Uma
mulher muito inculta, pois não sabia ler nem escrever, vivia com sua vidinha
modorrenta e tinha como companhia os bichos que rodeavam sua casinha de sapé.
Ela não era da época das cavernas, mas bem que parecia. Era uma mulher simples,
sem cuidados, higiene e elegância. Banhos eram tomados quando o corpo começava
a coçar demais! Ela tinha receio de
afogar os bichos de pé. De vez em quando precisava tirar os bichos de pé que
iam engordando por dentro da pele grossa dos seus pés, e os dedos inchavam por
demais causando uma comichão de dar dó. Então ela pegava um espinho de Cristo que
margeava a cerca caída e ia cutucando, cutucando até que o baita saía espetado
no espinho usado como agulha.
“Há... mais que cocerinha boa de coçar,” dizia
ela fechando os olhos em puro deleite. Esse comichão durava uma boa hora, sendo
esfregado com insistência até enjoar. Em cima punha um pouco de fumo e pronto
era só esperar que logo, com o tempo, viriam outros inquilinos porque seus
porquinhos andavam a vontade pelo chão batido da tapera.
Na
parede esburacada de pau a pique uma folhinha pendurada, mas quase caindo,
indicava que era dia de São Antonio e ela precisava ir para a cidade pagar uma
promessa na igrejinha do bairro, para pedir um marido e para comprar um espelho
que nunca havia “ ponhado os zóio” e não sabia bem o que era esse “ tar de
espeio”. Sonhava com um “bão fandango a quarquer hora, de noite e até de dia
com um home só pra ela “pru que aqui ta fartano.”
Suspirou
e pensou “que ele me desse uma troca de ropa cheia de frô miudinha, e fosse violero,
pra nois ajunta os trapo, e de manhã eu pode coar o café pra ele.
Ela
tinha sonhos como toda mulher!
Assim
foi ela caminhando à pé até a igrejinha e em frente dela tinha uma barraquinha
de bugigangas e entre elas um espelho grande.
Quando
ela se viu no espelho perguntou para a vendedora:
-Quem
é essa bruxa do quadro chamado espeio?
_É
você mesmo! Veja, aqui sou eu, e virou o espelho para si mesma.
Um
violeiro ia passando e lhe disse: Não acredite nela, veja agora quem está no
espeio?
_
Ora, um home bunito!_
-
Ela tá querendo enganá oce, disse ele.
E...passando
a mão na sua anca disse:
_
Oce é muito bunita, qué mora com eu, sei também toca viola e sou cheio de viço
a quarqué hora.
Lá
se foram os dois de braço dado, entrando na igrejinha para agradecer ao santo
milagroso. E Santo Antonio até sorriu ao vê-los ajoelhados com cara de
apaixonados!
Quem
ama o feio, bonito lhe parece!
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