Armando Alexandre dos Santos Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado |
O caso do bispo argentino fotografado há poucas semanas em
circunstâncias escandalosas, impróprias a sua condição, ocupou páginas inteiras
de alguns jornais, que aproveitaram a ocasião para criticar a Igreja Católica
pela manutenção do celibato eclesiástico. Seu imediato pedido de renúncia,
obviamente determinado pelo Vaticano, não mereceu o mesmo estardalhaço
publicitário.
Criticar a Igreja é moda, em muitos ambientes. O preconceito
anticatólico é o único preconceito admitido e até estimulado no mundo
acadêmico, segundo afirma Thomas E. Woods Jr., professor norte-americano, na
abertura do seu notável livro “Como a Igreja Católica construiu a Civilização
Ocidental” (Editora Quadrante, São Paulo, 2008).
É óbvio que, infelizmente, inúmeros eclesiásticos dos vários níveis, até
os mais elevados, não cumprem, como deveriam, suas obrigações. Há muita coisa
na sua conduta que deveria ser diferente, para que os ensinamentos de Nosso
Senhor Jesus Cristo fossem seguidos. Esse é o lado humano, frágil, doente, da
Igreja Católica. É a face terrível da instituição. Por mais que sejamos
católicos, não podemos fechar os olhos diante dessa realidade.
Mas também não devemos jamais devemos esquecer o outro lado: a Igreja é
de instituição divina e, enquanto tal, por cima das misérias humanas tem uma
outra face, pura, santa, imaculada. E mesmo nas piores horas, mesmo nos
momentos de crise mais intensa, como o atual, essa face se manifesta
magnificamente.
Ainda recentemente recebi, por e-mail, um espetáculo de Power Point
lindíssimo, sobre tratamento de aids no mundo inteiro. A única instituição
internacional que desenvolve em todo o mundo um trabalho sério, eficiente e
dignificante para ajudar os aidéticos é a Igreja Católica. Inúmeros
estabelecimentos católicos funcionam em todo o globo (e especialmente na África, continente mais
atingido pela epidemia) para auxiliar, material e espiritualmente, os
aidéticos. São estabelecimentos discretos, humildes, que não chamam a atenção
sobre si, mas atuam eficazmente.
Existem milhares e milhares de ONGs coletando dinheiro e fazendo
demagogia a propósito da aids, e aproveitando para criticar a Igreja porque
combate, por razões morais, o uso da camisinha, mas na prática, quem trabalha
mesmo, em favor dos aidéticos, é a Igreja...
Esse “outro lado” da questão, a justiça manda não omitir.
Esse “outro lado” da questão, a justiça manda não omitir.
De fato, a Igreja tem um lado
divino e um lado humano. O lado divino é, insisto, puro, santo, imaculado. Sem
ele seria impossível uma instituição tão contrária a todos os valores que o
mundo habitualmente preza, cultua e até idolatra, sobreviver durante 2 mil
anos. Como escreveu um autor francês do século XIX, “l´Eglise est une enclume
qui a usé bien de marteaux” (a Igreja é uma bigorna que já gastou muitos
martelos). Eles bateram, bateram, bateram, gastaram-se... e a Igreja continua
de pé. Voltaire previa o fim da Igreja para o final do século XVIII... Como
estava enganado!
Mas há também o lado humano, no qual há miséria, há podridão, há crimes.
Não podemos fechar os olhos para essa realidade, como também não podemos
esquecer o lado divino.
Creio que o que exprime bem essa dicotomia, essa aparente contradição
entre o divino e o humano na instituição da Igreja Católica, é o episódio
ocorrido com o historiador alemão Ludwig von Pastor (1854-1928). Ele era
protestante e, certa ocasião, desafiou publicamente a Igreja Católica a abrir
os seus arquivos secretos. Tinha certeza, afirmava, de que eles jamais seriam
eles abertos, para não serem revelados horrores tremendos...
Na ocasião, acabava de ser eleito Papa Leão XIII, que mandou dizer a
Pastor que os arquivos do Vaticano estavam inteiramente abertos para ele. No
início, Pastor não acreditou, mas viajou para Roma e ali encontrou, realmente,
todas as facilidades em seu trabalho de pesquisa. Nada lhe foi negado, nada lhe
foi escondido. Ele passou anos trabalhando e produziu uma obra monumental, em 40
volumes, com a história dos Papas desde a Renascença até o final do século XVIII.
Nessa obra, registrou todos os horrores (e foram realmente horrores, é
inegável) de Papas renascentistas.
A certa altura da sua pesquisa, solicitou e obteve uma audiência com
Leão XIII. Apresentou-se ao Papa, agradeceu as facilidades que obtivera na pesquisa
e, para grande surpresa de Leão XIII, declarou que desejava tornar-se católico.
O Papa, muito espantado, respondeu:
- Mas, Professor, antes de conhecer por dentro os horrores praticados
por antecessores meus, o Sr. era contra a Igreja Católica, e agora, que conhece
tudo documentadamente, quer ser católico? Não estou compreendendo sua atitude.
A resposta de Ludwig von Pastor foi muito interessante:
- Santidade, eu me convenci de que a Igreja Católica é realmente uma
instituição divina. Se nem Papas conseguiram destruí-la, é porque é divina
mesmo!
Armando Alexandre dos Santos escreve aos sábados na TRIBUNA PIRACICABANA
2 comentários:
li pela Tribuna e agora releio aqui com prazer, admiração e respeito.... belo texto! verdadeiro texto! parabens! valeu o dia!
li pela Tribuna e agora releio aqui com prazer, admiração e respeito.... belo texto! verdadeiro texto! parabens! valeu o dia!
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