É com profundo pesar que a Academia Piracicabana de Letras noticia o falecimento do seu ex-presidente, acadêmico Gustavo Jacques Dias Alvim.

Rio Piracicaba
Rio Piracicaba cheio (foto Ivana Negri)

Patrimônio da cidade, a Sapucaia florida (foto Ivana Negri)
Balão atravessando a ponte estaiada (foto Ivana Negri)
Diretoria 2025/2028
Presidente: Raquel Araujo Delvaje
Vice-presidente: Vitor Pires Vencovsky
Diretora de Acervo: Christina Aparecida Negro Silva
1a secretária: Elisabete Jurema Bortolin
2a secretária: Ivana Maria França de Negri
1o tesoureiro: Carmen Maria da Silva Fernandez Pilotto
2o tesoureiro: Edson Rontani Junior
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Jornalista responsável: Evaldo Vicente
Responsável pela edição da Revista: Ivana Maria França de Negri
Conselho editorial:
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quarta-feira, 15 de agosto de 2018
terça-feira, 27 de fevereiro de 2018
Acadêmico Gustavo Alvim no Recanto dos Livros
O Recanto dos Livros do “Lar dos Velhinhos de Piracicaba” retomou seus encontros mensais com personalidades ligadas ao campo da cultura em Piracicaba. O convidado desta vez foi o prof. Gustavo Jacques Dias Alvim.
Alvim é piracicabano adotivo, nascido na cidade de Vera Cruz, mas cuja trajetória profissional consolidou-se em Piracicaba onde foi membro da equipe diretiva das indústrias Dedini, vereador, presidente do XV de Novembro e reitor da Universidade Metodista de Piracicaba.
Alvim é piracicabano adotivo, nascido na cidade de Vera Cruz, mas cuja trajetória profissional consolidou-se em Piracicaba onde foi membro da equipe diretiva das indústrias Dedini, vereador, presidente do XV de Novembro e reitor da Universidade Metodista de Piracicaba.
Membro atuante de clubes de serviço, do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba (do qual é orador), preside a Academia Piracicabana de Letras e mantém vínculo com atividades culturais na cidade há muitos anos.
Para o coordenador do Recanto dos Livros, João Nassif, “a partir deste ano entregaremos aos palestrantes e amigos do Recanto um diploma de gratidão, especialmente confeccionado e com o aval do nosso presidente do Lar dos Velhinhos, Jairo Matos. Mais do que um gesto simbólico de gratidão aos que colaborarem conosco nestas Retrospectivas, será um estimulo a participação das várias gerações de intelectuais da nossa cidade para que ajudem a divulgar o espaço Recanto dos Livros, tragam os seus amigos e, especialmente, conheçam um pouco do nosso acervo, hoje superior a 15 mil livros, cuja venda tem possibilitado ajuda constante para as necessidades diárias e obras do Lar dos Velhinhos”.
Para o coordenador do Recanto dos Livros, João Nassif, “a partir deste ano entregaremos aos palestrantes e amigos do Recanto um diploma de gratidão, especialmente confeccionado e com o aval do nosso presidente do Lar dos Velhinhos, Jairo Matos. Mais do que um gesto simbólico de gratidão aos que colaborarem conosco nestas Retrospectivas, será um estimulo a participação das várias gerações de intelectuais da nossa cidade para que ajudem a divulgar o espaço Recanto dos Livros, tragam os seus amigos e, especialmente, conheçam um pouco do nosso acervo, hoje superior a 15 mil livros, cuja venda tem possibilitado ajuda constante para as necessidades diárias e obras do Lar dos Velhinhos”.
(Fotos Nascimento)
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João Nassif, organizador dos encontros, entregando o diploma de participação para Gustavo Alvim |
terça-feira, 25 de abril de 2017
QUAL É A SUA GRAÇA?
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Gustavo Jacques Dias Alvim - Cadeira n° 29 - Patrono: Laudelina Cotrim de Castro |
Qual é a
sua graça?
Maria da
Graça.
Fale sério,
não faça graça.
É sério,
não sei bancar a engraçada.
Mas,
também, não precisa ficar sem graça.
Aliás, você
é uma gracinha.
Você diz
isso para me deixar sem graça.
Não é isso.
A verdade é que estou engraçado por você!
Pois eu não
o quero nem de graça.
Ah! Sua
desgraçada !
Tenho
recebido tantas graças!
Mas, isso
não mais vai acontecer.
Graças a
Deus.
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
Acadêmico e vice presidente da APL assume a reitoria da UNIMEP
Nesta quinta-feira, 22 de novembro, o acadêmico e vice presidente da APL, professor Dr. Gustavo Jacques Dias Alvim, assumiu o cargo de Reitor da UNIMEP ( Universidade metodista de Piracicaba).
O evento teve apresentação do Dr. Wilson Roberto Zuccherato, Diretor Geral do Instituto Educacional Piracicabano da Igreja Metodista (IEP).
A acolhida foi feita pelo reverendo Nilson da Silva Júnior; seguida de liturgia de Ação de Graças feita pelo reverendo Tavernard Júnior; oração comunitária feita pela reverenda Yone da Silva e reflexão pastoral feita pela pastora Ana Glória Prates Gris da Silva, coordenadora da Pastoral Universitária e Escolar do IEP.
Os confrades da ACADEMIA PIRACICABANA DE LETRAS parabenizam pela conquista.
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
Declaração de amor aos livros
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Gustavo Jacques Dias Alvim Cadeira n° 29 Patrona: Laudelina Cotrim de Castro |
Desde minha tenra idade, o mundo das letras, palavras e frases
fascina-me. Fui apresentado a esse empolgante universo pela minha mãe,
inicialmente no lar, por meios lúdicos, folheando livros e revistas, fazendo
desenhos, recortes e pinturas, e, depois, aos sete anos, por ela mesma, no
Grupo Escolar “Castro Alves”, em Vera Cruz, pequena cidade paulista, onde
nasci, e no qual tive a alegria de tê-la como professora do primeiro ano
primário. Foi, portanto, a minha querida e saudosa genitora quem me
alfabetizou, usando a “Cartilha Ativa”, cujo método era o sintético,
responsável pela leitura rápida que adquiri.
A partir daí, apaixonei-me pela leitura. Estimulado pelos meus pais,
também leitores contumazes, tornei-me grande amigo de livros, revistas e tudo o
que fosse material impresso. Ainda
cursando o primário, pude ler os livros mais importantes para crianças então
publicados. Devorei, dentre outras, as famosas obras de Monteiro Lobato, com as
suas inesquecíveis personagens: Narizinho, Dona Benta, Visconde de Sabugosa,
bem como “Os doze trabalhos de Hércules” correspondendo a uma dúzia de volumes,
e vários outros livros de história, dos quais me lembro de: “Reinações de
Narizinho”, “Caçadas de Pedrinho”, “O Pica-pau Amarelo”, “Jeca Tatu”, “A Ilha
do Tesouro”, “Viagens de Gulliver”, dentre muitos outros. Além disso, minha
família assinava revistas infantis, famosas e de grande circulação, que
esperávamos mensalmente, vindas pelo correio, como o “Tico-tico” (com histórias
do Zé Macaco e Faustina; Chiquinho; Reco-reco, Bolão e Azeitona), “Globo
Juvenil”, “Gibi” e muitas outras de cunho moral, cívico, religioso ou de
simples entretenimento.
Lembro-me, também, que meu pai era assinante da “Folha da Manhã”
(atualmente, “Folha de São Paulo”), jornal diário que chegava da capital paulista
pelo trem do final da tarde, com notícias do dia anterior, que era lido
avidamente por ele, e igualmente da” Voz de Vera Cruz”, este de circulação
dominical, do qual meu progenitor era colaborador. Eu gostava de dar uma olhada nos dois jornais
e ler neles o que me parecia interessante. Foi esse contato prematuro e
despretensioso com os periódicos que me propiciou o único vício: ler jornais
diariamente. Quando não posso fazê-lo
parece-me que está faltando algo. Se não posso lê-los, guardo-os para dar uma
repassada em outro momento, antes de me desfazer deles. Antigamente, quando a
tinta dos jornais tinha um cheiro mais forte, eu dizia que era esse odor o que
me atraía. Posso dizer que leio jornais desde meus dez anos de idade.
Outro fato interessante, que confirma o meu amor pela leitura e que me
faz também voltar à pré-adolescência, foi a transformação da minha incipiente
biblioteca, para torná-la um espaço público. Minha família havia se mudado para
Piracicaba, onde, inicialmente, moramos numa casa antiga, espaçosa, com garage,
grande quintal, pomar, horta, galinheiro, quartinho para despejo e pátio
cimentado para jogar bola, andar de bicicleta etc. Havia também, construídos
separadamente da casa, mais quatro cômodos, três dos quais usados para instalar
o consultório médico do meu pai, destinando-se o que sobrava para ser o local
dos brinquedos, onde jogávamos, principalmente, futebol de botão, com
participação de vários amigos, meninos vizinhos de quarteirão. Nesse quarto,
cujo pé-direito era bastante alto, numa estante com várias prateleiras
espaçosas, que iam até o teto, a gente guardava os livros. Os meus amigos, que
iam para minha casa disputar os campeonatos de futebol de botão, não resistiam
ao desejo de folhear ou de ler aquelas publicações, atraentes, às quais muitos
deles não tinham acesso por falta de condições econômico-financeiras. Não era
incomum um ou outro pedir emprestado para levar para suas casas algum volume.
