Marisa F. Bueloni Cadeira no 32 - Patrono: Thales Castanho de Andrade |
Comecei a escrever um texto nos dias anteriores às chuvas de fevereiro. Enquanto a chuva não vem... Pensava nas estiagens da vida, na aridez de tantos gestos, nas mortes de quem morre tão inocentemente, nas dores e lutas de todos nós.
Desde que começamos a enfrentar a atual situação de escassez hídrica, houve uma espécie de consciência popular, preocupação real com o assunto, um interesse verdadeiro pelas causas deste desastre e como combatê-lo.
Tanta gente importante e competente já deu seu parecer. Teve grande impacto a entrevista do biólogo que explicou o fim do cerrado e o quanto isso implicará na falta de chuvas para a região sudeste. Já não há mais dúvidas de que o desmatamento da floresta amazônica também desviou de nós as chuvas abençoadas e necessárias.
Onde buscar as chuvas, senhores? Onde elas estão? Sentiremos saudades eternas das semanas chuvosas de janeiro e fevereiro, quando a natureza cumpria seu ciclo e nada faltava?
Enquanto a chuva não vinha, sofismava aqui com meus botões o que será de nós, pobres mortais, sem a água. Nossos governantes parecem não saber aonde enfiar a cara, quando tentam explicar o inexplicável com relação à crise hídrica.
Os bairros populosos das grandes cidades continuam imundos, os bueiros entupidos e, a cada chuva de meia hora, os alagamentos mostram a imensa quantidade de lixo boiando em toda parte. Todo ano as tragédias se repetem. Vemos na tevê as casas com barro na porta, os moradores de rodo na mão e olhares perdidos na desesperança.
Sim, o cidadão deve se perguntar, indignado, o que é feito com os impostos que ele paga. De que forma tais tributos são revertidos para o bem da população, para o cuidado com a qualidade de vida das pessoas, com a limpeza das ruas da sua cidade.
Enfim, as chuvas apareceram. Não o esperado, não o suficiente para encher os reservatórios, tão vitais para o abastecimento das cidades, mas foi melhor que nada, como se diz. O céu fica carregado, as nuvens escuras ou brancas, prenunciando que vai cair um dilúvio. Às vezes, cai mesmo.
O rio Piracicaba, quando chove, volta a ficar caudaloso e recebe a visita de turistas. Mas trata-se de um fenômeno passageiro. O rio voltará a secar e a mostrar suas pedras nuas, quando a estiagem chegar. Há problemas sérios que envolvem a recuperação do nosso rio. São necessários investimentos e ações que de fato impactem na preservação deste nosso belo manancial.
Enquanto a chuva não vem, rezo para ela vir, pois necessitamos deste maravilhoso dom da natureza. A arrogância humana e seu olhar fixo no poder econômico já sentiram na pele os efeitos de sua sanha maléfica.
O que mais falta para o homem tomar consciência de que existe uma lei maior que nos rege a todos? Quando se interfere no ciclo natural da vida, quando se retira a mata ciliar de um rio, quando se acaba com um tipo de vegetação, as consequências são gravíssimas. E isso é só o começo.
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