Thales Castanho de Andrade: 130 anos de nascimento
Vitor Pires Vencovsky
Presidente da APL
No
próximo dia 15 de setembro serão comemorados os 130 anos de nascimento do
piracicabano Thales Castanho de Andrade. É uma data importante que merece ser relembrada
e comemorada pela grande contribuição que esse educador representou para o
desenvolvimento da literatura brasileira.
Foi
um dos pioneiros da literatura infantil, principalmente à relacionada ao tema
ecologia. Estava muito adiantado para a sua época, pois priorizava em suas
publicações a importância do uso adequado dos recursos da natureza para evitar
o desequilíbrio dos ecossistemas.
Sua
obra literária, composta por quase 50 publicações, foi desenvolvida numa época
em que o país era uma sociedade agrícola ou agroexportadora, portanto, o ensino
rural era fundamental para atender os filhos dos agricultores. Suas publicações
destacavam que a preservação do Meio Ambiente era condição fundamental para a
manutenção da produção agrícola. Seu livro O Fim do Mundo é o único que não tem
um final feliz, pois o mundo chega ao seu final justamente pela não manutenção
do equilíbrio da natureza.
Thales
Castanho de Andrade atuou por 31 anos como educador, 4 anos e meio como
assistente técnico do ensino rural e 7 anos e meio na Diretoria Geral de
Educação do Estado de São Paulo, sendo um de seus diretores. O trabalho de sua
vida reforça como é importante realizar uma educação básica fundamentada e de
qualidade, cujos investimentos nessa fase das crianças são os mais acertados
para garantir futuros cidadãos.
Saudade,
escrito em 1917, foi seu livro mais famoso, utilizado amplamente nas escolas na
formação do ensino fundamental até os dias atuais. O sucesso dessa publicação
rendeu inúmeros elogias à época: “Saudade fica sendo, de agora em diante,
indiscutivelmente o padrão da nossa literatura didática” (Sud Mennucci); “No
Brasil, país essencialmente agrícola, o Saudade é o livro ideal”; “No Estado de
São Paulo, terra da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, o Saudade é
o livro obrigatório”; “Em um programa de ruralização do ensino, Saudade é o
livro dos livros”.
A
data natalícia de Thales, considerado a maior criança-grande do Brasil, será
comemorada no mês de setembro com diversos eventos organizados pela Academia
Piracicabana de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba. No dia
15 será feito o relançamento do site www.thalesdeandrade.com.br, que contém grande
acervo de documentos, fotos e publicações. De Piracicaba para todos os cantos
do Brasil, Thales Castanho de Andrade continua sendo uma referência na
literatura infantil e ecológica.
A
filha da floresta
Carmen Pilotto
Descobrindo
Thales de Andrade
No
peito de um sonhador cabem florestas
Ora
fechadas em arbóreos pesados,
Ora
explicitas em clareiras rasgadas
E
de verde-vivo alimentam almas
Andando,
andando, rumo a oeste
Thales
atravessou cidades, vilas e povoados
Deparando-se
com a mata devastada
E
seus olhos se evaporaram em pranto
Uma
velha árvore permaneceu altaneira
Amparando
a deusa protetora da selva
Resquício
do saudoso recanto tranquilo
Última
aragem de uma esperança revitalizada...
Lembrando
Thales
Ivana Maria
França de Negri
A literatura infantil, quer escrita,
quer contada, é fascinante. Crianças adoram ouvir, ler e também contar
histórias. Seu imaginário é fértil e elas vivenciam as histórias lidas ou que
lhes são contadas.
O escritor piracicabano Thales Castanho
de Andrade, está sendo homenageado pelos 130 anos de seu nascimento, em
Setembro de 1890.
Autor de cerca de 50 obras, foi
precursor da preservação da Natureza numa época em que nem se pensava em
ecologia. Seus quatro livros da coleção “Encanto e Verdade” são verdadeiras
jóias que toda criança deveria ler. São eles: A Filha da Floresta, El Rei Dom Sapo, Bem-te-vi Feiticeiro e O Fim do Mundo.
