que, segundo
dizem, foi professor na cidade, cidadão pacato (me perdoem os que acrescentaram
que Newton tinha algo de boêmio), homem de família, poeta e músico. Daqueles não tão incomuns no iniciar do
século passado, que com seus dotes musicais (ah os pianos e flautas, que casas
de famílias de medianas poses não os tinham e sempre alguém que tocasse ?) para
tirar as gentes do ramerrão sem cinema, difícil teatro e outras diversões que
não havia como de dias atuais – poetas e músicos como Juvenal Galeno, Catulo da
Paixão Cearense e, por aqui Erotides de Campos e nosso Newton, sempre chamados
para alegrar noites e tardes das boas famílias da cidade ou acordar gente
serenando madrugadas.
Conheci Newton
numa tarde de setembro de 1955 à porta da livraria do Jornal de Piracicaba,
apresentado pelo Dr. Losso. Eu com 22
anos, revisor do Jornal, e que mantinha uma página literária dominical nesse
Jornal. Newton acabava de safar-se duma
situação escabrosa, de vida em que o meteram circunstâncias e gentes
ruins. Mal estava tornando para sua
cidade. Esticamos a conversa por mais de
hora, e evitando falar de corda em casa de enforcado, mas do momento e gente literária
da cidade – tempos de David Antunes, do professor Demóstenes, do professor
Salvador de Toledo Pizza, de Frei Marcelino de Angatuba e gente nova. Nem falamos de seu poema e música que se
tornaram hino da cidade. Dele recebi
dias depois um soneto me dedicando (e que foi publicado em seguida no
Jornal). Despedimo-nos. Ele tornou pelas Morais Barros ate a Praça
José Bonifácio, derrubado dentro de seu jaquetão escuro e contra o sol, passos
marcados. Eu fui completar o que
trouxera à redação do Jornal.
Fim de ano
mudei-me para são Paulo, estudar. Porém
por algum tempo ainda mantivemos correspondência, ele mandando-me seus poemas
que avulsos os editava, eu devolvendo-lhe aqueles que eu remendava.
Um dia chegou-me
Carrilhões, volume onde somava sua
obra até ali. Fiz-lhe à época um
esticado comentário, que não consegui que se publicasse no Jornal, por motivos
e humores do Dr. Losso.
Daí perdemos
contato e só soube de sua desistência daqui, anos mais tarde, via David
Antunes, que se trocara por Campinas.
Isso de minha
parte.
Irineu
Volpato
REPORTAGEM*
(a Irineu Volpato)
Newton de A. Mello
Vem perto o dia. Salve a
madrugada!
A passarada, em festa pelos
ninhos,
com semifusas, vuotas e
fermatas,
sacode matas, bosques,
caminhos.
O rio, beijando da colina a
fralda,
é uma esmeralda líquida a
rolar
por entre as pedras de ouro e
de berilo,
calmo, tranquilo, procurado o
mar.
Vem perto o dia! Mais altura
ganha
a alta montanha, cuja
silhueta,
qual uma enorme faixa de
safira,
ao céu atira chispas de
cometa.
Findou-se a noite! Pássaros
bonitos,
brindai com gritos o
acontecimento!
surgiu o sol no píncaro da
serra,
saudando a terra lá do
firmamento!
*Este poema foi escrito por
Newton de A. Mello para Irineu Volpato e foi publicado na coluna Crônica Social
do Jornal de Piracicaba em 1º de maio de 1956
* *Irineu Volpato discorreu sobre vida e obra de Newton de Mello no Poesia ao Vento - SESC Piracicaba
Nenhum comentário:
Postar um comentário