Marisa F. Bueloni Cadeira no 32 - Patrono: Thales Castanho de Andrade |
Houve uma vez um Natal e ele era um
sonho. Todos os sonhos de Natal estavam dentro de mim e eu estava dentro deles,
numa espécie de osmose espiritual, que revolucionou os elementos à minha volta
e me levou ao êxtase sublime.
Nada aconteceu. Foi uma vertigem de
nadas. Contudo, era um Natal que eu esperara com todas as minhas forças e ele
não veio. A data chegou, mas o Natal não. Eu procurei pelos quartos da casa e
não havia mais o que eu buscava. Ainda que o cheiro dos frutos e guloseimas
natalinos ardesse nas minhas narinas.
Parando diante dos porta-retratos, das
fotos dos meus lindos que já partiram, perdi-me entre as inúmeras recordações.
Épocas em que o espírito natalino enchia nossa alma de alegrias. Meu pai e
minha mãe no comando de tudo, pessoas amadas em volta de uma mesa maravilhosa.
Vultos que hoje são lembranças de um passado tão belo e tão intenso!
Mas a festa
singela que agora crescia dentro de mim possuía uma outra forma e era esta que
eu buscava. Não mais o Natal das ceias e comidas fabulosas, dos doces
e sobremesas
fantásticas. Brindes, presentes, barulho, ruídos. Não. Às vezes, desenhamos uma
noite natalina silenciosa dentro do nosso coração.
Então, meu
peito ansiava apenas por um presépio que me trouxesse a manjedoura de palhas, o
Menino envolto em panos, Jesus, Maria e José. Desejava ver os pastores e as
ovelhinhas. O ambiente da noite fria no estábulo, a estrela-guia completando a
cena tão doce. Desejei ardentemente esta doçura que se perdeu ao longo do tempo.
Eu queria o próprio tempo.
Naquele momento tão íntimo, as
lágrimas me trouxeram o que eu procurava. Meu pranto se transformou em pura fé.
Caminhei pela estradinha até Belém, e o gramado que eu via era uma planície
onde deitar a alma para repousar em verdes pastagens, como no Salmo 23.
Havia
algo na bruma do tempo, uma gruta, talvez. Algo para se olhar de longe,
intocável e sagrado.
Eterno Natal, não se perca mais de
mim! Volte sempre, por favor. Seja para mim esta data em que me recolho para
pensar em Deus e naqueles a quem amo de todo o meu coração.
Nos que já partiram, mas se tornam cada vez mais presentes.
Neste Natal, quem tiver condições de
sair distribuindo panetones e brinquedos, que o faça. Haverá mil mãozinhas à
espera deles. Se for possível pedir perdão ou perdoar alguém de modo especial
e, se houver a reconciliação, este será certamente um feliz Natal.
Quero lhe
dizer: eu gosto de você, caro leitor. Mas não sei muito bem quem você é; não
sei como vive; o que pensa da vida e do mundo. Se quiser me contar, estou aqui.
Gosto de você e não quero amá-lo só porque é Natal. Que seu coração se encante
em todos os dias do ano.
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