Rio Piracicaba

Rio Piracicaba
Rio Piracicaba cheio (foto Ivana Negri)

Patrimônio da cidade, a Sapucaia florida (foto Ivana Negri)

Balão atravessando a ponte estaiada (foto Ivana Negri)

Diretoria 2022/2025

Presidente: Vitor Pires Vencovsky Vice-presidente: Carmen Maria da Silva Fernandes Pilotto Diretora de Acervo: Raquel Delvaje 1a secretária: Ivana Maria França de Negri 2a secretária: Valdiza Maria Capranico 1o tesoureiro: Edson Rontani Júnior 2o tesoureiro: Alexandre Sarkis Neder Conselho fiscal: Waldemar Romano Cássio Camilo Almeida de Negri Aracy Duarte Ferrari Responsável pela edição da Revista:Ivana Maria França de Negri

Seguidores

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

A Feira que foi um instante de felicidade de longa duração



por Ignácio de Loyola Brandão

 

Há momentos nesta minha vida de sessenta anos de literatura, que percebo que tem valido a pena, ainda nesta idade, fazer o que faço. Vir a esta cidade significou olhar frutos de sementes que plantei aqui e por este Brasil. Ter voltado a Piracicaba e ver “alunos” meus de décadas atrás, com livros, contos, poemas publicados, gravuras, charges, o que seja, e participando de feiras, lutando pela leitura e arte me deixam perigosamente em paz comigo. Perigosamente porque se estamos satisfeitos baixamos a guarda, nos acomodamos, a ânsia por lutar se acalma. E não quero, nem posso me deixar em paz, preciso deste fogo que me atazana.

Mas,  pergunto a você Ivana  Maria, e a todas estas pessoas que me receberam, me conduziram, me apoiaram, levaram minha bengala, me deram carinho, água fresca, me levaram para comer peixe dourado do Chevette, que seria de mim não fossem as milhares de pessoas que estão por trás das feiras ou festas literárias? Cheguei e subi ao palco, mas para isso acontecer sei, sempre soube, que um batalhão de pessoas trabalhou praticamente um ano montando a programação, contatando escritores, professores, poetas, artistas, dezenas, de pessoas nem sempre fáceis, principalmente na conciliação de agendas.  Mensagens de todos os tipos, cartas, e-mails, whatsapp, telefonemas. Sim, não, talvez, vou ver, depende, estou comprometido até o ano 2026, tem de falar com meu agente, preciso consultar minha mulher, mentiras, subterfúgios. Monta-se a programação, enquanto de outro lado tem quem busque patrocínios, dinheiro para cachês, hospedagem, montagem da estandes, etc. afinal é um trabalho que o convidado faz,  ele viaja, se hospeda, come. Um hotel colabora, outra pousada ajuda, um bar, dois, um restaurante, outro, aderem, são os solidários. Toda esta movimentação não leva um mês, ou semanas antes. Demora um ano, mais. O público se senta, assiste, aplaude, pergunta, tira selfie,  pede autógrafos, mas pouco sabe do que há nos bastidores. Um bando de idealistas, malucos, aventureiros, combatentes que se esfalfam. Para minha mãe, mulher modesta, casada com um ferroviário, esfalfar era o máximo de trabalho humano, força, desprendimento, entrega.

Ivana, dirijo-me a você que foi quem, em nome desse batalhão de organizadores me buscou, me ligou, mandou, não sossegou, até eu me encaixar e vir.

 Bendito momento que vim. Esta feira de Piracicaba foi especial. O “fósforo” que risquei lá atrás, talvez quarenta anos, tornou-se, um farol, uma luminária potente. Vocês mantiveram a chama acesa. Não imaginam o tanto que aprendi ao longo de minha vida com milhares de pessoas como vocês. Não cheguei onde cheguei sozinho, fui impulsionado. E nestas feiras ou festas mantive contato constante com companheiros, escritores de todo o Brasil e em emocionantes contatos com grandes escritores brasileiros.  Todos que por anos e anos, a partir da década de 70 foram para as ruas, para as feiras, para toda parte, abrindo corações e mentes.  com   assombro desafiando dificuldades e montando feiras, festas literárias, encontros, mesas de autógrafos, concursos, oficinas literárias.  Sei que é um momento complicado, os jornais acabam de anunciar que em nosso país se lê cada vez menos. Porém, estas feiras são um modo de fomentar leitura,  mostrar a vantagem de ler, do livro, do romance, da poesia. Há um imenso inimigo, o celular. Este assunto, neste momento. começa a ser discutido  mais a sério, ele foi deixado de lado.  Por muito tempo as futuras feiras trarão este assunto para os palcos.

