Edson Rontani Junior
Cadeira n° 18 - Patrono: Madalena Salatti de Almeida
Cadeira n° 18 - Patrono: Madalena Salatti de Almeida
Recentemente, numa sala de espera,
uma pessoa manuseava seu smartphone fotografando algumas cenas que por nossa
frente ocorriam. Na piscina de um clube, duas jovens abusaram dos selfies, de
forma frenética, como se a câmara fosse um brinquedo de outrora.
O mercado lançou smartphones de uma
forma tão absurda que acabou criando o efeito da banalização fotográfica. Não
que isso seja errado. Ter acesso aos avanços tecnológicos é uma situação
inevitável e a popularização da fotografia nos remete à
instantaneidade tão almejada pelo homem.
Desde que lançada,
a fotografia exigia habilidade,
conhecimento, dinheiro e utilização de máquinas grandes e pesadas. Vale lembrar
dos lambe-lambes e das máquinas fotográficas tipo “caixão” com lente reflexiva.
A máquina
fotográfica virou opção de “bolso” já nos anos 60, mas se popularizou nos anos
70 e 80 com as nostálgicas Instamatic da Kodak com flashes descartáveis que conseguiram
iluminar quatro “poses”. Ainda nos anos 70, a instantaneidade veio com a
máquina Polaroid. Fotografar e revelar na própria máquina era algo fantástico.
Cabe lembrar que a fotografia antiga, ainda revelada em papel, demorava dias
para que nos fosse entregue, uma vez que o negativo era levado à loja, passava
por processos químicos, ampliado e
depois devolvido. Até tempos atrás era possível assistir este processo das
vitrines de uma loja do Shopping !
A fotografia, desde sua
criação, lá pelo
longínquo ano de 1826, sempre foi um
artigo de luxo. Era acessível a poucos. Sua popularização no Brasil veio pela
família real através de Dom Pedro II. Materiais para fotografar e revelar
viajavam de navio, da Inglaterra ou da Alemanha. Foi Dom Pedro quem importou as
primeiras máquinas e financiou a vinda de profissionais europeus como Marc Ferrez
ou Louis Compte.
A princípio, a ideia de preservar
aquele instante para o futuro era algo mágico. Houve até quem dissesse que a fotografia
roubaria a alma do fotografado. Sim. Falou-se até que aquilo era bruxaria.Antigamente, a foto era feita ao ar livre, para
aproveitar a luz natural. Não era permitido mexer, pois qualquer movimento
borraria o retratado. Daí a questão de aparecermos sérios nos documentos de
identificação. Não há lei que nos proíba de ter uma foto sorrindo no RG, o que
existe é um tabu criado pelo “olha o passarinho e não se mexa!”.
Fato curioso são as “mães fantasmas”,
encobertas por mantos escuros segurando fi lhos para não borrar a fotografia, já
que eram necessários incansáveis segundos – ou até minutos – sem respirar. Fotógrafos chegaram a ser coadjuvantes de
luxo ao lado das debutantes e de jovens noivos. Os álbuns demoravam para serem
ampliados e revelados, angustiando as famílias. Porém, um álbum sempre foi
motivo para reunião familiar. Quanta gente não se reuniu ao redor de um deles para
juntos ver as fotos, após a macarronada de domingo ? Este, aliás, é outro
hábito que caiu em desuso.
Piracicaba teve inúmeros profissionais
que defenderam e defendem esta arte, entre os mais contemporâneos que já partiram
Isolino Nascimento, Henrique Spavieri, Diógenes Banzatto,
Lacorte, Cícero Correa dos Santos...
Quantas lojas também nos
ajudaram a manter
a magia, com
suas revelações? Bischof,
Budasom, Cantarelli, Iris Jetcolor, Outsubo...Se pegarmos fotos do século 19, notamos que um dos
principais adereços dos “retratos” estava um livro, símbolo da sabedoria, ícone
de que o retratado era de uma casta privilegiada, pois o ensino ainda não era
obrigatório no país, ou seja, acessível a uma pequena minoria. Hoje a máxima empregada
no Facebok: “um dos primeiros astronautas ao pisar na Lua tirou com muito custo
sete fotos; adolescente foi ao banheiro do shopping e diante do espelho ...
tirou 47 fotos fazendo biquinho !”.
Não há bastão de
selfie que nos salve !
Nenhum comentário:
Postar um comentário