Isso me deu a idéia de organizar uma biblioteca. Com a ajuda de meu irmão, encapamos
todos os livros com papel pardo, numeramos os livros e revistas, colando nela
algarismos recortados de outros impressos para identificá-los, fizemos o
cadastro das obras, bem como dos consulentes. Para ter o direito de retirar o
livro e levá-lo para casa, por prazo determinado, o interessado tinha de se
associar à biblioteca e pagar uma pequena taxa mensal, que era integralmente
revertida para a ampliação do acervo. A iniciativa foi um sucesso e,
indubitavelmente, serviu para difundir o gosto pela leitura.
É sabido que a leitura é imprescindível e primordial na formação de um
escritor. Para escrever bem é preciso ler muito; não ter preguiça de consultar
dicionário, nem de reescrever muitas vezes o mesmo texto. Porque eu comecei a
ler muito cedo, também iniciei meus textos poéticos aos onze anos de idade. Fiz
poesia na infância e na adolescência e somente nesse período. Escrevi para
jornaizinhos escolares e tive o meu primeiro trabalho impresso publicado no
“Diário de Piracicaba”, aos 16 anos, por ter obtido uma menção honrosa num
concurso de contos de Natal, promovido por esse jornal já extinto.
Nunca mais parei de escrever. Com 20 anos, morando e estudando em São
Paulo, fui contratado como revisor de uma revista; dois anos depois eu era o
seu diretor-redator. Por onde passei, escolas, empresas, igreja, eventos,
clubes, eu semeei jornais. Fui fundador e sócio-proprietário de “A Província”,
juntamente com Cecílio Elias Netto. Escrevi livros. Fiz a edição de muitos
outros. Para onde eu vou, levo comigo algo para ler. Estimulo pessoas a lerem.
Vibro quando vejo meu neto e minha neta lendo seus livros, juntando dinheiro
para comprá-los ou indo ao dentista com um deles sob o braço.
Amo meus livros, adoro a minha modesta biblioteca! O mundo das letras é
o meu mundo!
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
PAIXÃO POR CARROS
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Gustavo Jacques Dias Alvim Cadeira n° 29 - Patrona: Laudelina Cotrim de Castro |
Em 1938, meu pai comprou um carro, o que não era comum. Poucas famílias podiam se dar a esse luxo. Durante minha infância e início da adolescência, ele teve esse automóvel, um Ford 1934, preto, duas portas, muito conservado, que ficou sobre cavaletes, guardado numa garagem por causa do racionamento da gasolina, provocado pela II Grande Guerra Mundial. Alguns proprietários de veículos automotores instalaram gasogênios (cujo combustível era o carvão vegetal e bastante perigoso por causa do fogo e do oxigênio) para poderem continuar rodando. Era uma solução trabalhosa, suja, cuja tecnologia meu pai recusou utilizar, preferindo comprar um cavalo para fazer suas visitas domiciliares no exercício da medicina, sua profissão. Durante meses, o carro ficou guardado, sem ser usado, numa garagem, no fundo do quintal; era um local que eu frequentava quase todo santo dia. Gostava de admirar o carro, sentar no banco do motorista e fingir que o estava dirigindo. Sonhava acordado.
Quando o conflito mundial terminou e meu pai recolocou o automóvel para rodar, eu me deliciava quando podia sair com ele para fazer curtos trajetos, uma vez que a cidade, onde vivíamos, era muito pequena. Ficava fascinado vendo-o dirigir. Não perdia nada e perguntava tudo. Para que serve esse pedal? E essa alavanca? E olhando para o velocímetro indagava: esse “relógio” pra que serve? Prestava muita atenção nos movimentos do motorista, para depois imitá-lo quando estava nos meus brinquedos.
Não via o dia e a hora de poder dirigir um carro de verdade. A oportunidade chegou quando eu tinha uns 15 anos. O carro do meu pai já era outro, mas também Ford e mais novo. Sua cor era o cinza e o ano de fabricação, 1948. Um automóvel mais bonito com suas linhas curvas, bem maior (acomodava seis pessoas), com muitas novidades, dentre elas o câmbio junto ao volante (quatro marchas manuais: 1ª, 2ª, 3ª e ré), buzina mais sonora, quatro portas, porta-malas e tantas outras novidades. A chance de guiar o “possante” chegou quando, saindo, num domingo à tarde, com meu tio Jamil, muito querido, ele me perguntou:
— Você sabe dirigir?
E eu, na ânsia de fazê-lo, respondi, sem hesitar:
— Nunca dirigi, mas eu acho que sou capaz de guiá-lo.
E completei: — de tanto brincar de motorista, de tanto observar o meu pai, eu aprendi.
Meu tio foi muito pronto e corajoso:
— Então sente aqui e saia com o carro.
Não pensei duas vezes. Não podia perder a oportunidade, mesmo estando um pouco temeroso. Tomei o lugar dele, que deixara o motor funcionando e o câmbio em ponto morto, apertei a embreagem, engatei a primeira marcha, soltei o freio de mão e, cautelosamente, na rua plana, fui fazendo o que vira meu pai fazer tantas vezes: aliviar a embreagem e acelerar suavemente. Quando a máquina possante começou a se mover, senti-me vitorioso, ri nervosamente e fui em frente com os incentivos de meu tio.
E ele me dizia:
— Você estava querendo me enganar quando disse que nunca havia dirigido um carro.
Ele não acreditava em mim; mal sabia que eu também não estava totalmente seguro de que fosse capaz. Lembro-me de que estávamos próximos da ESALQ e ele me propôs que levasse o carro de volta à casa de meus avós, onde estavam meus pais, precisamente, na rua do Vergueiro, entre a Prudente e a São José, fazendo, contudo, um trajeto que não cortasse o centro, para evitar o movimento, que, na realidade, era mínimo, ou, então, o encontro com algum fiscal de trânsito da Prefeitura, pois era esta e não a Polícia que cuidava dessa área.
O fato é que cheguei vitorioso. Meu tio adiantou-se para contar ao meu pai que “o menino sabia dirigir e que tinha trazido o carro da ESALQ até ali”. Ele não acreditou; pensou que meu tio estivesse brincando, porém, com a insistência deste, me quis ver dando uma volta no quarteirão. E lá fui eu fazer a demonstração. Felizmente, tudo deu certo. Daí, para frente, sempre que surgia uma oportunidade, meu pai me deixava dirigir um pouquinho ou então fazer algumas manobras . Depois dos dezesseis eu saía, sem habilitação, sozinho ou com minha mãe ou meu avô, que não dirigiam, mas solicitavam os meus préstimos, como motorista, para levá-los, quando queriam comprar verduras no Mercado ou farinha de milho numa fábrica perto da Ponte do Mirante. Para dizer a verdade, até viagens a Rio Claro, Limeira e outras localidades próximas eu fiz, para levar meus pais à estação da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, pois costumavam pegar o trem para viajar à Alta Paulista, onde tinham um sítio com plantação de café.
Houve um fato muito interessante. Às vésperas de completar meus dezoito anos, tanto minha mãe como meu avô me chamaram, separadamente, para dizerem, em sigilo, que me dariam de presente a importância para pagar a minha carteira de motorista. Meu avô raramente presenteava os netos por ocasião do aniversário, fazia-o, sim, quando a gente menos esperava. Eu queria ganhar presente dos dois. Então, combinei com minha mãe o seguinte: aceitaria o presente dele, enquanto ela, me daria uma outra coisa. Assim, garanti os dois.
Não é preciso dizer que dei entrada nos papéis para tirar a carta de motorista na Seção de Trânsito da Delegacia de Polícia, no dia seguinte, daquele em que completei meus 18 anos, uma vez que não havia obrigatoriedade de se fazer o curso, aliás, nem auto-escola havia. Menos de 20 dias depois, eu já era motorista habilitado e documentado.
A partir daí o sonho já era outro: comprar o meu próprio carro. Mas essa é outra história, que vou deixar para outro dia!
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Meu tio Nenezinho
O tio Nenezinho foi uma figura ímpar e inesquecível. Chamava-se Docler, mas detestava o seu nome. De vez em quando, para externar seu desagrado, perguntava:
−“Você conheceu outro Docler? Creio que eu seja o primeiro e único!”
Realmente, nunca eu soube de outra pessoa assim chamada. Nem o Google, nos dias de hoje sabe. Já o consultei.
Minha aproximação, com esse querido tio, deu-se a partir dos meus doze anos, quando me mudei para Piracicaba − cidade em que ele morava no final da década dos anos 80. Nessa época as famílias se visitavam mais, independentemente de datas especiais, como as de aniversário ou casamento; se viam mais, e não somente em ocasiões obrigatórias de encontros por causa de doença ou morte de algum familiar. A gente fazia visitas para amigos e parentes, sem hora marcada. Podia-se chegar a qualquer momento, batendo palmas e gritando “oi de casa!”, para simplesmente bater papo, “filar bóia”, tomar cafezinho ou jogar cartas etc.
