Rio Piracicaba

Rio Piracicaba
Rio Piracicaba cheio (foto Ivana Negri)

Patrimônio da cidade, a Sapucaia florida (foto Ivana Negri)

Balão atravessando a ponte estaiada (foto Ivana Negri)

Diretoria 2025/2028

Presidente: Raquel Araujo Delvaje Vice-presidente: Vitor Pires Vencovsky Diretora de Acervo: Christina Aparecida Negro Silva 1a secretária: Elisabete Jurema Bortolin 2a secretária: Ivana Maria França de Negri 1o tesoureiro: Carmen Maria da Silva Fernandez Pilotto 2o tesoureiro: Edson Rontani Junior Conselho fiscal: Antonio Carlos Fusatto Bianca Teresa de Oliveira Rosenthal Cássio Camilo Almeida de Negri Jornalista responsável: Evaldo Vicente Responsável pela edição da Revista: Ivana Maria França de Negri Conselho editorial: Aracy Duarte Ferrari Eliete de Fatima Guarnieri Leda Coletti Lídia Sendin Maria de Lourdes Piedade Sodero Martins

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quarta-feira, 20 de agosto de 2025

O Soneto e eu


 João Baptista de Souza Negreiros Athayde

  

Difícil do soneto é encontrar a rima

que venha esmerilhada e com cesura pronta

na justa comunhão do som, da luz, do clima

que hão de permear os versos, ponta a ponta

 

Preciso é que a palavra que o verso anima

abrigo possa achar na imagem que desponta.

Que venha desbastada ao fim dessa vindima

as pérolas do Lácio unindo conta a conta

 

Por isso o meu desgosto em criar sonetos.

Fazer que rimem, suave, quadras e tercetos

e casem-se as estrofes no poema inteiro

 

São tantos os cuidados, e os grilhões são tantos!

Até que a Poesia verta seus encantos

as sílabas finais do verso derradeiro.

 


segunda-feira, 10 de agosto de 2020

DEZ OUTUBROS



           João Baptista de Souza Negreiros Athayde
(por ocasião da 10ª.  Semana de Arte do Fórum de Piracicaba)



Enfim a Arte não se cansa de ser Arte!
Nem pede vênia prá invadir o altar sagrado
onde se assenta a  Deusa Têmis da Justiça
com sua espada e a balança - lado a lado

Pouco lhe importam as paredes taciturnas
nem a frieza do concreto imóvel, mudo.
Mais um outubro em que ela chega e se esparrama
sem cerimônias... quebra regras... cobre tudo

Parece até que a fria Deusa da Justiça
tira sua venda prá melhor sentir o encanto
e vivenciar esse universo de alegria
que inunda as almas dos mortais - como acalanto

E as colunas e paredes deste Fórum
aos poucos vão se transmudando em sons e cores.
Há dez outubros o concreto se transforma
e deixa a Arte violar seus corredores

Deusas e Musas do Olimpo e do Parnaso
marcam encontro anual nestas paragens
E aqui chegam prelibando a imensa festa
onde a Arte é a primeira personagem

Estes outubros bem que estão fazendo história!
Aqui se encontram o terreno e o divino
vêm misturados a compor imensa tela
onde a Arte se expressa inda mais bela
e já nem pode mais caber num alexandrino.
                           

sábado, 20 de outubro de 2018

Momento Castro Alves - Palestra aberta - atividade da 3a FLIPIRA


Neste sábado, 20 de outubro, três sumidades vão falar sobre a vida e obra de Castro Alves, homenageado neste ano na FLIPIRA.
Às 15h no Instituto Beatriz Algodoal, Rua São José, 446, centro 
Evento gratuito
 Poeta e escritor Irineu Volparto
Poeta e escritor Ésio AntonioPezzato
Poeta e escritor João Baptista de Souza Negreiros Athayde

sábado, 4 de agosto de 2018

Microconto

João Baptista de Souza Negreiros Athayde 
Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira

NATI-MORTO
(microconto)
João Baptista de Souza Negreiros Athayde

O sujeito oculto desprendeu-se do tema, no exato momento em que o verbo arrogava-se senhor da ação.

