Elda Nympha Cobra Silveira Cadeira n° 21 - Patrono: José Ferraz de Almeida Junior |
Percebi
um vulto esquadrinhado no meio da rua coberta pelo molhado da chuva fina, que
naquela noite parecia penetrar até nos ossos. Mas aquele moço, alheio até das
intempéries, curtido de bebida, olhava algum lugar distante, com os olhos
embaçados, como a garrafa de vodka, esquecida na mão direita. Que triste cena!
Moço bonito, tão jovem e já dominado pela bebida, a vagar com passos trôpegos,
sem se dar conta da vida negativa em que se encontrava, nem que era uma negação
de si próprio, como se estivesse sendo atormentado por algum fantasma, que o
possuía para tirar proveito e usufruir desse vício.
Mas
para minha tristeza, fui reconhecendo o rosto que se escondia por debaixo
daquela barba, parecendo estar estranhamente emoldurado pelos cabelos em
desalinho. Como se olhasse uma imagem em negativo, a luz esvaída dos postes fez
que se revelasse diante dos meus olhos o filho de uma pessoa conhecida.
Emocionada, levei as mãos ao rosto, fazendo um esforço para conter as lágrimas.
No meu espanto emudecido passava um turbilhão de imagens fugidias dentro de
mim. E meus lábios, escolhendo alguma palavra compreensível, balbuciaram aquele
nome, que ecoou quase como um gemido difícil de escapar: “Renatinho! O que
aconteceu com você, menino? Por que está bebendo desse jeito? E os seus pais?
Sabem disso? Meu Deus! Olhe como você está...”
Sem
perceber o meu desespero, ele passou por mim, andando de forma brusca e com
gestos estudados. Eu ainda limpava as lágrimas do rosto, quando ele virou a
esquina e desapareceu como se fosse uma sombra.
Dei
partida no carro e no retorno para minha casa fui enumerando vários motivos
para que aquele rapaz tão alegre e tão meigo, de repente se transformasse num
verdadeiro farrapo humano, alguma razão que pudesse ter motivado aquele
mergulho na decadência e na miséria moral mais absoluta.
A
razão parecia clara: ele não suportava enfrentar a realidade e por isso usava
qualquer subterfúgio para fugir. Seria por comparação o leão do mágico de Oz.
Todos
temos força suficiente para seguir um novo rumo na vida. Basta amar a nós
mesmos! Toda pessoa tem a responsabilidade de cultivar suas qualidades. Elas
são como flores. É só ir regando que elas florescem.
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