Esses encontros se davam ora na residência de um, ora na de outro, contudo a casa do tio Nenezinho tinha uma atração especialíssima: a piscina. Pelo que sei, foi a primeira a ser construída numa casa particular em Piracicaba. Era novidade e fazia enorme sucesso. Aliás, a sua residência também chamava a atenção pelo estilo normando, então, muito raro na arquitetura domiciliar. Essa casa, na esquina das ruas XV de Novembro e José Pinto de Almeida, em Piracicaba, ainda existe, mas, há muito tempo, é propriedade de terceiros. Atualmente, essa inusitada construção já não mais chama a atenção, pois está escondida atrás de muros levantados em função da crescente violência urbana.
Foi nessa piscina que aprendi a nadar, com instruções de minha tia, exímia nadadora, e que praticava esse esporte para manter a forma física. Por sua vez, não guardo lembrança do tio Nenezinho nadando nesse local. Para cuidar de sua performance fazia suas caminhadas, deixando o seu carro somente para momentos e trajetos especiais. Aliás, eu admirava o seu automóvel: um belo Oldsmobile-88, hidramático (como era então chamado o câmbio automático), quatro portas, lindo “bel-air”, de cores suaves, produzido nos anos cinqüenta. Meu sonho era, um dia, dirigi-lo. Como tudo dele, o carro era bem cuidado; estava sempre limpo, brilhante e impecável.
O tio Nenezinho tinha um belo físico, creio que resultado do remo que praticara. na juventude. no caudaloso rio Piracicaba. Seus cabelos, totalmente brancos desde os seus 25 ou 30 anos, com o que não se conformava, chamavam a atenção. Semblante alegre, bem apessoado, vestia-se com muito gosto. Seus ternos eram feitos na capital paulista, em alfaiate de renome ou de “grife”, como se diz hoje, e todo o restante, em matéria de indumentária, era do bom e do melhor, o que garantia a sua notória elegância. Parecia um verdadeiro lorde!
O Hotel Central, o melhor da cidade até a década dos anos 60 ou pouco mais, pertencia à família do tio Nenezinho. Ficava no chamado Largo da Matriz (depois Praça da Catedral), na esquina da Moraes Barros, onde hoje há um edifício-garage. Era um prédio imponente, demolido, pelo que se dizia, para evitar o provável tombamento (antes o hotel fora residência do senador Vergueiro, daí seu valor histórico), quando já não mais pertencia aos sucessores de Janjão de Castro, pai do meu tio. Não sei muito dessa história, nem de sua veracidade, porém “se non è vero, è bene trovato”.
Os “sinais exteriores” indicavam que sua família tinha recursos e rendas que lhe propiciaram uma vida tranquila. Presumo que, mais tarde, com a morte de seus pais, tenha herdado parte do hotel, que estava sob a direção de seu irmão. A exploração da atividade hoteleira, e, quiçá, algo mais aplicado em negócios, na condição de sócio capitalista, lhe permitiram continuar levando vida folgada e de bom nível. Ademais, sua esposa, minha tia por parte de mãe, foi professora em escolas estaduais (a Escola Normal, depois Instituto de Educação Sud Mennucci foi uma delas), quando os mestres ganhavam muito bem. Quando a gente perguntava ao tio Nenezinho o que ele fazia, respondia jocosamente:
− Sou jurista.
− Ah! o senhor é advogado?
− Não, eu vivo de juros! E dava aquela risada gostosa.
Sei que, durante algum tempo, ele foi sócio de outros tios meus, seus cunhados, inicialmente numa livraria e depois numa casa de material elétrico, locais onde ele passava parte de suas horas, porém sem se envolver no negócio. Era realmente o tal sócio capitalista, nada de trabalho. Para matar o tempo, sempre encontrava sempre alguém disponível, tal como ele, com quem entabulava uma boa conversa fiada. Outras vezes, estava entre os que formavam uma roda, na praça, para ouvir as piadas contadas por Bráulio de Azevedo, ou admirar as imitações que este fazia com perfeição.
Brincalhão, meu tio gostava de dizer: “Se tiver de me faltar algo na vida, que me falte o trabalho”. Muito espirituoso e bem humorado, tinha frases clássicas e peculiares, verdadeiras marcas registradas de sua alegria, bem como anedotas inocentes, mas muito gozadas, que facilmente provocavam o riso, quando não verdadeiras gargalhadas. Mesmo que repetisse o repertório, o que era costumeiro, a gente sempre as achava engraçadas, como se fosse a primeira vez que a gente estivesse ouvindo.
Até hoje, guardo muitas das suas famosas frases, que, emprego em momentos apropriados, lembrando-me dele, com grande saudade. Uma delas era: "Calma, cavalos, calma...”, imitando os locutores de corridas de cavalos no Jockey Clube de São Paulo, que ele proferia quando alguém se exaltava. Ou então, a rima que fazia, com o tempo de verbo terminado em “emos”, ao qual, por exemplo, acrescentava a expressão: “como dizia Honório de Lemos”. Por exemplo: “Cantemos como dizia Honório de Lemos”. Tola brincadeira, mas que saída da boca dele despertava o riso.
Uma ocasião, ele decidiu que iria fazer alguma coisa, pois estava se sentido inútil. Pediu ao meu tio Jacques, do qual era sócio numa casa comercial de material elétrico, que o ensinasse a consertar ferro de passar roupa. Prontamente foi atendido e um funcionário passou a dar-lhe aulas práticas até ele aprender a fazer o conserto. Depois de duas semanas, chegou o grande dia. Atendeu uma senhora que levou o ferro elétrico de passar roupa para a troca da resistência. Depois de um rápido exame, constatou que realmente estava queimada. Disse-lhe à mulher que iria fazer o serviço, pedindo-lhe que voltasse no final da tarde. Na hora aprazada, lá estava ele todo vitorioso e exultante, aguardando a chegada da freguesa. Ao vê-la, explicou o que fizera, embrulhou o ferro, cobrou o preço e entregou-o a ela. Quando esta pegou o ferro, estranhando o peso, reclamou:
− O ferro ficou muito leve. O que aconteceu?
Vermelho de vergonha, a “ficha” caíra. Havia se esquecido de colocar a peça de ferro, sobre a resistência, que dava ao ferro o peso necessário para alisar os tecidos. Nunca mais consertou coisa alguma. Foi a primeira e única vez. Desistiu do ofício.
Na verdade, eletricidade não era coisa de que gostasse. Choque então lhe metia medo. Basta dizer que para trocar uma lâmpada queimada em sua casa, ele desligava o “relógio de força”. Certa vez, ao terminar uma operação dessas foi ligar a força e, coincidentemente, no momento que empurrou a chave do relógio, estava uma pessoa com o dedo na campainha da porta rua, que ao emitir o forte sinal sonoro quase o derrubou, dado o susto que levou. E minha tia dizia, é realmente um nenezinho!
Ele gostava de bons relógios e os tinha; nada menos que o Patek Philippe e Vacheron Costantin, até hoje entre os considerados melhores e mais caros do mundo. Um paradoxo, pois não tinha compromissos com hora marcada. Aliás, não tinha horário para nada, a não ser para as refeições. Ele não se levantava muito cedo. Com a calma que Deus lhe deu, depois de fazer a barba e tomar seu banho matutino, ainda de pijama, porém com um vistoso chambre e de chinelos, se deliciava com seu demorado café. A seguir, ia para a sala de estar, onde num confortável sofá, fazia a leitura do Estadão, seu jornal preferido, cuja linha editorial combinava, política e ideologicamente, com suas idéias, bastante conservadoras. Depois, vestia-se como se fosse para uma cerimônia importante: terno, ou seja, paletó e gravata, sempre combinando os tons, para dar uma simples saída nos arredores. Seu pretexto era fazer compras no supermercado, levando a lista que a empregada preparava. Ia a pé, andando coisa de uns oito ou dez quarteirões, sem pressa. Nunca comprava tudo. Sabem por quê? Dizia ele:
− Se eu trouxer tudo, o que farei à tarde?
Pois bem, chegava, tirava a indumentária, colocando-se mais a vontade, para terminar a leitura do jornal. Ficava por ali, com o rádio ligado, pois tinha algo importante para conferir. Ele ouvia a Rádio Gazeta que, faltando segundos para o meio-dia, tocava uma sirene num determinado tom e volume, que eram aumentados ao marcar exatamente 12 horas. Então ele olhava o seu relógio para conferir e declarar-se vitorioso:
− O relógio da Rádio Gazeta está certo!
Interessante: ele era tímido e não gostava de ambientes estranhos. Quando era convidado para uma festa, que não fosse na família ou em casa de amigo mais íntimo, dificilmente ele ia. Costumava usar uma das suas frases lapidares: “Não gosto de festa que tem bugio de outro mato”. Preferia uma partida inocente de baralho, caixeta ou buraco, com apostas bem fraquinhas, com os familiares, aliás, o que era comum.
Nessa linha, certo dia, andando com ele pela Avenida São Luiz, em São Paulo, dei por falta dele. No meio do movimento de pedestres, ele desapareceu. Olhei para um lado, para outro e nada de encontrá-lo. Passados pouquíssimos minutos, eu já preocupado, o vejo sair de uma loja.