Sua obra A Filha da Floresta fala sobre a devastação das florestas. El Rei Dom Sapo conta a história do Agapito, menino rejeitado e de má índole,
mas que depois de vários acontecimentos, muda suas atitudes e passa a ser um
defensor ferrenho da natureza. São obras belissimamente ilustradas pelo artista
Alípio Dutra e publicadas pela Editora Melhoramentos, dignas de serem adotadas
por escolas de todo o país, e divulgadas mais amplamente.
Minha neta Ana Clara, quando tinha
apenas 4 anos, adorava as histórias do escritor Thales Castanho de Andrade,
principalmente El Rei Dom Sapo. Meu
marido contou certa vez a historinha e ela gostou tanto que pedia a ele que a
recontasse todos os dias. O personagem Agapito era o seu preferido.
Certa vez, passeando pelo Shopping,
entramos numa livraria, e duas moças, contadoras de histórias, entretinham um
pequeno grupo de crianças. Com roupas coloridas, trejeitos e gestos
espalhafatosos para dar ênfase a cada frase, as contadoras pareciam mesmo
encantadoras de crianças.
Ana Clara se interessou pelas histórias
e sentou-se no tapetinho com as outras crianças para ouvir também. Quando as
moças terminaram, pediu: - “Conta agora a história do Agapito!”. As duas
contadoras de histórias se entreolharam. E ela continuou: -“meu avô sabe!” Ao
esclarecermos que era um personagem do livro de Thales Castanho de Andrade, elas
confessaram desconhecer a história e o autor.
Como duas piracicabanas que contavam
histórias não sabiam quem foi Thales Castanho de Andrade? Ele é considerado o fundador do gênero
infanto-juvenil, que antes era atribuído a Monteiro Lobato. Constatou-se que
Thales publicou o livro “A Filha da Floresta” em 1919 e Lobato editou
“Reinações de Narizinho” três anos depois, em 1922. Lobato foi destituído do
título que passou a ser de Thales.
O garoto Tiago, que foi alvo de matéria
na Gazeta, é uma criança que ama ler! E já “devorou” os livros da coleção do
Thales, sempre incentivado pela mãe Alessandra. E qual o presente que ele gosta
de ganhar? Livros! O amor pela leitura que se forma na infância, perdurará pelo
resto da vida.
A Associação Amigos de Thales, com muito
empenho e união, conseguiu a impressão
de três mil exemplares desses livrinhos que foram distribuídos nas bibliotecas
e escolas. E é preciso dar continuidade a esse louvável trabalho para que a
memória de Thales se perpetue e seu rico legado seja conhecido pelas novas
gerações.
Thales Castanho de Andrade
1891 – 1983
1891 – 1983
Ésio Antonio Pezzato
Se Thales não cresceu e sempre foi criança,
Por que tivemos nós de nos tornar adultos,
Perder do coração a efêmera esperança
E dos sonhos pueris esmagar nossos cultos?
Hoje dias sem sol nublam nossa lembrança
E fantasmas de dor arrastam os seus vultos.
A ciranda morreu e sepultou a dança,
Nossos sonhos azuis hoje seguem ocultos.
Se Thales mesmo adulto era um simples menino
E de cores povoou nossos sonhos dourados,
Em qual atalho foi que erramos o destino,
E crescemos sem fé, entre dores e miasmas,
Sem sorrisos de sol e sem sonhos alados,
E colamos em nós, máscaras de fantasmas?
Se Thales não cresceu e sempre foi criança,
Por que tivemos nós de nos tornar adultos,
Perder do coração a efêmera esperança
E dos sonhos pueris esmagar nossos cultos?
Hoje dias sem sol nublam nossa lembrança
E fantasmas de dor arrastam os seus vultos.
A ciranda morreu e sepultou a dança,
Nossos sonhos azuis hoje seguem ocultos.
