Acadêmica Myria Machado Botelho Cadeira n° 24 - Patrona: Maria Cecília Machado Bonachella |
Não deixou de ser impactante a atitude de alguns de nossos artistas, os
músicos e compositores Caetano Veloso, Chico Buarque, Roberto e Erasmo Carlos,
Gilberto Gil, Milton Nascimento e Djavan, alguns deles ligados e conhecidos por
seus pronunciamentos públicos em favor da liberdade e da livre manifestação do
pensamento. O grupo, autodenominado
Procure Saber, além de exigir autorização prévia para qualquer biografia, ainda
sugere o pagamento de royalties aos biografados ou seus herdeiros. Embora mais
recentemente, após a saraivada de protestos, de cobranças, de gozações e de
argumentações incisivas e certeiras provindas das redes sociais,da imprensa
falada e escrita, de entrevistas de escritores e biógrafos conceituados, eles
tenham tentado atenuar o impacto com declarações que não convenceram, a
fogueira cruzada já crepitava bem alto.
Roberto
Carlos, numa entrevista concedida ao programa Fantástico de domingo passado,
disse e não disse em sua fala plena de ambigüidades e de evasivas que não
convenceram, acabou por declarar que é a favor das publicações sem autorização
prévia; no dia seguinte, entretanto, segunda-feira , no programa Roda Viva da
TV Cultura, seu biógrafo, Paulo Cesar Araujo, cuja excelente biografia (
Roberto Carlos em Detalhes) foi
retirada da circulação em todo o
território nacional, explicou também em detalhes a maneira apressada e
injusta de como ocorreu esta proibição
que lhe custou muito trabalho, algumas décadas de pesquisas e de finalizações.
Se o artista mereceu todo esse empenho, este seria mais um motivo para que ele
se sentisse honrado e agradecido ao escritor que se interessou por ele.
Contradições
à parte, é preciso acentuar que um artista, à luz da história, é uma figura
pública; ele não se pertence e sua privacidade é relativa pois é através do público que ele se torna
conhecido. A liberdade de expressão não pode aceitar uma ditadura de biografias
“chapa branca”, desde que sejam verazes e sem danos morais à imagem dos
biografados. Creio que está faltando no caso um debate mais amplo entre as
partes, no sentido de que se estabeleça esta importância na formação cultural,
moral e intelectual dos povos.
É
através dessa formação que se aprende a história e a vida de homens e mulheres
que conquistaram a fama por suas vitórias e seus feitos, também por suas
atrocidades e seus desvios. As revoluções e as guerras, as descobertas e os
inventos, as criações múltiplas da beleza da arte em suas mais variadas formas,
permeadas por fracassos e superações,
por atos heróicos e pusilânimes, desde que somos todos feitos da
mesma massa e somos humanos não chegariam até nós e nosso conhecimento, não
fora o empenho dos artesãos da palavra e
da escrita....
Quero
crer que nossos queridos artistas reconsiderem sua atitude absurda, ditada
talvez por um excesso de vaidade ou por uma convicção muito radical de si
mesmos, quando na realidade sua
trajetória de vida e seu protagonismo se misturam com os nossos e também
pertencem a cada um de nós.
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