Indaguei-lhe:
− Vendo vitrines? Comprando algo?
− Não. Nada disso. Ocorre que eu vi vindo pela mesma calçada, em direção contrária, uma família conhecida lá de Piracicaba. Com certeza, o pessoal iria parar, pois há tempos não via aquela gente, e, mecanicamente ou protocolarmente, perguntar como estou indo. E eu a eles, teria de fazer educadamente a mesma indagação. Todos diríamos que estava tudo bem, mesmo que não estivesse, para então cada qual seguir seu caminho. Para mim, isso não acrescenta nada, é pura perda de tempo, razão pela qual, quando posso, evito esses encontros. Seguramente, para ele, aqueles eram “bugios de outro mato”.
Mais uma apenas, para terminar. Meu tio Nenezinho não gostava de viajar, ao contrário da minha tia, que não perdia oportunidade de fazê-lo. Ela combinava com alguém, uma amiga, uma cunhada e saía pelo Brasil e pelo mundo: de ônibus ou navio. Ela morria de medo de avião. Pois bem, meu tio renegava ter de ir levá-la ou buscá-la, por exemplo, em Santos, quando a viagem era por mar. Contudo, uma vez ele surpreendeu a todos. Minha tia planejava uma viagem à Europa, com minha avó e uma tia, e ele decidiu ir também. Foi, mas renegando tudo, não achando graça em nada, dizendo que o rio Piracicaba era mais bonito do que o Reno e coisas que tais. Houve um lugar em que ele se transformou. Estava alegre, quis sair para fazer compras, logo que chegou. Sabem onde? Na Suíça. Por quê? Era o lugar para comprar um daqueles famosos relógios, os melhores relógios do mundo daqueles dias. Também, depois de adquirir o que pretendia, disse:
− Agora, já posso ir embora. Era tudo o que eu queria dessa viagem.
O curioso é que quando o navio atracou de volta, o seu passaporte, que, conforme normas internacionais, ficara, durante a viagem, tal como o dos outros passageiros, com o comandante do navio, havia sumido. Enquanto não achassem, ele não poderia desembarcar. E ele, louco para desembarcar, falava para o encarregado do controle: durante a viagem
− Podem ficar com o meu passaporte. Façam dele o que quiserem, pois não pretendo viajar nunca mais!
Que saudade do tio Nenezinho! Ele gostava da vida. Amava-a tanto que costumava dizer:
− Quando eu morrer, quero que coloquem no meu túmulo o seguinte epitáfio: “Aqui jaz, muito contra sua vontade, Docler de Castro”. E com todo o seu apego à vida, morreu, quatro meses depois do falecimento da sua esposa, sem ter absolutamente nada, a não ser saudade dela.
O autor é membro da Academia Piracicabana de Letras e tem como patronesse a Profa. Laudelina Cotrim de Castro, esposa de Docler de Castro, o seu tio retratado nesta crônica.
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Gustavo Jacques Dias Alvim Cadeira n° 29 - Patrona: Laudelina Cotrim de Castro |
−“Você conheceu outro Docler? Creio que eu seja o primeiro e único!”
Realmente, nunca eu soube de outra pessoa assim chamada. Nem o Google, nos dias de hoje sabe. Já o consultei.
Minha aproximação, com esse querido tio, deu-se a partir dos meus doze anos, quando me mudei para Piracicaba − cidade em que ele morava no final da década dos anos 80. Nessa época as famílias se visitavam mais, independentemente de datas especiais, como as de aniversário ou casamento; se viam mais, e não somente em ocasiões obrigatórias de encontros por causa de doença ou morte de algum familiar. A gente fazia visitas para amigos e parentes, sem hora marcada. Podia-se chegar a qualquer momento, batendo palmas e gritando “oi de casa!”, para simplesmente bater papo, “filar bóia”, tomar cafezinho ou jogar cartas etc.
Esses encontros se davam ora na residência de um, ora na de outro, contudo a casa do tio Nenezinho tinha uma atração especialíssima: a piscina. Pelo que sei, foi a primeira a ser construída numa casa particular em Piracicaba. Era novidade e fazia enorme sucesso. Aliás, a sua residência também chamava a atenção pelo estilo normando, então, muito raro na arquitetura domiciliar. Essa casa, na esquina das ruas XV de Novembro e José Pinto de Almeida, em Piracicaba, ainda existe, mas, há muito tempo, é propriedade de terceiros. Atualmente, essa inusitada construção já não mais chama a atenção, pois está escondida atrás de muros levantados em função da crescente violência urbana.
Foi nessa piscina que aprendi a nadar, com instruções de minha tia, exímia nadadora, e que praticava esse esporte para manter a forma física. Por sua vez, não guardo lembrança do tio Nenezinho nadando nesse local. Para cuidar de sua performance fazia suas caminhadas, deixando o seu carro somente para momentos e trajetos especiais. Aliás, eu admirava o seu automóvel: um belo Oldsmobile-88, hidramático (como era então chamado o câmbio automático), quatro portas, lindo “bel-air”, de cores suaves, produzido nos anos cinqüenta. Meu sonho era, um dia, dirigi-lo. Como tudo dele, o carro era bem cuidado; estava sempre limpo, brilhante e impecável.
O tio Nenezinho tinha um belo físico, creio que resultado do remo que praticara. na juventude. no caudaloso rio Piracicaba. Seus cabelos, totalmente brancos desde os seus 25 ou 30 anos, com o que não se conformava, chamavam a atenção. Semblante alegre, bem apessoado, vestia-se com muito gosto. Seus ternos eram feitos na capital paulista, em alfaiate de renome ou de “grife”, como se diz hoje, e todo o restante, em matéria de indumentária, era do bom e do melhor, o que garantia a sua notória elegância. Parecia um verdadeiro lorde!
O Hotel Central, o melhor da cidade até a década dos anos 60 ou pouco mais, pertencia à família do tio Nenezinho. Ficava no chamado Largo da Matriz (depois Praça da Catedral), na esquina da Moraes Barros, onde hoje há um edifício-garage. Era um prédio imponente, demolido, pelo que se dizia, para evitar o provável tombamento (antes o hotel fora residência do senador Vergueiro, daí seu valor histórico), quando já não mais pertencia aos sucessores de Janjão de Castro, pai do meu tio. Não sei muito dessa história, nem de sua veracidade, porém “se non è vero, è bene trovato”.
Os “sinais exteriores” indicavam que sua família tinha recursos e rendas que lhe propiciaram uma vida tranquila. Presumo que, mais tarde, com a morte de seus pais, tenha herdado parte do hotel, que estava sob a direção de seu irmão. A exploração da atividade hoteleira, e, quiçá, algo mais aplicado em negócios, na condição de sócio capitalista, lhe permitiram continuar levando vida folgada e de bom nível. Ademais, sua esposa, minha tia por parte de mãe, foi professora em escolas estaduais (a Escola Normal, depois Instituto de Educação Sud Mennucci foi uma delas), quando os mestres ganhavam muito bem. Quando a gente perguntava ao tio Nenezinho o que ele fazia, respondia jocosamente:
− Sou jurista.
− Ah! o senhor é advogado?
− Não, eu vivo de juros! E dava aquela risada gostosa.
Sei que, durante algum tempo, ele foi sócio de outros tios meus, seus cunhados, inicialmente numa livraria e depois numa casa de material elétrico, locais onde ele passava parte de suas horas, porém sem se envolver no negócio. Era realmente o tal sócio capitalista, nada de trabalho. Para matar o tempo, sempre encontrava sempre alguém disponível, tal como ele, com quem entabulava uma boa conversa fiada. Outras vezes, estava entre os que formavam uma roda, na praça, para ouvir as piadas contadas por Bráulio de Azevedo, ou admirar as imitações que este fazia com perfeição.
Brincalhão, meu tio gostava de dizer: “Se tiver de me faltar algo na vida, que me falte o trabalho”. Muito espirituoso e bem humorado, tinha frases clássicas e peculiares, verdadeiras marcas registradas de sua alegria, bem como anedotas inocentes, mas muito gozadas, que facilmente provocavam o riso, quando não verdadeiras gargalhadas. Mesmo que repetisse o repertório, o que era costumeiro, a gente sempre as achava engraçadas, como se fosse a primeira vez que a gente estivesse ouvindo.
Até hoje, guardo muitas das suas famosas frases, que, emprego em momentos apropriados, lembrando-me dele, com grande saudade. Uma delas era: "Calma, cavalos, calma...”, imitando os locutores de corridas de cavalos no Jockey Clube de São Paulo, que ele proferia quando alguém se exaltava. Ou então, a rima que fazia, com o tempo de verbo terminado em “emos”, ao qual, por exemplo, acrescentava a expressão: “como dizia Honório de Lemos”. Por exemplo: “Cantemos como dizia Honório de Lemos”. Tola brincadeira, mas que saída da boca dele despertava o riso.