Se Thales mesmo adulto era um simples menino
E de cores povoou nossos sonhos dourados,
Em qual atalho foi que erramos o destino,
E crescemos sem fé, entre dores e miasmas,
Sem sorrisos de sol e sem sonhos alados,
E colamos em nós, máscaras de fantasmas?
O
Encantador de Crianças
Elisabete
Bortolin
Thales Castanho de
Andrade, piracicabano da gema, fomos privilegiadas com tal presença em nossa
cidade. Oh! Thales, Saudade suas
entre nós que vivemos um momento de isolamento dentro de
nossas casas impedidas de sair às ruas por conta da pandemia. Quais novas
histórias você nos contaria sobre esses dias?
Você nos brindou com maravilhosas
histórias contadas com muita emoção. As crianças ficavam embevecidas ouvindo o
que acontecia com cada personagem dos seus livros. Que legado você nos deixou.
A Filha da Floresta se você vivesse em 2020,
veria as queimadas e incêndios volumosos acabando com nossa Amazônia,
dilapidando as árvores por conta da ganância de madeireiros. Oh! Thales ainda
bem que você não está presente para ver isso.
El Rei Dom Sapo, o que ele nos diria
das águas poluídas dos nossos rios Piracicaba e Tietê?
Bem Te Vi Feiticeiro, precisamos de seu
encantamento e feitiçaria para acabar com quem faz tráfico de animais em nosso
país. Os setores governamentais responsáveis, não tem dado conta de vencer mais
esse tipo de corrupção.
Bela, A Verdureira, se você soubesse quantos
tipos de agrotóxicos estão contaminando nossos legumes, verduras e plantações,
ficaria decepcionada.
Árvores Milagrosas, poderosas que nos dão
sombras, renovam o ar que respiramos, nos oferecem seus frutos e nos encantam
com suas flores. Ainda nos resta a esperança de replantar árvores ao redor do
mundo. As sementes da vida sempre se renovam.
Vida na Roça e Fim de Mundo,
voltar a viver na roça, saindo dos centros urbanos, muitas famílias tem feito
essa opção. Fugir desse concreto armado, quente, que sufoca e nos distancia da
natureza. Esse será o Fim do Mundo se a população não voltar a reconhecer o
valor da Vida na Roça.
Campo e Cidade, O Sono do Monstro que
quer devorar a vida de quem está submerso em sonhos de devastação. Assistindo
em redes sociais devaneios que se transformam numa realidade cruel.
Rainha dos Reis, Praga e Feitiço,
traz para nossas crianças a volta das brincadeiras de pura alegria como
pega-pega, esconde-esconde, amarelinha, cabra-cega, vividas ao ar livre sem a
contaminação das telas do universo digital de hoje, com gosto de sorvete de
isopor.
O Capitão Feliz, A Fonte Maravilhosa,
seria a água o elixir da vida, capitaneada finalmente por pessoas que sabem
cuidar da saúde da população?
Itaí, o Menino das Selvas, O Mistério das Cores,
Estamos num mundo onde o progresso quer derrubar todas as Selvas que encontrar
onde aprendemos que vida é cor, vibração e energia.
Flor do Ipê, O Melhor Presente,
que árvore magnífica é o ipê, um dos símbolos de nossa querida Piracicaba. Realmente
o melhor presente que recebemos foram todos esses livros como um legado para
nossa cidade através da Maior Criança
Grande do Brasil de seu venerável e honrado Professor Thales Castanho de
Andrade.
COMO SEU THALES SABIA?
Elda Nympha Cobra Silveira
Deitada no tapete
Apoiada em meus braçinhos
Lia avidamente “A filha da Floresta” e...
De repente...
Tudo se tornou confuso!
Como que o “seu”Thales “ Castanho de Andrade
Conseguiu escrever daquele jeito?
Ele não era mais criança!
Será que ele entrou no túnel do tempo?
