Ivana Maria França de Negri
Quem já ouviu falar do Nhô Lica? Os mais
antigos devem se recordar desse personagem pra lá de curioso, mas os mais
jovens não têm ideia de como surgiu essa figura lendária e folclórica que viveu
em Piracicaba.
O escritor e poeta, Francisco de Assis
Ferraz de Mello, o nosso querido Chico Mello, por ter algum parentesco com Nhô Lica, escreveu um livro contando a vida desse homem incomum, que por um tempo
morou com sua família. Seu nome de
batismo era Felix do Amaral Mello Bonilha. Dizem que nasceu normal, e viveu
normalmente até um raio cair sobre sua cabeça e ele ficar com um certo
desequilíbrio mental. Passou para a história como o sonhador que garimpava pedras
preciosas, que nada mais eram do que pedregulhos, mas se considerava o homem
mais rico do mundo!
Quem de nós nunca colecionou
“preciosidades” que só têm valor para nós mesmos? Minha irmã Fernanda coleciona
canecas e objetos de gatinhos - eu
também tenho esse tipo de coleção, pois amo gatos. Minha amiga Carmen coleciona
xícaras, de várias épocas e países, uma mais linda do que a outra.
Existem colecionadores das peças mais
bizarras e inusitadas. Tem gente que coleciona selos, tampinhas de garrafas,
latinhas, sacolas, bonecos, moedas, adesivos, ímãs de geladeira, enfim, tudo
pode ser colecionado e isso acaba virando um hobby e às vezes, uma obsessão!
Tem até quem colecione esposas ou maridos...
Pois bem, o Nhô Lica colecionava pedras
preciosas. Só que eram pedregulhos comuns, que recolhia das ruas e da beira do
rio, mas que para ele, eram valiosíssimos. E os levava ao banco para que o
gerente os guardasse. E o gerente, com todo respeito, aceitava e depois,
certamente, dava um fim. Ele costumava doar as pedras “preciosas” para a igreja
também, achando que estava contribuindo com a paróquia. Dizem que o Monsenhor
Rosa as guardava. Um dia essas pedras foram colocadas no alicerce da construção
da catedral, como um tributo ao sonhador Nhô Lica que faleceu em 1954.
Na lápide de seu túmulo, no cemitério da
Saudade, está escrito: “Milionário de Ilusões”. Em seu livro, “O lendário Capitão
Nhô Lica”, Chico Mello diz: “E assim o homem, que pela vida sonhou com
brilhantes, após a morte repousa sob a maior de todas as suas pedras. E para
sempre. E em paz. Foi construído por uma ação entre amigos. O grande milionário
não teria dinheiro para adquirir uma só das pedras.”
Confesso que também tenho minhas
preciosidades. Uma azeitona que colhi de
uma oliveira numa praça de Verona, um figo que veio da Turquia, que
“roubei” de uma figueira de um sítio arqueológico, uma folha de plátano do Central
Park de Nova Iorque, um raminho de lavanda de Gramado, uma pinha da Ilha da
Madeira, uma amarula da África do Sul, conchinhas das praias que frequentei na
infância, e por aí... As frutinhas se mumificaram, mas quando as pego, parece
que adquirem vida, relembro onde as capturei, o local, sinto até os perfumes e
emoções do momento!
Tenho uma pasta só com desenhos dos meus
filhos quando crianças e os cartões que me ofertaram. Sei que essas coisas só
têm valor para mim. Um dia quando eu não mais estiver por aqui, serão jogadas
fora, pois ninguém vai imaginar que se tratam de preciosidades, de valor
inestimável!
Por essas e outras é que afirmo, somos
todos Nhô Lica, com nossos sonhos, nossas verdades, nosso mundo de quimeras, nossos
tesouros, e nossas pequenas (ou grandes)
loucuras...
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