Uma ocasião, ele decidiu que iria fazer alguma coisa, pois estava se sentido inútil. Pediu ao meu tio Jacques, do qual era sócio numa casa comercial de material elétrico, que o ensinasse a consertar ferro de passar roupa. Prontamente foi atendido e um funcionário passou a dar-lhe aulas práticas até ele aprender a fazer o conserto. Depois de duas semanas, chegou o grande dia. Atendeu uma senhora que levou o ferro elétrico de passar roupa para a troca da resistência. Depois de um rápido exame, constatou que realmente estava queimada. Disse-lhe à mulher que iria fazer o serviço, pedindo-lhe que voltasse no final da tarde. Na hora aprazada, lá estava ele todo vitorioso e exultante, aguardando a chegada da freguesa. Ao vê-la, explicou o que fizera, embrulhou o ferro, cobrou o preço e entregou-o a ela. Quando esta pegou o ferro, estranhando o peso, reclamou:
− O ferro ficou muito leve. O que aconteceu?
Vermelho de vergonha, a “ficha” caíra. Havia se esquecido de colocar a peça de ferro, sobre a resistência, que dava ao ferro o peso necessário para alisar os tecidos. Nunca mais consertou coisa alguma. Foi a primeira e única vez. Desistiu do ofício.
Na verdade, eletricidade não era coisa de que gostasse. Choque então lhe metia medo. Basta dizer que para trocar uma lâmpada queimada em sua casa, ele desligava o “relógio de força”. Certa vez, ao terminar uma operação dessas foi ligar a força e, coincidentemente, no momento que empurrou a chave do relógio, estava uma pessoa com o dedo na campainha da porta rua, que ao emitir o forte sinal sonoro quase o derrubou, dado o susto que levou. E minha tia dizia, é realmente um nenezinho!
Ele gostava de bons relógios e os tinha; nada menos que o Patek Philippe e Vacheron Costantin, até hoje entre os considerados melhores e mais caros do mundo. Um paradoxo, pois não tinha compromissos com hora marcada. Aliás, não tinha horário para nada, a não ser para as refeições. Ele não se levantava muito cedo. Com a calma que Deus lhe deu, depois de fazer a barba e tomar seu banho matutino, ainda de pijama, porém com um vistoso chambre e de chinelos, se deliciava com seu demorado café. A seguir, ia para a sala de estar, onde num confortável sofá, fazia a leitura do Estadão, seu jornal preferido, cuja linha editorial combinava, política e ideologicamente, com suas idéias, bastante conservadoras. Depois, vestia-se como se fosse para uma cerimônia importante: terno, ou seja, paletó e gravata, sempre combinando os tons, para dar uma simples saída nos arredores. Seu pretexto era fazer compras no supermercado, levando a lista que a empregada preparava. Ia a pé, andando coisa de uns oito ou dez quarteirões, sem pressa. Nunca comprava tudo. Sabem por quê? Dizia ele:
− Se eu trouxer tudo, o que farei à tarde?
Pois bem, chegava, tirava a indumentária, colocando-se mais a vontade, para terminar a leitura do jornal. Ficava por ali, com o rádio ligado, pois tinha algo importante para conferir. Ele ouvia a Rádio Gazeta que, faltando segundos para o meio-dia, tocava uma sirene num determinado tom e volume, que eram aumentados ao marcar exatamente 12 horas. Então ele olhava o seu relógio para conferir e declarar-se vitorioso:
− O relógio da Rádio Gazeta está certo!
Interessante: ele era tímido e não gostava de ambientes estranhos. Quando era convidado para uma festa, que não fosse na família ou em casa de amigo mais íntimo, dificilmente ele ia. Costumava usar uma das suas frases lapidares: “Não gosto de festa que tem bugio de outro mato”. Preferia uma partida inocente de baralho, caixeta ou buraco, com apostas bem fraquinhas, com os familiares, aliás, o que era comum.
Nessa linha, certo dia, andando com ele pela Avenida São Luiz, em São Paulo, dei por falta dele. No meio do movimento de pedestres, ele desapareceu. Olhei para um lado, para outro e nada de encontrá-lo. Passados pouquíssimos minutos, eu já preocupado, o vejo sair de uma loja.
Indaguei-lhe:
− Vendo vitrines? Comprando algo?
− Não. Nada disso. Ocorre que eu vi vindo pela mesma calçada, em direção contrária, uma família conhecida lá de Piracicaba. Com certeza, o pessoal iria parar, pois há tempos não via aquela gente, e, mecanicamente ou protocolarmente, perguntar como estou indo. E eu a eles, teria de fazer educadamente a mesma indagação. Todos diríamos que estava tudo bem, mesmo que não estivesse, para então cada qual seguir seu caminho. Para mim, isso não acrescenta nada, é pura perda de tempo, razão pela qual, quando posso, evito esses encontros. Seguramente, para ele, aqueles eram “bugios de outro mato”.
Mais uma apenas, para terminar. Meu tio Nenezinho não gostava de viajar, ao contrário da minha tia, que não perdia oportunidade de fazê-lo. Ela combinava com alguém, uma amiga, uma cunhada e saía pelo Brasil e pelo mundo: de ônibus ou navio. Ela morria de medo de avião. Pois bem, meu tio renegava ter de ir levá-la ou buscá-la, por exemplo, em Santos, quando a viagem era por mar. Contudo, uma vez ele surpreendeu a todos. Minha tia planejava uma viagem à Europa, com minha avó e uma tia, e ele decidiu ir também. Foi, mas renegando tudo, não achando graça em nada, dizendo que o rio Piracicaba era mais bonito do que o Reno e coisas que tais. Houve um lugar em que ele se transformou. Estava alegre, quis sair para fazer compras, logo que chegou. Sabem onde? Na Suíça. Por quê? Era o lugar para comprar um daqueles famosos relógios, os melhores relógios do mundo daqueles dias. Também, depois de adquirir o que pretendia, disse:
− Agora, já posso ir embora. Era tudo o que eu queria dessa viagem.
O curioso é que quando o navio atracou de volta, o seu passaporte, que, conforme normas internacionais, ficara, durante a viagem, tal como o dos outros passageiros, com o comandante do navio, havia sumido. Enquanto não achassem, ele não poderia desembarcar. E ele, louco para desembarcar, falava para o encarregado do controle: durante a viagem
− Podem ficar com o meu passaporte. Façam dele o que quiserem, pois não pretendo viajar nunca mais!
Que saudade do tio Nenezinho! Ele gostava da vida. Amava-a tanto que costumava dizer:
− Quando eu morrer, quero que coloquem no meu túmulo o seguinte epitáfio: “Aqui jaz, muito contra sua vontade, Docler de Castro”. E com todo o seu apego à vida, morreu, quatro meses depois do falecimento da sua esposa, sem ter absolutamente nada, a não ser saudade dela.
O autor é membro da Academia Piracicabana de Letras e tem como patronesse a Profa. Laudelina Cotrim de Castro, esposa de Docler de Castro, o seu tio retratado nesta crônica.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Laudelina Cotrim de Castro

Colaboração do Acadêmico Gustavo Jacques Dias Alvim
Cadeira n° 29 - Patrona: Laudelina Cotrim de Castro
Laudelina Cotrim de Castro
Escolhi para patronesse da cadeira, que ora ocupo na Academia Piracicabana de Letras, a saudosa professora Laudelina Cotrim de Castro, que nasceu no dia 12 de abril de 1907 e faleceu em Piracicaba, aos 74 anos, no dia 13 de setembro de 1981. Era filha do Prof. Benedito Cotrim Dias (professor e diretor de escola primária) e de Cândida Wolf Cotrim Dias (do lar). Foi casada com Docler de Castro; não teve filhos.
Formou-se professora normalista na Escola Complementar, hoje Instituto de Educação “Sud Mennucci” e dedicou sua vida ao magistério, sua grande paixão, e, mais tarde, atuou, durante muitos anos, na antiga Escola Normal Oficial de Piracicaba, depois Escola Normal “Sud Mennucci”, instituição em que se formara, e também na Escola Normal “Miss Martha Watts” do Colégio Piracicabano, sempre na área da pedagogia, ensinando a disciplina Prática da Educação. Quando tinha seus quase 50 anos de vida, tomou uma decisão corajosa: transferiu-se para São Paulo, para fazer o vestibular para o Curso de Pedagogia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade de São Paulo, na Rua Maria Antonia, uma das mais renomadas do país, apesar de já ser titular, por concurso público, da cadeira que ocupava na Escola Normal Oficial, em Piracicaba. Licenciou-se em 1959. Depois de lecionar na própria instituição em que se formara, aposentada, voltou a residir em Piracicaba. Ela teve, também, nessa cidade, na década dos anos 40, um curso de admissão ao ginásio (que, então, exigia exame para ingresso), reconhecido pela sua qualidade e conseqüente elevado número de alunos aprovados.
A Profª Laudelina, que os íntimos chamavam de Lina, era uma pessoa eclética e multifacetada. Enquanto residiu em Piracicaba destacou-se, não só como professora, dedicada, inteligente e
culta, mas também como animadora cultural. Amante da música, era pianista, bailarina, acordeonista, violonista e cantora. Gostava de organizar shows artísticos, espetáculos teatrais e de balé (eventos que montava e acompanhava ao piano), bem como outros tipos de festas, envolvendo seus alunos e pessoas da sociedade. Um desses espetáculos, muito esperado, era o “Show Normalista”, realizado, anualmente, no antigo Teatro Santo Estevão, demolido em 1952. Nessas ocasiões ela fazia de tudo: preparava o roteiro e “scripts”, montava as cenas, fazia o esboço dos roteiros e trajes das persona-gens, ensaiava, buscava apoios e participava pessoalmente do espetáculo. Nada lhe escapava; era exigente, pois queria tudo o mais perfeito possível. Nela transbordavam a alegria e o entusiasmo. Tinha uma criatividade e dinamismo invejáveis. Em tudo punha muita beleza e arte.