Só nós entendemos os animais,
Claro são nossos amigos!
Só quem morou em fazenda
Conhece esse jeito gostoso de viver.
Ah! Para mim, e vou dizer para meus amiguinhos.
Ele ainda deve ser criança.
UMA HISTÓRIA VERDADEIRA
Aracy Duarte Ferrari
“...Cívicas lições de
amor a vida rural
respeito ao homem do
campo e orgulho pela nacionalidade...” (Senado...1990)
O professor Thales Castanho de Andrade, piracicabano,
ruralista número um, realizador de seus sonhos, foi professor e deu aulas na
rede pública de ensino,durante parte de sua vida. Foi pioneiro da leitura
infantil, conforme registro e elogio do escritor e amigo Monteiro Lobato e notabilizou-se
com romance juvenil, infanto-juvenil, chamado “Saudade”, escrito em 1918.
Em
suas obras, Thales deixou explícitas regras precisas para a proteção do meio
ambiente, alertando sobre as prováveis conseqüências, caso o ecossistema não
fosse respeitado e tratado corretamente. Era um intencionalista ecológico.
Ao
perceber, naquela época, a chegada rápida do desequilíbrio ecológico, iniciou
um trabalho direto com as escolas, propondo soluções viáveis para muitos
problemas, e toda a teoria e a prática desenvolvidas, estão inseridas nos seus
livros “Filhas da Floresta”, “Bem-te-vi”, “Feiticeira”, “Bela”, “A verdureira”,
“Árvores Milagrosas”, “A Fonte Maravilhosa” e “Flor do Ipê”, deixando bem claro o seu objetivo prioritário
de proteger o meio-ambiente.
Thales
soube, como ninguém, utilizar a habilidade de contador de histórias para
despertar a imaginação infantil, incessante e modificadora, preparando os
jovens para serem futuros defensores ecológicos em sua própria casa, local de
trabalho e na comunidade.
O
trabalho incessante do educador teve bons resultados mas poucos recursos foram
destinados, naquela época, para a ecologia, ou para alicerçar os seus projetos
pioneiros. Mesmo atualmente, quando a sociedade está muito mais preocupada com
os altos riscos que representam o desequilíbrio das forças da natureza, e acha
importante investir em projetos e dar suporte operacional a tudo que possa
proteger e recuperar o meio-ambiente, a obra de Thales de Andrade continua
relegada à segundo plano.
Brincando com textos de Thales
Ivana
Maria França de Negri
(Saudade
Fim do Mundo
A Filha da Floresta
El Rei Dom Sapo
Bem-te-vi
Feiticeiro)
Explorar
o Universo infantil
É
tarefa mais que sutil
Mesclar
sonhos com diversão
Encantamento
e paixão
A
magia da natureza
Envolve muita beleza
Há
também bichos falantes
Em sagas mirabolantes
Vive-se
muita aventura
Alegria
na forma mais pura!
E
o Bem-te-vi feiticeiro
Não
passa de um simples mateiro...
No
reino da fantasia
Um
Rei Sapo é só alegria
E
o garoto Agapito
Faz
na história todo agito
Luta
a Filha da Floresta
Contra
a devastação funesta
E
as Histórias do Fim do Mundo
Momento
de reflexão profundo
Mas
o mais belo, na verdade
É
o seu livro Saudade...
Thales
Andrade, criança grande...
Leda
Coletti
Todos somos
crianças grandes. Quem não tem sonhos?
Quando menos
esperamos, estamos a construir castelos na areia, como as quando estão nas
praias .Mas., a maré vem e eles se
desfazem....
Thales
Castanho de Andrade foi um sonhador. Seus sonhos eram ricos de idealismo e como
tais, não poderiam diluir como os castelos construídos em terreno arenoso e por
demais movediços. Para isso buscou um solo fértil - o da Educação-, conhecedor
que era das almas infantis e juvenis. Era autêntico educador.
