A brisa e o tufão
(soneto sem verbos)
A princípio, uma brisa agradável, singela,
qual sorriso infantil de criança inocente,
como arrulho sutil de uma rola plangente,
no silêncio da tarde indolente, mas bela.De repente, o reverso. Outro lado da tela:
um violento tufão, impiedoso, inclemente.
Verdadeiro carrasco. Indomável serpente.
Vendaval! Furacão! Horrorosa procela!
Que contraste, meu Deus! Ó meu Deus, que contraste!
Ela, cândida, pura. Ele, inútil. Um traste.Ela, frágil donzela. Ele, indômito. Forte.
Ela, um sonho feliz...mensageira das flores.
Ele, um vil pesadelo...um castelo de horrores.
Ela...pomba da paz! Ele...corvo da morte!
A motoqueira
Lembrando as Valquírias nos campos de guerra,
voando a galope em cavalos alados,
deixando uma trilha na relva dos pradosdepois repousando no pico da serra...
Os seios desnudos, as coxas peladas,
sorriso nos olhos, nos lábios veneno...O corpo exalando o prazer mais ameno
do coito das ninfas, das musas, das fadas:
eu sonho contigo, menina-paixão,
que passas e espirras teu chiste Madonna...
Não sei se querendo doar-me carona,
atrás dessa moto ou no teu coração.
Herança de poeta
Ser um poeta: acaso do destino!
Cantar em versos ilusões sem nexo;
ser água e fogo e côncavo e convexo,
juiz prudente, e num revés, sem tino.
Achar insípido um amor sem sexo
e vislumbrá-lo? por si só? divino;
sorrir à morte um riso de menino,
para adiar o seu fatal amplexo.
Que tolo! Sou artífice de idílios!
Que herança irei deixar para meus filhos?
Que herança deixarei para meus netos?
A honestidade arauto dos meus lemas,
o amor à Vida, a fé, os meus poemas,
mais a saudade dos milhões de afetos!
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