhos uniformes espargiam seus
balidos pelos ares em intensa harmonia...
As crianças, de cabelos dourados e olhos tranqüilos, brincavam mais
alegres e serenas... todos estes sabiam, com certeza deviam saber!..
Entre
os adultos e os mais esclarecidos, porém, quanta confusão e quanta dor! Um
homem bom e justo fora crucificado de forma brutal! Um homem que pelo amor se
doara havia morrido... O mundo se esvaziara, perdera seu motivo, e a sensação
de orfandade prevalecia ...
Por
toda parte, dentro e fora dos muros de Jerusalém, uma estupefação,misto de
inconformismo, remorso e descontentamento da parte dos protagonistas daquele
drama;os mais numerosos,porém, os
pobres, os doentes, os operários, as viúvas, as mulheres pecadoras e as virtuosas,
choravam a ausência daquele Jesus das bênçãos, das consolações, das promessas,
das bem-aventuranças, do pão que saciava a fome, do peito que abrigava, do
perdão que aliviava, dos mortos que voltaram à vida- Lázaro, o filho da viúva,e
a filha do centurião! Suas lágrimas e
seus gemidos misturavam-se à saudade e à lamentação!
Outros,
contudo, ainda o temiam. Ele prometera
voltar. E completavam a comédia de seus atos, guardando seu túmulo com
escoltas. Tinham medo de um cadáver!
Mas
o sol viera mais cedo naquele domingo e no jardim de José de Arimatéia havia
prelúdios de hosanas. Tudo ali era mais belo, rodeado pelos sons orquestrados da
natureza em festa, das flores e das árvores farfalhantes, e do firmamento
esbanjando pelas frestas da vegetação tonalidades de ouro, de azul e de rosa-
iluminuras cintilantes incidindo sobre aquele sepulcro envolvido de paz e de
silêncio!..
Súbito, em meio a esta harmonia, ouviu-se um
estrondo que repercutiu muito longe, ecoando pelas quebradas dos montes... Uma
grande pedra fora removida...
Um
acontecimento extraordinário fechava aquele ciclo que já não era o da
desesperança e do desespero... Aquela semana de tantos acontecimentos extraordinários
resgatava uma inominável injustiça e selava o compromisso de um Deus! Ele
prometera voltar ressuscitado após o terceiro dia e cumpria sua promessa. Uma
promessa que trouxe aos cristãos- de ontem, de hoje e de amanhã- a certeza de
que não estamos sós; a grande esperança de que um dia , nós também, na Páscoa
da Vida, O veremos face a face, na morada prometida aos justos e bons, todos
aqueles que, guardando sua Palavra e seguindo seus ensinamentos, mantiverem
acesa a centelha de seu divino Amor!
Um comentário:
Uma feliz e abençõada Páscoa
a todos os escritores.
abraços
Esther
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