Armando Alexandre dos Santos Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado |
Um conceito está muito em voga, hoje em dia, entre historiadores e sociólogos, é o de “espaço de sociabilidade”, o qual, juntamente com seu correlato “rede de sociabilidade”, vem sendo objeto de estudos. Um “espaço de sociabilidade” bastante curioso, muito presente no nosso dia-a-dia, é aquele constituído pelos restaurantes por quilo, que surgiram no Brasil há cerca de 20 anos e desde então tiveram extraordinário desenvolvimento. Tudo, na vida moderna, favorece esse gênero de restaurantes: a pressa com que geralmente se almoça, a praticidade com que se evitam os trabalhos caseiros de cozinha, a facilidade para quem deseja uma alimentação saudável e balanceada, e por isso prefere poder dispor de opções bem diversificadas.
Como espaços de sociabilidade, os restaurantes por quilo são um campo aberto e cheio de potencialidade, para quem se disponha a estudá-los. Aqui em Piracicaba, frequento quase diariamente o Galileo Grill, na Rua Prudente de Morais, onde fiz excelentes amizades e ampliei a minha “rede de sociabilidade”. Entre os bons amigos que ganhei, frequentando o Galileo, conto com muita estima o Sr. Antonio Vitti, que todos os domingos ali comparece com sua esposa D. Maria, a filha e duas netas. Sabendo que era irmão do nosso caríssimo Príncipe Lino, o dos poetas piracicabanos, foi fácil o contato, logo ficamos amigos. E todos os domingos, lá sempre tiramos nossos dois dedos de prosa, que para mim são muito prazerosos.
Acabo de receber, precisamente do Sr. Antonio Vitti, um presente precioso. Trata-se de um livro que publicou, intitulado “Das sombras à luz... – História da Comunidade São Domingos de Gusmão (50 anos de Trabalho e Fé)” e prefaciado pelo irmão, Acadêmico Lino Vitti.
É um pequeno grande livro. Tem apenas 95 páginas, mas um conteúdo denso e benéfico para o leitor. Neste mundo tão esquecido de Deus e das coisas do espírito, dá gosto ler o histórico de meio século de dedicação de uma família católica que, a partir da catequese de crianças, chegou a formar uma instituição sólida e a edificar uma igreja. Tudo isso aqui em Piracicaba, no Bairro Alto, bem perto do Centro.
Os Vitti, muito conhecidos nesta cidade e em toda a região, são de origem tirolesa, daquela região austríaca de onde vieram muitas das famílias que ainda hoje povoam o distrito de Santa Olímpia, Santana, Fazenda Negri e Viocil. São católicos por tradição e convicção, sempre muito dedicados em apoiar as obras piedosas da Igreja. Um dos irmãos do Sr. Antonio é, até, sacerdote.
Em 1960, o Sr. Antonio, congregado mariano ainda bem jovem, conseguiu de seu futuro sogro, Sr. Domingos Blanco, autorização para que fossem ministradas aulas de catecismo à sombra das árvores da chácara da família Blanco, que ocupava todo um quarteirão, entre as ruas Bernardino de Campos, Marechal Deodoro, Visconde do Rio Branco e Regente Feijó. A primeira turma de neófitos foi constituída por 60 meninos e meninas. A essa turma seguiu-se outra, depois mais outra e outras mais, até hoje.
Muito metódico e organizado, o Sr. Antonio já em 1961 promoveu a fundação formal de um Centro Catequético, com uma ata constitutiva assinada por diversas pessoas e contando com o apoio do pároco Mons. Martinho Salgot. Mais tarde, quando dividiu a chácara entre os seus vários herdeiros, o Sr. Domingos Blanco reservou uma área para ser doada à paróquia, a fim de nela se institucionalizar o centro catequético. Nessa área foi edificado um salão e, mais recentemente, uma capela. Os trabalhos catequéticos que deram origem à obra prosseguem, como disse, até hoje.
A história dessa instituição, que durante 50 anos vem sendo conduzida como anexo à Paróquia do Bom Jesus e sempre contando com o apoio e generosidade dos Vitti, é narrada nesse livrinho tão singelo e, ao mesmo tempo, tão rico e revelador. Foi tipicamente uma iniciativa de leigos, num século em que o laicato ganhou tanta expressão na Igreja Católica.
O nome oficial da instituição, que consta do título do livro, é Comunidade São Domingos de Gusmão, santo espanhol do século XIII, fundador da Ordem dos Pregadores (dominicanos). Na pg. 21, o autor explica a razão dessa escolha: Domingos era o onomástico do benfeitor, Sr. Blanco, que era filho de espanhóis; e era também espanhol Mons. Salgot.
Entretanto, uma coisa não me ficou clara. Na ata de fundação, reproduzida em fac-símile nas páginas 15 e 19 do livro, a instituição era denominada “Centro de Catecismo São Domingos Sávio” – o que era muito explicável, já que São Domingos Sávio, santo do século XIX falecido com apenas 13 anos de idade, aluno de São João Bosco e, como este, natural de uma aldeia próxima a Turim, norte da Itália, também foi catequista e exerceu seu apostolado com crianças.
Vê-se, portanto, que ocorreu, em algum momento da história, uma substituição no patrono da instituição. Um São Domingos foi trocado por outro. Entre santos do Paraíso, obviamente, não há rivalidades nem disputas... Não ficou nem um pouquinho menor a glória eterna de São Domingos Sávio por ter sido seu nome substituído pelo também glorioso São Domingos de Gusmão. Mas permanece a dúvida: por que essa substituição?
Acredito que esse é um ponto que o Sr. Antonio, melhor do que ninguém, pode nos esclarecer. Espero que já no próximo domingo, quando o reencontrar no Galileo, ele me esclareça isso... Espero também que a obra meritória da Comunidade São Domingos permaneça por muitas e muitas gerações de Vitti. E que o ótimo livro do Sr. Antonio tenha, também, muitas e muitas reedições.
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