Marisa F. Bueloni Cadeira no 32 - Patrono: Thales Castanho de Andrade |
Não sei se tenho o que se poderia chamar de “melhores textos”. Às vezes, noto que alguns são melhores que outros, pela reação dos leitores. Aí vejo que peguei a turma na veia. Os e-mails me dão uma medida do que escrevo.
Bom, a gente não pode ter essa presunção, que pode ser tola, pedante. Ou que pode ser humilde e sincera. Apenas um auto-reconhecimento (tem hífen?) de que talvez tenhamos produzido algo que valeu a pena.
Enfim, dou sempre uma volta para chegar onde quero. É o meu jeito simples de ser, de viver. Que mania essa de sempre ter de me explicar. Alguém explica? Nem Freud explicou direito. Ficaram algumas lacunas, não?
Bom, meus “melhores textos”, se os tenho, foram escritos em um surto que eu chamo “do bem” (ui!). Sim, aquele. É uma maravilha quando se tem consciência e controle sobre ele. Alguém perguntou que febre me ataca em certas crônicas. É o surto amigo que me assalta e o teclado todo não é suficiente para meus dez dedos ágeis, pois digito com os dez, fiz datilografia aos 12 anos, pratiquei em máquina de escrever até o surgimento do computador e tive uma Olivetti Lettera 32, cor-de–rosa, companheira e cúmplice. Se eu fosse pra cadeia um dia, levava ela comigo.
E quase fui. Sim, nos anos 80, fui processada pela Lei de Imprensa. Por um ponto de exclamação, acredite. O diretor do jornal, juntamente com o editor da página de recadinhos que fazíamos aos domingos e eu. Os três mosqueteiros. Um por todos, todos por um!
Numa contenda com o prefeito, o diretor de um jornal onde eu colaborava publicara uma frase considerada tendenciosa, por causa do ponto de exclamação no final. Foi processado pelo ponto exclamativo. O editor da página dos recadinhos e eu, solidários, entramos na onda, brincamos com o assunto e acabamos arrolados no processo.
Concluindo: “tocamos piano”, comparecemos à audiência no Fórum, fomos defendidos pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas, que veio de São Paulo para nossa honra, e fomos todos absolvidos. Glória das glórias.
Mas meus “surtos do bem” é que são maravilhosos. Eles me levam a fazer coisas que eu não faria sem esta pequena e deliciosa alteração mental. Eles me salvam em momentos incríveis e, na minha sanidade, me dão uma noção de quão vasto e louco é este nosso mundo.
Quando o “surto do bem” ataca, podemos ficar ousados e valentes, falamos muito, mais que o normal, e temos um poder imenso. Sim, nos achamos o máximo, somos capazes de proezas inimagináveis, sentimos uma força extraordinária, exterior e interior. Mas com o exato domínio e controle de tudo.
Este fenômeno deve vir do fundo dos neurônios, fruto de um processo químico e emocional que se auto-interage e cria um impulso elétrico formidável e fenomenal dentro da gente. Lá, lá. No cérebro nosso amado de cada dia. Santo cérebro, padre Otto!
Faz tempo que não sinto a maravilha desta natureza. Ando muito cautelosa com tudo e a realidade me faz pisar no freio. Ai, ai, ai... Melhor surtar?
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