Maria Aparecida Mahle, a partir de pesquisas, registrou que a Profª Laudelina levou a efeito o primeiro desfile de moda, em Piracicaba,. Sobre ela escreveu:
“Professora interessante, cheia de vivacidade e energia foi Laudelina Cotrim de Castro. Para organizar uma festa escolar, fazer a coreografia de um bailado, podiam contar sempre com seus préstimos e qualidades. Creio, também, que o primeiro desfile de modas que Piracicaba presen¬ciou foi organizado por ela, em 1946, no Teatro Santo Estevão. Tinha o mesmo a finalidade de colaborar com os formandos do ginásio, daquele ano, do “Sud Mennucci”; a renda era para pagar as despesas com a festa. Nenhuma casa de modas patrocinava o evento e desfilávamos com os vestidos confeccionados por nossas próprias costureiras. Também não havíamos feito nenhum treinamento especial; apenas quem gostava e “levava jeito” participava. Isso Laudelina resolvia... E para desfilarmos havia “música ao vivo”. O evento, seguido de uma brincadeira dançante, foi um sucesso” (Extraído de “A Província” – www.aprovincia.com.br).
Estava, também, sempre envolvida nos movimentos da vida cultural da cidade, na qual tinha presença marcante. Publicou muitos artigos, alguns polêmicos, no “Jornal de Piracicaba” e em outros periódicos, sobre assuntos variados e a respeito de temas da sua área, a Educação. Erudita, lia muito. Inveja a sua biblioteca e o seu vasto conhecimento, inclusive de idiomas estrangeiros. Quando eu tinha dúvidas ou necessidade de ajuda para algum trabalho escolar era a ela que eu recorria. E mais, falava muito bem, uma grande oradora.
Ela gostava de viajar e de organizar viagens, muitas delas para seus alunos. Aliás, numa época em que as viagens não eram tão fáceis e comuns, não perdia oportunidade de conhecer novos lugares, no Brasil e no exterior. Tinha horror a viagens aéreas, preferindo sempre a via marítima ou terrestre. Como o seu marido não apreciava muito esses périplos, ela, se articulava com colegas ou amigas, para fazê-los. Visitou a Europa, inclusive a Rússia, em tempos de “guerra fria”, e países latino-americanos.
Outra faceta de sua personalidade era o gosto pelo esporte, especificamente a natação, que praticava regularmente, para manter o seu preparo físico. Ao que me consta, foi na sua residência, imóvel que chamava a atenção pelo inusitado estilo normando de sua arquitetura, edificada em 1948 (imóvel ainda hoje existente, na Rua 15 de Novembro, esquina com a Rua José Pinto de Almeida), que se fez a primeira piscina numa casa particular em Piracicaba.
O Legislativo piracicabano homenageou essa ilustre e querida educadora, dando o seu nome a uma avenida, junto ao Bosque da Água Branca, perto do ribeirão Piracicamirim.
De um artigo de autoria do professor, escritor e jornalista Leandro Guerrini, sobre a Profª Laudelina, publicado no “Jornal de Piracicaba”, em 14 de julho de 1985, pincei as seguintes frases e expressões: “Vida consagrada à arte”. “Professora, no vero sentido da palavra”. “Alma feita de musicalidade, no genuíno sentido do vocábulo”. “Não apenas uma individualidade que interpretava os acordes alheios. Criava, movimentava inteligências, descobria talentos. Ficaram de grata recordação os recitais normalistas, a cargo dos alunos que tais. Titular da Escola Normal, movimentava talentos, ao final de cada ano, organizando espetáculos, não apenas escolares, mas de fina essência cênica”. “Elemento para qualquer parada, excelente musicista, um sentido de finura que encantava. Exemplo vivo como diretora e ensaiadora”. “Pode-se afirmar que fora acompanhadora oficial da cidade. Tudo quanto era artista des¬garrado que aparecesse cá na taba e se propunha a um concerto, lá estava Laudelina Cotrim de Castro como acompanhadora ao piano e regente da orquestra.”
A jornalista, professora e advogada Antonietta Rosalina da Cunha Losso, escrevendo para o “Jornal de Piracicaba”, na edição de 17 de setembro de 1981, sobre a Profª Laudelina, assim se ex-pressou: “Que criatura maravilhosa, vibrante, determinada era ela! Que elegância e precisão de termos tinha. Uma dicção perfeita, aliada à sempre propriedade do que expunha. De uma vivacidade de espírito tão grande que não lhe permitia se ater apenas às suas aulas de Prática, mas que a fazia organizar excursões, espetáculos de arte e até balés idealizados e acompanhados por ela ao ritmo de piano”.
NOTA - Embora tenham sido próximas as minhas relações com a Profª Laudelina Cotrim de Castro, em razão de vínculos familiares, pois era minha tia, são, infelizmente, escassas as fontes documentais e testemunhais, onde pudesse buscar informações detalhadas para compor a sua biografia. Ao pensar em pessoas que a conheceram e com ela conviveram, lembrei-me do meu amigo, Prof. Dr. Samuel Pfromm Netto, pessoa que desfrutou da amizade com a homenageada. Contatado, solícito e mui gentilmente, enviou-me, o verbete que escreveu a respeito dela, para o seu, ainda inédito, “Dicionário de Piracicabanos”, além de cópias de artigos publicados no “Jornal de Piracicaba”, de autoria de Diva de Castro Cardoso, Leandro Guerrini e Antonietta Losso Pedroso, depois do falecimento da mesma, acima referidas, dos quais me utilizei para fazer este texto.
Formou-se professora normalista na Escola Complementar, hoje Instituto de Educação “Sud Mennucci” e dedicou sua vida ao magistério, sua grande paixão, e, mais tarde, atuou, durante muitos anos, na antiga Escola Normal Oficial de Piracicaba, depois Escola Normal “Sud Mennucci”, instituição em que se formara, e também na Escola Normal “Miss Martha Watts” do Colégio Piracicabano, sempre na área da pedagogia, ensinando a disciplina Prática da Educação. Quando tinha seus quase 50 anos de vida, tomou uma decisão corajosa: transferiu-se para São Paulo, para fazer o vestibular para o Curso de Pedagogia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade de São Paulo, na Rua Maria Antonia, uma das mais renomadas do país, apesar de já ser titular, por concurso público, da cadeira que ocupava na Escola Normal Oficial, em Piracicaba. Licenciou-se em 1959. Depois de lecionar na própria instituição em que se formara, aposentada, voltou a residir em Piracicaba. Ela teve, também, nessa cidade, na década dos anos 40, um curso de admissão ao ginásio (que, então, exigia exame para ingresso), reconhecido pela sua qualidade e conseqüente elevado número de alunos aprovados.
A Profª Laudelina, que os íntimos chamavam de Lina, era uma pessoa eclética e multifacetada. Enquanto residiu em Piracicaba destacou-se, não só como professora, dedicada, inteligente e
culta, mas também como animadora cultural. Amante da música, era pianista, bailarina, acordeonista, violonista e cantora. Gostava de organizar shows artísticos, espetáculos teatrais e de balé (eventos que montava e acompanhava ao piano), bem como outros tipos de festas, envolvendo seus alunos e pessoas da sociedade. Um desses espetáculos, muito esperado, era o “Show Normalista”, realizado, anualmente, no antigo Teatro Santo Estevão, demolido em 1952. Nessas ocasiões ela fazia de tudo: preparava o roteiro e “scripts”, montava as cenas, fazia o esboço dos roteiros e trajes das persona-gens, ensaiava, buscava apoios e participava pessoalmente do espetáculo. Nada lhe escapava; era exigente, pois queria tudo o mais perfeito possível. Nela transbordavam a alegria e o entusiasmo. Tinha uma criatividade e dinamismo invejáveis. Em tudo punha muita beleza e arte.
Maria Aparecida Mahle, a partir de pesquisas, registrou que a Profª Laudelina levou a efeito o primeiro desfile de moda, em Piracicaba,. Sobre ela escreveu:
“Professora interessante, cheia de vivacidade e energia foi Laudelina Cotrim de Castro. Para organizar uma festa escolar, fazer a coreografia de um bailado, podiam contar sempre com seus préstimos e qualidades. Creio, também, que o primeiro desfile de modas que Piracicaba presen¬ciou foi organizado por ela, em 1946, no Teatro Santo Estevão. Tinha o mesmo a finalidade de colaborar com os formandos do ginásio, daquele ano, do “Sud Mennucci”; a renda era para pagar as despesas com a festa. Nenhuma casa de modas patrocinava o evento e desfilávamos com os vestidos confeccionados por nossas próprias costureiras. Também não havíamos feito nenhum treinamento especial; apenas quem gostava e “levava jeito” participava. Isso Laudelina resolvia... E para desfilarmos havia “música ao vivo”. O evento, seguido de uma brincadeira dançante, foi um sucesso” (Extraído de “A Província” – www.aprovincia.com.br).