Com
histórias, envolvendo personagens humanos, animais e vegetais, ele ensinou
ecologia a escolares, desde as primeiras décadas do século passado e continua a
fazê-lo nos dias atuais, através de suas
ricas obras literárias.. Associa a essas lições ecológicas, civismo e
fraternidade, passando-nos a mensagem da harmonia de se viver num mundo em que
todos se entendem e se juntam para preservar o que é bom: na natureza, no ambiente em que se vive e para o que lhe faz bem, sobretudo ao
coração.
Nós
piracicabanos rendemos um preito de gratidão àquele que semeando palavras a
granel, conseguiu produzir frutos que se multiplicarão pelas gerações
futuras.
Lufa-lufa de Dom Sapo
Carmen Pilotto
Brincando com
os títulos biográficos
de Thales de
Andrade
Saudade
Do
campo ou da cidade?
De
ler brincando o Campo Feliz
E
enxergar a estrela mágica
Como
o melhor presente
Ou
a caminho do céu
Sapos
coaxam entre árvores milagrosas
Visões
de encanto ou de realidade?
Saudade
Da
praga da cidade
Ou
do feitiço do campo?
Do
feitiço do campo?
Do
campo?
Saudade,
saudade
De
uma história de verdade...
Thales Castanho
de Andrade e eu
Cássio Camilo Almeida de Negri
Revolvendo os escaninhos de minha
mente, nos meus profundos “sankaras” desta encarnação, procurei pela primeira
história que eu me lembrasse de ter ouvido na vida.
Meus pensamentos foram progredindo
até a idade de quatro anos.
Me vi sentado no chão forrado com um
pano de algodão branco, parecendo um saco de açúcar alvejado. Pernas cruzadas,
e ao meu lado, uma jovem negra de uns vinte anos, também sentada na minha
frente, contando-me uma história.
Ela era semi analfabeta, mas conhecia
muitas narrativas e lendas, e eu adorava ouvi-la.
Vi essa moça negra, de riso fácil
envelhecer, tornar-se uma idosa e falecer aos 82 anos. Foi minha segunda mãe e
me acompanhou em toda trajetória de vida.
Mas voltando aos quatro anos,
sentado no saco branco alvejado, que ela dizia que era para eu não tomar a
friagem do chão de cimento vermelho, ela me contava a história do Agapito. Eu
conhecia a história de Thales Castanho de Andrade intitulada El Rei
Dom Sapo, como a história do Agapito.
Sempre que meus pais saíam para dar
aulas, eu ficava com ela, sentávamos nos panos e eu pedia:
-“Bá (o nome dela era Sebastiana),
você me conta a história do Agapito?”
Quando ela terminava, ainda me
contava as fábulas de Esopo, Branca de Neve, A raposa e as uvas, e também
contava as lendas de Piracicaba como a da Inhala Seca e do Capitão Nhô Lica. Mas
a que eu mais gostava mesmo era a história do Agapito.
Meus pais eram professores, e como
mamãe tinha sido aluna do professor Thales, tínhamos em casa o livro Saudade e
os pequenos livros ilustrados de histórias infantis. Eu observava as figuras,
como a do capítulo I e do capítulo XI, onde existe uma casinha, uma mulher
dando milho para as galinhas e um mastro de festa de São João no terreiro.
Eu me imaginava brincando feliz nesse
pátio poeirento de terra, esperando que a porta da casinha se abrisse e de lá
saísse o Agapito para brincar comigo.
Já um pouco maior, minha mãe contava
sobre Thales, seu professor, e até quando nos deliciávamos com a Cotubaína, ela
dizia que a fábrica era da família Andrade e ficava defronte à Escola Moraes
Barros.
Já adulto e avô, tenho saudades da
minha netinha Ana Clara pequena (agora adolescente) me pedindo:
“Vovô, conta a história do Agapito
para eu dormir?” E sempre, logo após Nhô Fidelis e Nhá Vicência terem
encontrado o bebê negrinho abandonado na porta de sua casa, ela já estava
dormindo...
