Lídia Sendin
Julia
tomou nos braços, com carinho, a velha boneca de pano. Muito colorida, pois
fora feita de retalhos, chamava-se Emília, como a da história que ela tão bem
conhecia.
Sua
avó, costureira que era, havia feito a boneca dos retalhos que lhe sobravam.
Espiando
lá fora, conversava com a boneca sobre a chuva fina que caía incessante durante
a manhã, enquanto espremia seu nariz arrebitado contra o vidro da janela: -
sabe, Emília, as plantinhas me disseram que gostam muito da chuva, mas não dá
pra brincar no jardim, né?
Sua
mãe, espiando sorrateira pela porta, sorriu balançando a cabeça, admirada que a
pequena “ainda” falasse com as bonecas.
Pelo
canto dos olhos a garota viu a reação da mãe. Ofendida, abraçou a boneca e
continuou a brincadeira, resmungando baixinho.
Na
cozinha, às voltas com a receita nova que preparava, a mãe lia em voz alta os
ingredientes da massa.
De
repente, uma risadinha sapeca tirou sua concentração, era a filha espiando a
mãe a falar sozinha: - com quem você falava mãe?
Meio sem jeito, tentando se
justificar, disse: - Converso com os meus botões, menina, vá brincar!
A
garota voltou para o quarto batendo os pés: - se minha mãe pode falar com seus
botões, por que eu não posso falar com minha boneca!?
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