Ivana Maria França de Negri
Mais um livro do Cecílio Elias Netto que
chega de presente ao povo piracicabano pelos 250 anos da cidade. Mais uma pérola para
o colar refulgente de histórias para adornar a Noiva da Colina.
Em seu breve discurso, no lançamento
para a imprensa, Cecílio diz que não concorda com a assertiva atribuída a
Thomas Edson de que a genialidade é 90% transpiração e apenas 10% inspiração.
Eu também sempre discordei. Acredito que 90% é mesmo inspiração, pois ela
grita, lateja e esperneia dentro da gente querendo libertar-se, e quando livre,
nascem as obras mais sublimes e encantadoras.
Penso que seja um sopro divino, ou dos
anjos, ou de espíritos iluminados que
habitam outra dimensão, mas nos sussurram diretamente à alma. E essa inspiração
chega a qualquer momento, sem pedir licença, de dia, de noite, durante afazeres
diários, numa missa, num concerto, numa viagem, até dormindo elas conseguem nos
arrebatar em sonhos.
Nenhuma obra nasce se não for do Amor. E
esse amor desvairado, Cecílio tem pela terra em que nasceu.
No princípio era só o rio, suas águas e
peixes e as matas virgens. E vieram os índios e depois o homem branco. E a
história foi se formando, se entrelaçando. Tantos heróis, valentes guerreiros,
tantos humildes e trabalhadores, tantos visionários, tantas mulheres
batalhadoras, tantos pacifistas, tantos empreendedores, cada qual com sua luta,
com seu labor, deixando legados preciosos para a descendência. E tudo isso
Cecílio vem resgatando, a História viva, pulsante, muitas vezes escrita com
lágrimas, suor e sangue.
O bichinho do piracicabanismo o mordeu
desde tenra idade, talvez, desde o nascimento, quando aqui enterraram seu
umbigo. Esse bichinho costuma cravar os dentes nos artistas da terrinha, que sempre louvam a cidade e seus encantos,
em músicas, poesias, prosas, pinturas, esculturas, teatro, em todas as artes.
Cecílio, um eterno apaixonado pela
história, pelas lendas e crendices da sua Piracicaba, pelo povo de todas as
épocas, pelos ipês brancos, amarelos e rosas explodindo em flores, pelo rio
caudaloso e barrento e seus peixes saltando na piracema, pelo verde dos
canaviais, até a gastronomia entra em sua paixão, o cuscuz suculento, a pamonha
quentinha e tantas outras delícias. Sem falar no sotaque caipiracicabano que
ele exalta em seu antológico “Arco, tarco e verva”.
E foram surgindo as pérolas: “Piracicaba
que amamos tanto”, “Um rio que passou em minha vida”, “ A Doçura da Cana”, “A
Florença Brasileira”, e tantos outros
nesta longa estrada. Caminha nela como a Doroty do Mágico de Oz, seguindo a
trilha de sonhos dos ladrilhos dourados.
Enquanto um escritor gesta seu livro, num
estado de torpor e introspecção, é só dele, aninhado em sua mente como num
útero quentinho. É só amor. Desses amores que arrebatam e deixam em êxtase. Mas
depois de impresso, passa a ter asas e voa.
E já não é mais seu, é do mundo inteiro!
* Texto publicado na GAZETA de PIRACICABA - 28/01/2018
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