Estava, também, sempre envolvida nos movimentos da vida cultural da cidade, na qual tinha presença marcante. Publicou muitos artigos, alguns polêmicos, no “Jornal de Piracicaba” e em outros periódicos, sobre assuntos variados e a respeito de temas da sua área, a Educação. Erudita, lia muito. Inveja a sua biblioteca e o seu vasto conhecimento, inclusive de idiomas estrangeiros. Quando eu tinha dúvidas ou necessidade de ajuda para algum trabalho escolar era a ela que eu recorria. E mais, falava muito bem, uma grande oradora.
Ela gostava de viajar e de organizar viagens, muitas delas para seus alunos. Aliás, numa época em que as viagens não eram tão fáceis e comuns, não perdia oportunidade de conhecer novos lugares, no Brasil e no exterior. Tinha horror a viagens aéreas, preferindo sempre a via marítima ou terrestre. Como o seu marido não apreciava muito esses périplos, ela, se articulava com colegas ou amigas, para fazê-los. Visitou a Europa, inclusive a Rússia, em tempos de “guerra fria”, e países latino-americanos.
Outra faceta de sua personalidade era o gosto pelo esporte, especificamente a natação, que praticava regularmente, para manter o seu preparo físico. Ao que me consta, foi na sua residência, imóvel que chamava a atenção pelo inusitado estilo normando de sua arquitetura, edificada em 1948 (imóvel ainda hoje existente, na Rua 15 de Novembro, esquina com a Rua José Pinto de Almeida), que se fez a primeira piscina numa casa particular em Piracicaba.
O Legislativo piracicabano homenageou essa ilustre e querida educadora, dando o seu nome a uma avenida, junto ao Bosque da Água Branca, perto do ribeirão Piracicamirim.
De um artigo de autoria do professor, escritor e jornalista Leandro Guerrini, sobre a Profª Laudelina, publicado no “Jornal de Piracicaba”, em 14 de julho de 1985, pincei as seguintes frases e expressões: “Vida consagrada à arte”. “Professora, no vero sentido da palavra”. “Alma feita de musicalidade, no genuíno sentido do vocábulo”. “Não apenas uma individualidade que interpretava os acordes alheios. Criava, movimentava inteligências, descobria talentos. Ficaram de grata recordação os recitais normalistas, a cargo dos alunos que tais. Titular da Escola Normal, movimentava talentos, ao final de cada ano, organizando espetáculos, não apenas escolares, mas de fina essência cênica”. “Elemento para qualquer parada, excelente musicista, um sentido de finura que encantava. Exemplo vivo como diretora e ensaiadora”. “Pode-se afirmar que fora acompanhadora oficial da cidade. Tudo quanto era artista des¬garrado que aparecesse cá na taba e se propunha a um concerto, lá estava Laudelina Cotrim de Castro como acompanhadora ao piano e regente da orquestra.”
A jornalista, professora e advogada Antonietta Rosalina da Cunha Losso, escrevendo para o “Jornal de Piracicaba”, na edição de 17 de setembro de 1981, sobre a Profª Laudelina, assim se ex-pressou: “Que criatura maravilhosa, vibrante, determinada era ela! Que elegância e precisão de termos tinha. Uma dicção perfeita, aliada à sempre propriedade do que expunha. De uma vivacidade de espírito tão grande que não lhe permitia se ater apenas às suas aulas de Prática, mas que a fazia organizar excursões, espetáculos de arte e até balés idealizados e acompanhados por ela ao ritmo de piano”.
NOTA - Embora tenham sido próximas as minhas relações com a Profª Laudelina Cotrim de Castro, em razão de vínculos familiares, pois era minha tia, são, infelizmente, escassas as fontes documentais e testemunhais, onde pudesse buscar informações detalhadas para compor a sua biografia. Ao pensar em pessoas que a conheceram e com ela conviveram, lembrei-me do meu amigo, Prof. Dr. Samuel Pfromm Netto, pessoa que desfrutou da amizade com a homenageada. Contatado, solícito e mui gentilmente, enviou-me, o verbete que escreveu a respeito dela, para o seu, ainda inédito, “Dicionário de Piracicabanos”, além de cópias de artigos publicados no “Jornal de Piracicaba”, de autoria de Diva de Castro Cardoso, Leandro Guerrini e Antonietta Losso Pedroso, depois do falecimento da mesma, acima referidas, dos quais me utilizei para fazer este texto.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Colaboração do Acadêmico Gustavo Jacques Dias Alvim cadeira no 29 : Patrona: Laudelina Cotrim de Castro

Ainda há esperança
“Quero trazer à memória o que me pode dar esperança”
(Lamentações 3:21)
Lembrei-me das palavras ditas pelo profeta Jeremias, acima transcritas, quando estava buscando um tema para este artigo. Muito triste, ele escreveu esse livro bíblico, em forma de poemas, para lamentar a desolação de Jerusalém, os sofrimentos do povo depois de atacado e cercado pelo exército babilônico e registrar a iniquidade daquela gente. Mas o profeta, também consciente da misericórdia divina, da bondade e da fidelidade de Deus, quer ter lembranças que lhe deem esperança.
Hoje estou me sentindo como Jeremias. Não quero que minha mente seja ocupada com coisas ruins, sentimentos negativos. Não estou interessado em pensar no Brasil de nossos dias, conspurcado pela corrupção, pela mentira, pela trapaça, pelo engodo. Quero, sim, trazer à minha memória, a exemplo do desejo manifestado pelo profeta, o que me pode dar esperança.
E o que me pode dar esperanças? No dia sete de setembro, resolvi, depois de muitos anos ausente, assistir de corpo presente, em plena Rua Governador, o desfile realizado aqui em Piracicaba. Foi uma volta ao passado, pois me lembrei de tempos idos, quando participei de passeatas vestindo o uniforme do Colégio Piracicabano, do Instituto de Educação Sud Mennucci e do garboso Tiro de Guerra. Vibrei com as fanfarras, que me fizeram recordar da excelente banda da então Escola Industrial e tantas outras. E ali fiquei, cerca de mais de duas horas, em pé, sob o sol, apreciando a passagem de tropas militares, escolas de diversos níveis, ONGs, instituições 70 Revista da Academia Piracicabana de Letras
sociais, igrejas, sindicatos, grupo de escoteiros e lobinhos, com seus uniformes, suas cores, seus símbolos, suas evoluções e suas mensagens, ao som alegre de bandas e fanfarras. Eram crianças, jovens, mulheres e homens, mestres e instrutores, gente de todos os níveis sociais, que tinham algo em comum: garbo, alegria, esperança. Muitos eram voluntários. Algo emocionante.
Renovei minha esperança em nosso país. E ela foi crescendo à medida que eu lia as mensagens expostas pelas escolas. Apontavam problemas como a desigualdade, a injustiça, a fome, o analfabetis-mo, a miséria, as doenças, a corrupção, a agressão ao meio ambiente, mas também indicavam caminhos. Lembravam sentimentos nobres como a solidariedade, o amor, a justiça, a paz, a tolerância, a amiza¬de, o respeito ao direito de todos. Virtudes foram exaltadas. O não às drogas e vícios, o alerta para as consequências da devastação da natureza, com apelos para preservarmos as árvores e os mananciais, conservarmos limpos os rios, fazermos bom uso da água, reciclarmos o lixo, cultivarmos plantas e hortaliças, cuidarmos dos animais, sobretudo aqueles em extinção, sem esquecermos da correta admi¬nistração de bens públicos e da honesta aplicação da justiça.
Ainda há esperança. A educação pode fazer a diferença. E a escola já está buscando fazer a sua parte. As crianças estão sendo preparadas para serem construtoras de um novo mundo, um mundo melhor, em que os valores positivos tenham o seu lugar. É preciso que o governo também acredite nisso e canalize para a educação recursos que estão sendo malbaratados ou escandalosamente desviados dos cofres públicos para dutos que os levam para uso reprováveis e escusos. É preciso que o cidadão, a família e a sociedade creiam que a educação é capaz de fazer mudanças, mesmo que leve duas ou mais gerações.
Ainda há esperança. Creiam nisso.
Hoje estou me sentindo como Jeremias. Não quero que minha mente seja ocupada com coisas ruins, sentimentos negativos. Não estou interessado em pensar no Brasil de nossos dias, conspurcado pela corrupção, pela mentira, pela trapaça, pelo engodo. Quero, sim, trazer à minha memória, a exemplo do desejo manifestado pelo profeta, o que me pode dar esperança.