Por meio de Ivana vim aqui. Por meio dela falo e abraços todos.  Não deixem esta festa literária desaparecer. O Brasil e a literatura e a cultura agradecem este esforço por meu intermédio. Vir aqui foi um instante de felicidade de longa duração. Muitos sabem que adaptei uma frase de Oscar Wilde.

Estou próximo ao fim (este, nunca se sabe, mas irei em frente enquanto puder). Chegar em Piracicaba e ver o tanto de gente que esteve comigo lá atrás e continua acreditando promovendo uma festa enorme (pelo menos me pareceu), diversificada, me dá forças. Estou falando só de mim, sou injusto. Se estas festas literárias continuam a existir a chama está no ideal de grupos como este de apaixonados pelo livro e pela escrita. Fiquei emocionadíssimo quando Ivana e parte de ex-alunos meus se juntaram e puseram de pé esta feira. Não imaginam quando, ao me referir a um pequeno cachê, normal, porque é um trabalho, elas responderam: Será pago. Se a prefeitura não pagar por alguma razão, nos cotizaremos e você receberá. O município pagou, mas eu, certamente, viria até sem cachê. Pelo brilho dos olhos desta gente. Fiquei feliz. Estar feliz pode aumentar meu tempo de vida e deve deixar satisfeita a cidade, porque esta já está incluída no Calendário Cultural do Estado e São Paulo, e do Brasil. Quem diz isto tem 58 livros publicados, dezenas deles traduzidos, pertence a duas academias, a Brasileira e a Paulista de Letras.

Quando aqui cheguei, há semanas, caminhei lentamente ( mas caminhei) com minha bengala e fui vendo grupos a conversar, pessoas circulando pelo Salão de  Humor, há muito entre os mais tradicionais do Brasil,  percebendo  conversas com crianças, e adultos,  entrando em oficinas, enfim sentindo uma a atividade febril , senti que esse grupo que  organiza tal movimento tem pulso, garra, loucura, humor – sem ele, não fazemos nada. Feliz, vi que muitas destas pessoas traziam ainda delas uma partícula que veio de mim, décadas atrás: o amor ao livro, ao narrar, a poesia, ao colocar no papel, no palco, na tela as alegrias e angustias da vida. Esse grupo tem prazer em disseminar o livro.  Sabem que cada apaixonado pelo livro, leitura, ideia, é um ganho de alto valor  na cultura brasileira.

Aos 88 anos, ter voltado a Piracicaba, cidade onde meu filho Daniel estudou e foi feliz, onde escrevi uma conto intitulado “A Sexta Hora”,  dedicado a Joana Fomm e publicado na revista Claudia,  cidade onde era feliz comendo peixes delicados, perfumados e lendo/analisando/incrementando textos feitos na hora por sonhadores apaixonadas pela escrita e pela leitura,  pela poesia, me deram um alento. Alguma coisa deixei. Vocês continuaram. Agarrem com força essa tábua da salvação, a escrita. E me pergunto, quem deste grupo será escritor de folego, garra, amor pelas palavras. Um Loyola, ou um Itamar (Torto Arado), quem sabe um Carlos Drummond podem sair daqui.

Perguntaram-me o que devem fazer para melhorar. Digo: nunca estar satisfeito, querer avançar. Fracassar e manter o entusiasmo. Vocês de  Piracicaba, já colocaram uma marca no calendário. Continuem. Tragam autores, coloquem junto aos novos. Eu gostaria de ter me sentado diante de uma plateia a conversado com principiantes por mais horas, dias.  Passar para eles um pouco mais do que tenho dentro de mim. Saber angústias, desejos, ambições. Saber das loucuras internas. Nossos problemas são iguais. 

Já vacilei, tremi, chorei, me achei medíocre, quis desistir, abandonar tudo, mas de repente ia a uma feira, a uma Festa, como esta, ouvia um bom autor, lia um livro, me recuperava. Aqui ouvimos, discutimos, rimos, nos entusiasmamos, ganhamos alento.

Ao voltar, recebi uma gravura do Engenho onde falei, debaixo de um sol daqueles, mas animado, ao olhar para as pessoas suadas, se abanando, e vê-las de olhos grudados em mim.  Senti minha responsabilidade, falei,  respondi perguntas, suei, tirei fotos, selfies. Quem diz que odeia selfie é mentiroso. Ele é um agradecimento, reconhecimento, a certeza de que você estará em algum lugar de uma casa e te apontarão e dirão: é fulano de tal.

O Engenho é  um símbolo. Aquele que mói, tritura, transforma algo em outra coisa, seja fubá, farinha, conto, romance, poema, ensaio ou uma frase apenas. O autor é aquele que se angustia, mói, tritura, torna em literatura nossas, paixões, dores,  felicidades, ambições, angustias, sofrimentos. O autor é um engenho fundamental dentro de um ser humano. Engenho é vida. Símbolo de todos que lutam pela palavra, pelo traço,  pela  cor, pela voz, pelo som, pelo grito, pelo desabafo. Pelo coração.