Obs:
Quem ficou curioso para saber de toda história, leia El Rei Dom Sapo e todas as outras histórias desse escritor pioneiro,
e deguste as lições de ecologia em cada narração, na minha opinião, maior que Monteiro
Lobato. Só que este, teve muito mais propaganda e divulgação de suas obras.
FLOR DE IPÊ
Maria de Lourdes Piedade Sodero Martins
Entre ricas paisagens campestres
Nasce disputa de amor!
Dócil e gentil donzela
é cortejada por dois:
um jovem, sensato rapaz
e um senhor “cobiçador”!
Ambos, aos fins de semana,
visitam a família feliz:
o sincero apaixonado
e o velho galanteador!
De olhos na bela garota
O “duo” não se contém.
Cada qual à sua maneira
na luta por conquistá-la
exibe, naturalmente,
o que lhe passa na alma!
As imagens, gestos mostrados
revelam os sentimentos...
Final da história, só lendo!
À custa de aposta sutil,
e “pacto” bem humorado
vence o amor, a felicidade
ao abraço das flores douradas
do cupido Ipê Amarelo!
Um encontro
inusitado no presente/passado
Christina Aparecida Negro Silva
Jamais
me esquecerei daquela tarde de verão...
Descia
desanimado a rua que ladeia o rio Piracicaba, observando o triste fio d’água a
tentar encobrir as pedras do Véu da Noiva, cachoeira sem água, ossatura de pedras
brancas, consequência do excesso de produtos químicos nas águas do rio, quando,
perto do Museu da Água, ouvi um farfalhar de folhas nas poucas árvores dali.
Sem nem eu mesmo entender o porquê, desci o barranco e me encaminhei para onde
o som do canto de um sabiá me indicava.
Momento
estranho, as poucas árvores tornaram-se frondosas, o mormaço da tarde foi
trocado por um frescor verdejante e vi, a poucos metros de mim, um menino que
parecia procurar algo no chão, coberto de folhas secas e flores. Flores? Mesmo
o rio, há pouco tímido em volume d’água, estava caudaloso e a linda cachoeira
vertia feliz suas águas borbulhantes. O barulho de carros foi substituído por
gorjeios de pássaros e aplausos de folhas à fresca brisa.
O
menino parecia saído de um álbum antigo, trajava um uniforme escolar azul
marinho com camisa branca. Camisa? Muito esquisito aquilo tudo, sem camiseta,
tênis ou boné, o menino olhou-me chegando e disse – Ah, pensei que fosse ela.
Ela? Quem seria? Uma namoradinha,
talvez. Com a curiosidade aguçada, perguntei: -- Quem? Ele pousou seus olhos
vívidos em mim, respondendo: -- A FILHA DA FLORESTA! Eu a encontrei aqui, certa
tarde, atraído pelo canto de um sabiá. Eu estava enlevado, quando senti a
presença de alguém que me observava, assim como você fez há pouco. Então, eu me
virei e a vi: uma linda moça de olhos claros, cabelos cor de mel, vestida de
verde e sorrindo para mim. Antes que pudesse perguntar qualquer coisa, ela me
disse:
Sou a FILHA DA FLORESTA, não te assustes! Minha mãe
me protege, é ela quem me alimenta, pelas folhas de seu arvoredo se evapora
tanta água, tanta, até que o ar se umedece e assim atrai as nuvens e as deixa
tão pesadas que os ventos não as podem arrastar...Depois sob a copa protetora
das árvores, esconde e guarda toda água que as nuvens derramaram e quando o sol
vem, não as pode beber. Eis porque as fontes não param de jorrar...