E o que me pode dar esperanças? No dia sete de setembro, resolvi, depois de muitos anos ausente, assistir de corpo presente, em plena Rua Governador, o desfile realizado aqui em Piracicaba. Foi uma volta ao passado, pois me lembrei de tempos idos, quando participei de passeatas vestindo o uniforme do Colégio Piracicabano, do Instituto de Educação Sud Mennucci e do garboso Tiro de Guerra. Vibrei com as fanfarras, que me fizeram recordar da excelente banda da então Escola Industrial e tantas outras. E ali fiquei, cerca de mais de duas horas, em pé, sob o sol, apreciando a passagem de tropas militares, escolas de diversos níveis, ONGs, instituições 70 Revista da Academia Piracicabana de Letras
sociais, igrejas, sindicatos, grupo de escoteiros e lobinhos, com seus uniformes, suas cores, seus símbolos, suas evoluções e suas mensagens, ao som alegre de bandas e fanfarras. Eram crianças, jovens, mulheres e homens, mestres e instrutores, gente de todos os níveis sociais, que tinham algo em comum: garbo, alegria, esperança. Muitos eram voluntários. Algo emocionante.
Renovei minha esperança em nosso país. E ela foi crescendo à medida que eu lia as mensagens expostas pelas escolas. Apontavam problemas como a desigualdade, a injustiça, a fome, o analfabetis-mo, a miséria, as doenças, a corrupção, a agressão ao meio ambiente, mas também indicavam caminhos. Lembravam sentimentos nobres como a solidariedade, o amor, a justiça, a paz, a tolerância, a amiza¬de, o respeito ao direito de todos. Virtudes foram exaltadas. O não às drogas e vícios, o alerta para as consequências da devastação da natureza, com apelos para preservarmos as árvores e os mananciais, conservarmos limpos os rios, fazermos bom uso da água, reciclarmos o lixo, cultivarmos plantas e hortaliças, cuidarmos dos animais, sobretudo aqueles em extinção, sem esquecermos da correta admi¬nistração de bens públicos e da honesta aplicação da justiça.
Ainda há esperança. A educação pode fazer a diferença. E a escola já está buscando fazer a sua parte. As crianças estão sendo preparadas para serem construtoras de um novo mundo, um mundo melhor, em que os valores positivos tenham o seu lugar. É preciso que o governo também acredite nisso e canalize para a educação recursos que estão sendo malbaratados ou escandalosamente desviados dos cofres públicos para dutos que os levam para uso reprováveis e escusos. É preciso que o cidadão, a família e a sociedade creiam que a educação é capaz de fazer mudanças, mesmo que leve duas ou mais gerações.
Ainda há esperança. Creiam nisso.
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Galeria Acadêmica
1-Alexandre Sarkis Neder - Cadeira n° 13 - Patrono: Dario Brasil
2- Maria Madalena t Tricanico de Carvalho Silveira- Cadeira n° 14 - Patrono: Branca Motta de Toledo Sachs
3-Antonio Carlos Fusatto - Cadeira n° 6 - Patrono: Nélio Ferraz de Arruda
4-Marcelo Batuíra da Cunha Losso Pedroso - Cadeira n° 15 - Patrono: Archimedes Dutra
5-Aracy Duarte Ferrari - Cadeira n° 16 - Patrono: José Mathias Bragion
6-Armando Alexandre dos Santos- Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado
2- Maria Madalena t Tricanico de Carvalho Silveira- Cadeira n° 14 - Patrono: Branca Motta de Toledo Sachs
3-Antonio Carlos Fusatto - Cadeira n° 6 - Patrono: Nélio Ferraz de Arruda
4-Marcelo Batuíra da Cunha Losso Pedroso - Cadeira n° 15 - Patrono: Archimedes Dutra
5-Aracy Duarte Ferrari - Cadeira n° 16 - Patrono: José Mathias Bragion
6-Armando Alexandre dos Santos- Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado
7-Barjas Negri - Cadeira no 5 - Patrono: Leandro Guerrini
8-Christina Aparecida Negro Silva - Cadeira n° 17 - Patrono: Virgínia Prata Gregolin
16-Lídia Varela Sendin - Cadeira n° 8 - Patrono: Fortunato Losso Netto
17-Shirley Brunelli Crestana- Cadeira n° 27 - Patrono: Salvador de Toledo Pisa Junior
18-Marcelo Pereira da Silva - Cadeira n° 28 - Patrono: Delfim Ferreira da Rocha Neto
19-Carmelina de Toledo Piza - Cadeira n° 29 - Patrono: Laudelina Cotrim de Castro
20-Ivana Maria França de Negri - Cadeira n° 33 - Patrono: Fernando Ferraz de Arruda
21-Jamil Nassif Abib (Mons.) - Cadeira n° 1 - Patrono: João Chiarini
22-João Baptista de Souza Negreiros Athayde - Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira
23-João Umberto Nassif - Cadeira n° 35 - Patrono: Prudente José de Moraes Barros
24-Leda Coletti - Cadeira n° 36 - Patrono: Olívia Bianco
8-Christina Aparecida Negro Silva - Cadeira n° 17 - Patrono: Virgínia Prata Gregolin
9-Carmen Maria da Silva Fernandez Pilotto - Cadeira n° 19 - Patrono: Ubirajara Malagueta Lara
10-Cássio Camilo Almeida de Negri - Cadeira n° 20 - Patrono: Benedito Evangelista da Costa
11- Antonio Filogênio de Paula Junior-Cadeira n° 12 - Patrono: Ricardo Ferraz de Arruda Pinto
10-Cássio Camilo Almeida de Negri - Cadeira n° 20 - Patrono: Benedito Evangelista da Costa
11- Antonio Filogênio de Paula Junior-Cadeira n° 12 - Patrono: Ricardo Ferraz de Arruda Pinto
12-Edson Rontani Júnior - Cadeira n° 18 - Patrono: Madalena Salatti de Almeida
13-Elda Nympha Cobra Silveira - Cadeira n° 21 - Patrono: José Ferraz de Almeida Junior
13-Elda Nympha Cobra Silveira - Cadeira n° 21 - Patrono: José Ferraz de Almeida Junior
14-Bianca Teresa de Oliveira Rosenthal - cadeira no 31 - Patrono Victorio Angelo Cobra
15-Evaldo Vicente - Cadeira n° 23 - Patrono: Leo Vaz16-Lídia Varela Sendin - Cadeira n° 8 - Patrono: Fortunato Losso Netto
17-Shirley Brunelli Crestana- Cadeira n° 27 - Patrono: Salvador de Toledo Pisa Junior
18-Marcelo Pereira da Silva - Cadeira n° 28 - Patrono: Delfim Ferreira da Rocha Neto
19-Carmelina de Toledo Piza - Cadeira n° 29 - Patrono: Laudelina Cotrim de Castro
20-Ivana Maria França de Negri - Cadeira n° 33 - Patrono: Fernando Ferraz de Arruda
21-Jamil Nassif Abib (Mons.) - Cadeira n° 1 - Patrono: João Chiarini
22-João Baptista de Souza Negreiros Athayde - Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira
23-João Umberto Nassif - Cadeira n° 35 - Patrono: Prudente José de Moraes Barros
24-Leda Coletti - Cadeira n° 36 - Patrono: Olívia Bianco
25-Maria de Lourdes Piedade Sodero Martins - cadeira no 26 Patrono Nelson Camponês do Brasil
26-Maria Helena Vieira Aguiar Corazza - Cadeira n° 3 - Patrono: Luiz de Queiroz
27-Marisa Amábile Fillet Bueloni - cadeira no32 - Patrono Thales castanho de Andrade
28-Marly Therezinha Germano Perecin - Cadeira n° 2 - Patrona: Jaçanã Althair Pereira Guerrini
26-Maria Helena Vieira Aguiar Corazza - Cadeira n° 3 - Patrono: Luiz de Queiroz
27-Marisa Amábile Fillet Bueloni - cadeira no32 - Patrono Thales castanho de Andrade
28-Marly Therezinha Germano Perecin - Cadeira n° 2 - Patrona: Jaçanã Althair Pereira Guerrini
29-Mônica Aguiar Corazza Stefani - Cadeira n° 9 - Patrono: José Maria de Carvalho Ferreira
30-Myria Machado Botelho - Cadeira n° 24 - Patrono: Maria Cecília Machado Bonachela
30-Myria Machado Botelho - Cadeira n° 24 - Patrono: Maria Cecília Machado Bonachela
31-Newman Ribeiro Simões - cadeira no 38 - Patrono Elias de Mello Ayres
32-Angela Maria Furlan – Cadeira n° 25 – Patrono: Francisco Lagreca
33-Paulo Celso Bassetti - Cadeira n° 39 - Patrono: José Luiz Guidotti
33-Paulo Celso Bassetti - Cadeira n° 39 - Patrono: José Luiz Guidotti
34-Raquel Delvaje - Cadeira no 40 - Patrono Barão de Rezende
35- Elisabete Jurema Bortolin - Cadeira n° 7 - Patrono: Helly de Campos Melges
35- Elisabete Jurema Bortolin - Cadeira n° 7 - Patrono: Helly de Campos Melges
36-Eliete de Fatima Guarnieri - Cadeira no 22 - Patrono Erotides de Campos
37-Valdiza Maria Capranico - Cadeira no 4 - Patrono Haldumont Nobre Ferraz
37-Valdiza Maria Capranico - Cadeira no 4 - Patrono Haldumont Nobre Ferraz
38-Vitor Pires Vencovsky - Cadeira no 30 - Patrono Jorge Anéfalos
39-Waldemar Romano - Cadeira n° 11 - Patrono: Benedito de Andrade
40-Walter Naime - Cadeira no 37 - Patrono Sebastião Ferraz