Acadêmica Myria Machado Botelho Cadeira n° 24 - Patrona: Maria Cecília Machado Bonachella |
Em
dezembro, um tempo que termina para dar lugar a um novo ano, as expectativas,
os sonhos e as esperanças parecem aflorar mais insistentes,estimulados com
certeza pela doçura das festas do Natal. Embora o comércio, a Mídia, os
atropelos e as inversões ofusquem, em parte, a beleza dessa simplicidade
contida num Nascimento de tanto significado para o mundo, algo maior se impõe e
prevalece, e sabemos bem que esta força não será derrotada.
Para
um grande número de viventes, a sensibilidade é maior, ao lado do desejo ou da
intenção de sermos melhores, de marcar com algum gesto e de alguma forma o bem
de transmitir ao outro o nosso amor, a nossa ternura.
Já
foram muitos e incontáveis os dezembros de minha vida, os natais, seguidos dos
“réveillons”, desde quando, ainda pequenina, eu não entendia bem o significado
daquelas reuniões festivas em que a família se reunia em torno de nossos pais,
quando nem se imaginava o transitório e as perdas. Nestas reuniões simples,
aprendi a valorizar os laços familiares que, mais tarde, eu repetiria junto de
uma nova geração, a minha geração que se iniciava em outro lugar e outras
circunstâncias, com o nascimento de meus quatro filhos. No princípio, um
arbusto que se desenvolveu até se transformar numa árvore frondosa e forte,
enraizada em terra firme, e de cujos galhos já pendem os frutos de mais duas
gerações, a dos netos e dos bisnetos. Quanto esforço foi necessário nessa
transformação de tantas décadas, pontilhadas de certezas e de incertezas, de
fracassos e de vitórias, de decepções e de alegrias, de sofrimentos, de
conquistas e de perdas! Perdas dolorosas e quase insuportáveis, que só a
esperança legada por Aquele que venceu a morte e venceu o mundo logrou amparar
e fortalecer.
Com
o passar dos anos, as impressões se vão transformando em algo doce e suave,
acentuando-se nas coisas mais simples e naturais. Os olhares, os ouvidos, a
percepção se voltam para uma essencialidade mais pura, talvez uma compensação
dispensada pelo Criador àqueles que O amam e sabem distinguir os prodígios e as
belezas incomparáveis e inimitáveis de Sua criação portentosa. Como a criança
descobrindo o mundo e as coisas que a cercam, nossos sentidos se voltam para
este mundo que tantos sentidos embaçados não conseguem admirar.
Vemos com
novos olhos e o coração cantando o céu e as nuvens em suas mutações de formatos
e de coloridos, emoldurando montanhas sinuosas; as aves em bandos em busca
deste céu e do infinito; a vegetação e suas nuances de verde em ondulações caprichosas,
tocadas pela aragem e o vento farfalhante, ora silenciosa e recolhida como numa
prece,ora vibrante como um canto de glória; as flores, pequeninas e escondidas,ou
perfumadas e abertas, ofertando seu néctar às borboletas e aos pássaros em
revoadas, gorjeando e entoando hinos de
alegria, levando o alimento para seus filhotes de biquinhos abertos nos ninhos
feitos sob os arbustos e as jardineiras em flor..
Mas
a impressão mais forte, terna e marcante deste último dezembro me foi dada
pelas crianças, os meus pequeninos desabrochando para a vida, ensinando-me
neste eterno caminhar a surpreendente aventura de viver. Para mim, é sempre a
criança, a grande mestra da simplicidade, da alegria e da esperança.
.Em meio ao
cenário, descrito imperfeitamente acima,meu bisneto Antonio é o rei deste
paraíso, ao lado de um cãozinho especial. .Meigo e amigo de todas as crianças, inteligente,
educado, gracioso, sapeca e imprevisível nos brinquedos, porém super obediente
ao dono e comportado quando necessário, Jack tornou-se o guarda voluntário de Antonio. Do seu lado,
sob o berço ou o carrinho, ele acompanha toda a movimentação em torno do bebê e
reage com desagrado ao choro de seu companheirinho, erguendo a cabeça e as
orelhas num gesto de alerta, como a pedir uma providência.E a cena mais bela
que me foi dada assistir aconteceu á
beira da piscina, quando, pela primeira vez, Antonio foi colocado ao lado de seu super amigo. Estabeleceu-se, de
pronto, uma empatia digna de registro, em que Jack submeteu-se a uma verdadeira prova. A
expressão feliz da criança e a docilidade do cão ante as investidas dos pés e
das mãozinhas gorduchas do nenê, introduzidas até na boca do cão que as lambia
como um afago, gravou-se em minhas retinas. O cão e o menino- a imagem perfeita
do amor incondicional!...
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