Marisa F. Bueloni Cadeira no 32 - Patrono: Thales Castanho de Andrade |
Se existem claros sinais dos tempos, eles nos levam à contemplação. A alma percorre os caminhos insondáveis, buscando por profundezas, profecias, segredos e mistérios.
O dia é feito de luz, de uma textura homogênea, desde a manhã até o último raio de sol no horizonte. A alma se extasia nesta luz, por isso se casa tão bem com o dia e anima-se ao primeiro anúncio do alvorecer.
Alma e dia: ambos se entendem intimamente e ao menor ruído se recolhem. Desejam a paz suspirante das brisas, a quietude para se ouvir sons celestiais, vozes de anjos sussurando pressurosas. O céu se abre no pensamento e revela seus esplendores, a corte celeste, as moradas dos justos, as almas dos santos, seu amor e sua paixão para com Aquele que é o verdadeiro Amor. Escolha dos que abraçaram a cruz e o sofrimento como graça, no caminho espinhoso e íngreme, sofrendo a “noite escura do espírito”.
Oh, a longa noite da subida! A noite se contrapõe ao dia e se basta em si mesma, certa de que a humanidade a aproveita no sono reparador. Mas há o contigente que vive suas ilusões, excitado pelas luzes do noctívago transe. De dia, as duas partes se encontram, ambas exaustas dos sonhos e lutas.
Todos lutamos, mal rompe a manhã. O dia traz o rumor das expectativas; a noite se fecha em sua própria vastidão. A noite nem sempre apaga a luz. Acendem-se, então, as estrelas no céu de cada coração. Supomos que muitos corações vivam o céu dentro de si, porque semearam amor e caridade, podendo colher os frutos da paz.
O dia revela realidades visíveis, delícia dos olhos e dos sentidos; a noite nos aproxima de nós mesmos, num relacionamento natural. Para a “noite escura do espírito”, apresenta-se o “dia claro da alma”, força para o bom combate, ímpeto para pés que reiniciam a marcha primitiva e sobem, em silêncio, a santa montanha. Há uma multidão a caminho.
Nos gestos das pessoas, nas vozes e nos olhares, há um frêmito constante, nervoso, necessário. No passo de quem vai cantando uma canção, de quem assobia, de quem anda como que indo ao encontro de algo especial. No entanto, por mais ansiosos, inquietos ou sonhadores pareçam os que caminham, cada um sabe para onde deve ir, o que fazer, como se comportar diante dos problemas. Cada um sabe o que é melhor para si, numa sabedoria congênita. É o que mostra, quase sempre, a humana face.
O dia é feito de luz, repito. E a noite a guarda para a manhã seguinte. Neste entreato contínuo, recomendo minhas intenções. Entre elas, digo assim: descansa, corpo meu, e recupera-te. Descansa, corpo, porque não sabes nada acerca do próximo ato. Mas combate de dia, como filho da luz.
Descansa, corpo, que a alma está mergulhada no asssombro da espera e do desconhecido aviso. Uma multidão espera e tu estás ali, no meio, qual cabeça perdida na aglomeração dos pescoços levantados, olhando para o céu. Olha também nesta direção, como fazem tantos. Ergue tua cabeça, acalma teu coração e olha em direção do Altíssimo, que habita as santas alturas.
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