 E o conto desfez-se em reticências...

sábado, 30 de dezembro de 2017

Lançamento de livro

Matéria publicada na Gazeta de Piracicaba - 9 de Dezembro 2017
O acadêmico autografando seu libro na OAB de São Paulo

domingo, 6 de março de 2016

Novo livro de poesias do acadêmico João Athayde


João Athayde autografando para os colegas durante reunião do Centro Literário de Piracicaba (CLIP)

 “Variações Poéticas sobre a Banalidade do Mal” é uma excelente obra para reflexão sobre valores éticos da atualidade.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Mudanças

João Baptista de Souza Negreiros Athayde 
Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira

        Sobre o tema, pode-se fazer referência aos movimentos populares de junho de 2013, que deixaram atônitos os mandatários do poder, confrontados  com sua própria incompetência e desfaçatez, daí apressando-se às inevitáveis promessas de mudanças; mas pode-se discorrer simplesmente sobre o que deve ser entendido por mudança, suas raízes, seus objetivos e as dimensões que busca alcançar.
         A palavra mudança soa-nos como ironia, posto sempre ser dita sem nenhuma seriedade ou compromisso, ou apenas para dar resposta à pressão popular como ocorrido nas ditas jornadas de junho.
        O que temos visto ao longo da História e acompanhado desde as últimas gerações, é que a atividade política em nosso País é exercida quase sempre de forma distorcida, sinuosa, não para atender à ética da consciência, mas para homenagear a ética da conveniência.
         A distinção entre essas duas posturas políticas é clara, e mostra bem a diferença entre o político com envergadura de estadista e o político meramente eleiçoeiro e oportunista.
         Por serem extremamente raros entre nós os exemplares de estadistas, proliferou sempre a outra espécie, ajudada por sistemas eleitorais gestados com essa finalidade, trazendo-nos esse desencanto cívico de ver que a atividade política tem sido a arte dos expedientes tortuosos para satisfação de interesses próprios e de grupos e para o monopólio do poder, e não um ideal que possa ser o fio condutor de ações e posturas voltadas ao interesse público, essência de uma República. 
         A proliferação dessa espécie daninha ocorre justamente para que seja mantido esse sistema perverso, que faz a banalização das próprias torpezas e a dissimulação do estado de violação contínua dos princípios da ética, do bom senso, da legalidade e da cidadania, numa afronta selvagem e perene aos cidadãos de bem.
         Assim é, infelizmente, e por isso vamos votando em Fulanos  para eleger  Sicranos, e votando em Sicranos para eleger  Beltranos, tudo graças ao sinuoso caminho (ou descaminho?) do atual sistema eleitoral.
         Um parêntese : consta no sítio eletrônico da Câmara Federal (www2.câmara.leg.br/camaranoticias/noticias/150807) que apenas 07% dos 513 Deputados Federais atuais foram eleitos por voto direto em seu nome; ou seja, os demais, ou 93% desses representantes, foram eleitos  graças aos votos vindos dos famigerados puxadores de votos, que servem bem a esse  engodo eleitoral.
        Num sistema eleitoral assim, onde a qualidade do voto, se a vontade e a intenção do eleitor ficam descaracterizadas? E onde a legitimidade da própria representação?
          E não é só.  A legitimidade da representação também fica questionada e fragilizada quando os nossos representantes, mandatários de um poder delegado, praticam toda sorte de desvios e malfeitos de forma sistemática e descarada, dando origem ao  inesgotáveis mares de lama que solapam a credibilidade e moralidade das Instituições, minando  os alicerces do Estado de Direito.
           Ora, se se disser que a legitimidade da representação subsiste mesmo quando os representantes praticam esses desvios, então temos que concluir  que  somos  mandantes e avalistas de todos os mares de lama  em que vêm se transformando as nossas Instituições.
          Conclusão surreal?  Pode ser.  Mas decorre do sistema eleitoral e do panorama político vigente, os quais parecem haver atingido o grau mais sofisticado do próprio surrealismo, superando os anseios de Breton e Dali.
           Mas, antes que esse desencanto cívico nos leve ao cinismo e à indiferença, parece imperativo chamarmos para nós, como sociedade que tem o dever de se organizar, a responsabilidade de pensar em mudar esse estado de coisas, de descobrir quais mudanças devem ser realizadas, quais suas finalidades e quais suas dimensões.
        Vemos, atualmente, que os discursos dos políticos, mais uma vez, têm-se centrado na necessidade de várias reformas, como a reforma tributária, reforma política, administrativa, previdenciária, do pacto federativo, etc., etc.
        Entretanto, diante do quadro político-eleitoral que temos hoje, qualquer dessas alardeadas reformas perde a razão de ser se, antes, não for realizada uma reforma eleitoral profunda, que permita à sociedade manter na atividade política, apenas cidadãos que sejam exemplos de espírito público; que sejam capazes de lutar por transformações  positivas para toda a sociedade  e não para si próprios ou para alguns; que possuam visão muito nítida entre o interesse público e o privado; que reconheçam a sacralidade da res publica;   e que,  sobretudo, sejam  afeitos à altivez do cedro e não à complacência do junco, que se curva sempre ao sabor dos ventos.
          É sonhar demais? Talvez! Mas, podemos chegar lá, desde que demos o primeiro passo, reconhecendo a urgência de promovermos a mudança desse sistema eleitoral tão sinuoso, que não responde legitimamente aos interesses da cidadania brasileira.
        Entendemos que uma mudança substancial pode ser trazida pelo sistema eleitoral do Voto Distrital, único  que permite à sociedade conhecer melhor os candidatos aos cargos legislativos federal, estadual e municipal, através de dois turnos  realizados em cada distrito; permite maior aproximação entre o eleitorado e os candidatos, inclusive pela oportunidade de debates diretos de ideias e programas;  além disso, dá aos cidadãos poderes para fiscalizar o exercício da representação, obstando os  desvios da atuação política do eleito, visto  ser um sistema que permite a chamada revogação de mandato (recall), através de eleições convocadas para esse fim pelo próprio distrito que o elegeu.
          Cremos estar na hora de utilizarmos a internet para entendermos mais amplamente em que consiste o Voto Distrital, inclusive conhecendo o avançado projeto elaborado pela Comissão de Reforma Política da OAB/SP (www.oabsp.org.br/comissões/reformapolítica).
        Cremos estar na hora de envidarmos esforços (quem sabe até através de Lei de Iniciativa Popular), para trazer mudanças verdadeiramente substanciais ao atual sistema político-eleitoral, mudanças que sejam capazes de dar o mínimo de qualidade ao nosso voto e o máximo de  credibilidade   às sagradas Instituições Republicanas, que são as bases e a sustentação do Estado de Direito e constituem os fundamentos de uma verdadeira Nação.


