Marisa F. Bueloni Cadeira no 32 - Patrono: Thales Castanho de Andrade |
Da janela grande de vidro blindex da minha cozinha, vejo as Três Marias. Vejo outras estrelas, Alfa Centauro, Betelgeuse Canopus, Aldebarã, Electra, Gianfar, Vega e Intrometidas que se intrometem na minha cozinha espacial. Acha que vi todas estas? Oras, apenas gosto dos nomes delas.
Não vou dormir esta noite. Porque da janela da minha cozinha, posso ver as estrelas noturnas acenando para mim. Vi quando piscaram um olho. Desmaiei. E quando dei por mim, Deus existia.
Foi um momento de puro êxtase. Tomei um copo d´água, e era o mais caro dos champanhes; passei creme de ricota numa torrada e era um caviar raríssimo; pensei em alguma coisa e foi a ideia mais luminosa e inteligente do planeta.
Não pensei em nada, não peguei a torrada, não tomei o copo d´água. Nada. Fiquei quieta, ouvindo as estrelas falando comigo a linguagem dos Anjos. Eu o vi. O meu Anjo. Ele estava muito, muito distante. E eu chorei.
Ah, meu Pai de infinita bondade! Estrelas me mordam!
O ano novo começou! E agora? E agora, José?
E agora, Alexandre?
E agora, Nagao?
E agora, Marcílio?
E agora, Leonel?
E agora, Marilena?
E agora, Cinthya?
E agora, Maria Balé?
E agora, Souza Freitas?
E agora, Márcio Xavier?
E agora, Barreto?
E agora, Ângela?
E agora, Valéria?
E agora, Vivina?
E agora, Luca?
E agora, Denise?
Finalmente, 2012 chegou. Com aquele jeitão de velho ano novo. Feliz ano velho? Ó céus, ó vida – a hiena insofismável da Hanna-Barbera ressoa em meus ouvidos ainda hoje. Tempos dantanho.
Com o ano novo, chegam todas as profecias, todos os prognósticos e previsões – as visões apocalípticas de um mundo que vai se transformar, de um planeta entrando nas suas dores de parto, contorcendo-se para dar à luz uma Nova Terra.
Na missa da noite de 31 de dezembro, frei Saul diz na homilia: “Gente, não muda nada; apenas o ponteiro do relógio. Amanhã é amanhã; depois de amanhã... e assim sucessivamente”. Sábias palavras. Olho para o meu relógio, um que ganhei do meu lindo, um Natal antes de ele falecer.
Mudou o ano ou mudei eu? O que mudou perante a mínima poesia no sumidouro da vida? Onde estamos nós? Acompanhando a estrela Vega, possivelmente, perseguida pelo Sol da nossa galáxia, enquanto a luz caminha ao redor de nós?
Misericórdia! Nem sei mais o que dizer, de tão emocionada que estou. Emplacamos 2012, Sergio Antunes! Lembra da nossa saudação anual? Emplacamos, cara!
E assim, como não sou boba nem nada, encerro este arremedo de crônica, porque é preciso ter sabedoria para calar e para falar. E agora, silêncio. Deixa 2012 chegar. Já chegou? Mas eu nem vi, caramba!
Ah!... Deixa as Três Marias lá no alto, visíveis pela janela de vidro da minha cozinha. Três pontinhos tão distantes e belos, brilhando dentro deste pobre peito. Beijão!
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