João Baptista de Souza Negreiros Athayde
Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira
|
“Que os homens de amanhã que aqui
vierem, tenham
compaixão de nossos filhos, e que a lei se
cumpra
-
22/4/1959” - José Silva Guerra,
operário (candango)
da construção de Brasília.
De repente, a
insolência do passado
violenta a pátina
do concreto
adormecido
Os escombros
(cúmplices) vertem
atrevidos
rabiscos esquecidos
(...mais que isso)
frases avulsas de
passar o tempo
(...muito mais que
isso)
Mais que arroubo
lírico
de candango
cansado, suarento,
mal remunerado,
talvez,
( era preciso,
afinal, sobejar
ao bornal das empreiteiras...)
Mais que simples
recado
na agenda qualquer
das horas vagas
Mais que delírio da
mente
desbotada na secura
do ar e do sol
Inclemências planando
sobre a cabeça
candanga
Mais que tudo
muito mais
uma prece, um desejo
talvez
talvez mesmo a
esperança
quem sabe agora
(...finalmente?)
o parto do sonho
brasileiro
(nem importava mais que a gestação da cidade
sangrasse
instituições sagradas)
*
Ergue-se o pano!
Agora, ali
o ventre aberto do
concreto
o recado/prece do
candangotodosnós
(Ironia ferina
percutindo
a secura dos ares)
Justo ali
os mesmos ares
a mesma secura do sol
e do ar
a utopia nascendo
possível
Grandes homens
homens Grandes
envolvidos todos
extenuados todos
(era sublime desenhar
os contornos
de uma grande
República)
Tarefa de gigantes
(homens Grandes
Grandes homens)
da secura dos mesmos
ares
dos engodos da
história...tantos
a alvorada nova para
um povo
a alegria da
esperança
o resgate da crença
(era divino, até, e
tentador
sonhar uma República de Verdade)
Grandes homens
homens Grandes
estafados de
sedimentarem
alicerces perenes
a justiça para todos
a lei para todos
sobre todos
sobre tudo
igualdade
(a gravidez da
Mãe-Pátria clamava
pela Verdade da
República)
homens Grandes
Grandes homens
do amanhã
(oxalá estadistas)
frontes porejando
luzes:
-(brio-verdade-honra)-
o ideal de patriamada
conduzindo o passo
A utopia ...ainda
possível
( por estrela-guia –
uma República
para a posteridade – uma Nação)
**
Cai o pano
a pátina aberta em
chaga
as entranhas do
concreto
nuas
a nudez da história
o engodo da história
uma vez mais
madrasta
O sonho/prece
inerme
asfixiado
estiolado
(a secura do ar
e do sol...talvez ?)
A clausura no
concreto
longa demais...
a mudez do concreto
longa demais...
a arquitetura do
cinismo... sólida demais
a sanha
lesa-pátria...escancarada demais
a utopia...nunca mais
O recado/prece
agoniza
Restos de velada
elegia
amortalhados
na secura do ar e do
sol
O horizonte cinzento
desenha um epitáfio:
“O sonho do
candangotodosnós
...natimorto”
(em meio à
caminhada...
era preciso a compaixão nos homens)
Nenhum comentário:
Postar um comentário