Carlos Morais Júnior Cadeira n° 18 - Patrona: Madalena Salatti de Almeida |
Viver... Essa esperança que nos embriaga e nos envaidece, é na verdade um privilégio. Somos privilegiados, sem dúvida, porque nascemos perto da perfeição, aparelhados e destinados a nos tornarmos centenários. Mas na ansiosa e desesperada busca do prazer, no egoísmo de aproveitar cada minuto que nos foi dado, a esperança se transforma em casualidade, o viver se torna a suprema aventura humana. Viver, então... Essa loteria que nos incita a espremer o bagaço dos últimos segundos que nos restam.
Conspira o tempo para que vivamos plenamente, com toda saúde e força, o ruidoso cotidiano que nos cerca, até que os excessos, as loucuras e a dissolução nos afastem da perfeição e nos tornem inevitavelmente finitos e previsíveis. Conspira o tempo, então, para a destruição lenta de nós mesmos, desafiando nossas capacidades e o excelso discernimento. O poder de escolher que nos foi dado e que, amiúde, se vira contra nós pela falta de cautela que temos ao usá-lo. Num segundo tudo o que nos eterniza pode nos deixar e o rol daquilo que mais tememos pode se apossar de nós.
Conspira o tempo para que nossa estada neste plano seja longa, estável e feliz, mas no ato sublime de gerenciar com sabedoria o que nos foi dado, por sermos apenas humanos e falíveis, sempre erramos nas contas, vamos por caminhos proibidos e por atalhos desconhecidos. Temos consciência do engodo, mas de nada adianta arrepender-se depois que o malfeito é descoberto. A responsabilidade nos acolhe em seus braços poderosos e nos esmaga, para que jamais tais atos se repitam.
Conspira o tempo para que sejamos infantis a vida inteira, para que jamais consigamos aproveitar o que nos foi legado. Na ansiedade dos folguedos nos esquecemos de cuidar de nossas obrigações até que chega o momento em que temos que enfrentar o tempo, não como brisa que atravessa tudo sem ser percebido, mas como o carrasco que veio cobrar de nós o que deixamos de fazer. O desespero nos aflige, porque sabemos que nada pode retroceder, e não existe remédio, nem cura, para um desleixo tão grande. Mas na nossa inocência meninil, somos iludidos por falsas promessas, esperançosos de conseguir enganar o tempo que conspira contra nós.
Pobres tolos arrependidos! É isso o que somos! Possuidores de todos os dons, de toda a tecnologia, de todas as belezas e infinita inteligência, mas incapazes de vencer a inclemente força exterminadora do tempo que passa como uma brisa pelas nossas vidas. Conspira o tempo então, para que sejamos gratos e resignados com nossa sorte inglória e imprecisa. Ele é o carrasco cruel que nos tira tudo, num piscar de olhos, inadvertidamente, mas que não vai deixar de ser exato no momento de nossa partida. Quando chegar a hora ele não nos dará nem um segundo a mais!
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