Sem esquecer algo fundamental, dito pelo Marquês de Maricá: “A modéstia engrandece  o talento,  a vaidade arruína.” (1773- 1848)

 









                                                                               










 


Nenhum comentário:

Galeria Acadêmica

1-Alexandre Sarkis Neder - Cadeira n° 13 - Patrono: Dario Brasil
2- Maria Madalena t Tricanico de Carvalho Silveira- Cadeira n° 14 - Patrono: Branca Motta de Toledo Sachs
3-Antonio Carlos Fusatto - Cadeira n° 6 - Patrono: Nélio Ferraz de Arruda
4-Marcelo Batuíra da Cunha Losso Pedroso - Cadeira n° 15 - Patrono: Archimedes Dutra
5-Aracy Duarte Ferrari - Cadeira n° 16 - Patrono: José Mathias Bragion
6-Armando Alexandre dos Santos- Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado
7-Barjas Negri - Cadeira no 5 - Patrono: Leandro Guerrini
8-Christina Aparecida Negro Silva - Cadeira n° 17 - Patrono: Virgínia Prata Gregolin
9-Carmen Maria da Silva Fernandez Pilotto - Cadeira n° 19 - Patrono: Ubirajara Malagueta Lara
10-Cássio Camilo Almeida de Negri - Cadeira n° 20 - Patrono: Benedito Evangelista da Costa
11- Antonio Filogênio de Paula Junior-Cadeira n° 12 - Patrono: Ricardo Ferraz de Arruda Pinto
12-Edson Rontani Júnior - Cadeira n° 18 - Patrono: Madalena Salatti de Almeida
13-Elda Nympha Cobra Silveira - Cadeira n° 21 - Patrono: José Ferraz de Almeida Junior
14-Bianca Teresa de Oliveira Rosenthal - cadeira no 31 - Patrono Victorio Angelo Cobra
15-Evaldo Vicente - Cadeira n° 23 - Patrono: Leo Vaz
16-Lídia Varela Sendin - Cadeira n° 8 - Patrono: Fortunato Losso Netto
17-Shirley Brunelli Crestana- Cadeira n° 27 - Patrono: Salvador de Toledo Pisa Junior
18-Marcelo Pereira da Silva - Cadeira n° 28 - Patrono: Delfim Ferreira da Rocha Neto
19-Carmelina de Toledo Piza - Cadeira n° 29 - Patrono: Laudelina Cotrim de Castro
20-Ivana Maria França de Negri - Cadeira n° 33 - Patrono: Fernando Ferraz de Arruda
21-Jamil Nassif Abib (Mons.) - Cadeira n° 1 - Patrono: João Chiarini
22-João Baptista de Souza Negreiros Athayde - Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira
23-João Umberto Nassif - Cadeira n° 35 - Patrono: Prudente José de Moraes Barros
24-Leda Coletti - Cadeira n° 36 - Patrono: Olívia Bianco
25-Maria de Lourdes Piedade Sodero Martins - cadeira no 26 Patrono Nelson Camponês do Brasil
26-Maria Helena Vieira Aguiar Corazza - Cadeira n° 3 - Patrono: Luiz de Queiroz
27-Marisa Amábile Fillet Bueloni - cadeira no32 - Patrono Thales castanho de Andrade
28-Marly Therezinha Germano Perecin - Cadeira n° 2 - Patrona: Jaçanã Althair Pereira Guerrini
29-Mônica Aguiar Corazza Stefani - Cadeira n° 9 - Patrono: José Maria de Carvalho Ferreira
30-Myria Machado Botelho - Cadeira n° 24 - Patrono: Maria Cecília Machado Bonachela
31-Newman Ribeiro Simões - cadeira no 38 - Patrono Elias de Mello Ayres
32-Angela Maria Furlan – Cadeira n° 25 – Patrono: Francisco Lagreca
33-Paulo Celso Bassetti - Cadeira n° 39 - Patrono: José Luiz Guidotti
34-Raquel Delvaje - Cadeira no 40 - Patrono Barão de Rezende
35- Elisabete Jurema Bortolin - Cadeira n° 7 - Patrono: Helly de Campos Melges
36-Eliete de Fatima Guarnieri - Cadeira no 22 - Patrono Erotides de Campos
37-Valdiza Maria Capranico - Cadeira no 4 - Patrono Haldumont Nobre Ferraz
38-Vitor Pires Vencovsky - Cadeira no 30 - Patrono Jorge Anéfalos
39-Waldemar Romano - Cadeira n° 11 - Patrono: Benedito de Andrade
40-Walter Naime - Cadeira no 37 - Patrono Sebastião Ferraz