Eu
estava boquiaberto. Um menino vestido à antiga, saído de um tempo passado,
contava uma história fantástica, com precisão descritiva de adulto. Não notando
minha admiração, ele continuou sua narrativa. – Ela pediu minha ajuda! Como eu,
um menino de dez anos, posso ajudá-la? Eu vim aqui hoje para que ela me
esclareça isso...será que você pode me auxiliar a encontrar essa resposta? A
FILHA DA FLORESTA ainda continuou me dizendo:
Eu sou a fonte – passo a vida inteira dando de beber
a todos: aos homens, ao gado, aos passarinhos, às flores perfumosas, às
hortaliças e às árvores boas que dão frutos. Sei que tu és amigo das plantas e
agora que te desvendei meu segredo, que pedir-te que me ajudes, pois já sabes
que a destruição das matas é a minha sentença de morte. Ora, a minha morte será
a morte dos animais, das plantas, a desgraça do Homem. Ajude-me!
O
menino continuou falando –Aproximei-me, mas antes que conseguisse tocá-la, ela
sumiu, assim, por encanto. Apenas uma borbulhinha de água vi saindo debaixo da
terra, bem aí onde você está, do seu lado direito – apontou ele para uma
fontezinha que eu nem havia percebido antes. Sem saber o que pensar (nem sabia onde
estava) naquele clima surreal, ouvi-me dizendo: a FILHA DA FLORESTA deu-lhe uma
missão, você vai crescer, desenvolver seu conhecimento sobre Ecologia e deverá
deixar registrado na História tudo que aprendeu como legado às futuras
gerações. Tenho a convicção de que ela quis dizer-lhe isso ao pedir a sua
ajuda, para que você oriente as pessoas para preservarem os mananciais, visando
salvar o planeta da destruição que o próprio homem, por ignorância, está
praticando. Quem sabe, um dia, você vai escrever sobre isso para ensinar as
crianças sobre a importância da água, da floresta, da Natureza e ...O menino
sorria e, olhando para mim com real satisfação, disse: -- Muito bem, Sílvio,
agora você começou a entender.
Como
ele sabia meu nome? Epa, que estranha sensação! Uma onda de calor, cheiro de
poluição do rio, uma sonoridade moderna invadia agora aquele RECANTO TRANQUILO
de segundos atrás. O menino sumira, onde estariam as flores perfumosas, o
frescor do arvoredo, a fonte tímida a jorrar suas águas cristalinas? Em seu
lugar, notei um pequeno e antigo livrinho. Ao ler o seu título na capa,
realmente, entendi tudo!
A
partir daquele encontro inusitado, minha vida mudou literariamente. Busquei
ajuda com amigos para reimprimir o livrinho- A FILHA DA FLORESTA, do escritor
Thales Castanho de Andrade, meu amigo, por quem tenho uma eterna gratidão, pois
despertou-me o desejo de expandir seus ideais de preservação à natureza para as
crianças e jovens, através de suas narrativas fantásticas e tão ricas em ensinamentos
sobre ecologia, ciência que usou com desenvoltura nos enredos de seus livros: EL REI DOM SAPO, COLIBRI FEITICEIRO, A FILHA
DA FLORESTA e SAUDADES.
A
Thales, meu reconhecimento e gratidão.
A RUA DA MINHA SAUDADE
Carmelina
de Toledo Piza
Na
rua em que vivi
De
terra batida e pisada
De
pé no chão
Jogava
amarelinha e rodava pião.
Tinha:
Polenta
da Dona Helena,
A
jabuticaba da Vó Glória,
A
manga da Dora e da Dona Adelaide.
Na
rua em que vivi
Com
cheiro de terra molhada
Soltava
pipa e brincava com boneca de pano,
Mãe
da rua e queimada.
De
pega-pega e esconde-esconde.
A
saudade bate no coração
Na
leitura do livro de Thales Castanho de Andrade
Vem
na memória uma infância rica de pé no chão.
Saudade!
Na
rua em que vivi
Saudade
marcada
No
corpo, nas histórias que ouvia
Nas
cantorias dos cururueiros.
Saudade!
Saudade! Saudade!
Um comentário:
❤
Postar um comentário