Publicado na “Gazeta de Piracicaba”  em 23 e 24/09/14

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Enquanto o sono tarda

João Baptista de Souza Negreiros Athayde 
Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira

Gosto de poetar sem compromisso, às vezes
quando essas horas caem vagarosas, mortas
e no espaço deriva o pensamento vago
e as musas, flutuando, vêm bater à porta.

O êxtase, talvez, do verso em desalinho
O silêncio, talvez, a despertar a musa
Talvez a lembrança de um passado extinto
Uma ideia, talvez, da mente já confusa.

Não sei. Mas as estrofes simplesmente nascem
nesses momentos largos, de cismar tristonho
Vultos e castelos perpassam mudos, trêmulos
e se esvaem após, como se fossem sonho.

E as horas vão passando, vagarosas, lassas
E o cérebro fervilha no pensar sem fim
Vultos e castelos desmaiam lentamente
enquanto o sono chega...e adormeço, enfim

sábado, 26 de janeiro de 2013

NADA

João Baptista de Souza Negreiros Athayde 
Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira

Horas vazias, preenchendo a alma
Horas vazias, que não dizem nada
Horas que passam em estranha calma
Horas parando numa branca estrada

Pálidas luzes, de futuro incerto
Frágeis visões, que esmaecem tontas
Águias feridas já sem rumo certo
Rosário escuro desfiando as contas.

Horas sozinhas, abismando o vácuo
Horas pesadas, vagarosas, mortas
Horas de cismas, mudas, frias, nuas
Singrando inúteis pelas ruas tortas.

Depois... o nada, como se algo houvesse
Depois... o frio, sem haver calor
Horas exaustas no quadrante etéreo
Versos morrendo, sem achar amor.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

À Tarde

João Baptista de Souza Negreiros Athayde 
Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira


O doce encanto da tarde calma
me alcança a alma sempre a cismar
O ameno enlevo do dia exangue
me agita o sangue, me faz poetar

Será, talvez, por que sem alarde
o fim da tarde desperta amores?
Será, talvez, que essa estranha hora
nos traz de fora tamanhas dores?

Quem sabe, enfim, donde vem um poema?
(atroz dilema que a alma assola)
Talvez do Olimpo onde as Musas cantam
e a voz levantam em barcarola

Talvez das cores, dos sons vagantes
desses instantes de inquietação
Talvez do pranto do povo inerme
que feito verme rasteja em vão

Talvez das iras da populaça
que toma a praça p´ra protestar
Talvez do grito dos que têm fome
que nem têm nome p´ra assinar

Quem sabe venha desse delírio
que só o martírio sabe plantar?
A fronte curva-se a tal enredo
Pesa o segredo, qual canitar

Entanto, eu sei que a poesia existe!
Alegre ou triste é potente voz
que vem do abismo, ou que vem do espaço
Num longo traço se estende após.

Mas, nessas horas da tarde calma
se agita a alma num tom disperso
Então descubro que, sem alarde,
na branca tarde fala o Universo. 

sexta-feira, 15 de junho de 2012

O Sonho do Candangotodosnós

João Baptista de Souza Negreiros Athayde 
Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira

“Que os homens de amanhã que aqui vierem, tenham
 compaixão de nossos filhos, e que a lei se cumpra
 - 22/4/1959” - José Silva Guerra, operário (candango)
da construção de Brasília.

           
De repente, a insolência do passado
violenta a pátina
do concreto adormecido

Os escombros (cúmplices) vertem
atrevidos
rabiscos esquecidos (...mais que isso)
frases avulsas de passar o tempo
(...muito mais que isso)

Mais que arroubo lírico
de candango
cansado, suarento,
mal remunerado, talvez,

( era preciso, afinal, sobejar
 ao bornal das empreiteiras...)

Mais que simples recado
na agenda qualquer
das horas vagas
Mais que delírio da mente
desbotada na secura
do ar e do sol
Inclemências planando
sobre a cabeça candanga

Mais que tudo
muito mais
uma prece, um desejo talvez
talvez mesmo a esperança
quem sabe agora (...finalmente?)
o parto do sonho brasileiro

 (nem importava mais que a gestação da cidade
sangrasse instituições sagradas)

*

Ergue-se o pano!
Agora, ali
o ventre aberto do concreto
o recado/prece do candangotodosnós

(Ironia ferina percutindo
a secura dos ares)

Justo ali
os mesmos ares
a mesma secura do sol e do ar
a utopia nascendo possível
Grandes homens
homens Grandes
envolvidos todos
extenuados todos

(era sublime desenhar os contornos
de uma grande República)

Tarefa de gigantes
(homens Grandes
Grandes homens)
da secura dos mesmos ares
dos engodos da história...tantos
a alvorada nova para um povo
a alegria da esperança
o resgate da crença

(era divino, até, e tentador
 sonhar uma República de Verdade)

Grandes homens
homens Grandes
estafados de sedimentarem
alicerces perenes
a justiça para todos
a lei para todos
sobre todos
sobre tudo
igualdade

(a gravidez da Mãe-Pátria clamava
pela Verdade da República)

homens Grandes
Grandes homens
do amanhã
(oxalá estadistas)
frontes porejando luzes:
-(brio-verdade-honra)-
o ideal de patriamada
conduzindo o passo
A utopia ...ainda possível

( por estrela-guia – uma República
 para a posteridade – uma Nação)

**

Cai o pano
a pátina aberta em chaga
as entranhas do concreto
nuas
a nudez da história
o engodo da história
uma vez mais
madrasta
O sonho/prece
inerme
asfixiado
estiolado

(a secura do ar
e do sol...talvez ?)

A clausura no concreto
longa demais...
a mudez do concreto
longa demais...
a arquitetura do cinismo... sólida demais
a sanha lesa-pátria...escancarada demais
a utopia...nunca mais

O recado/prece agoniza
Restos de velada elegia
amortalhados
na secura do ar e do sol

O horizonte cinzento
desenha um epitáfio:

“O sonho do candangotodosnós
...natimorto”

(em meio à caminhada...
 era preciso a compaixão nos homens)

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

GÊNESE DOLOROSA

João Baptista de Souza Negreiros Athayde 
Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira



                             (mini-conto)

Tentava condensar a quadra mais amarga da história da sua vida nas linhas apertadas de um conto; sabia que era preciso escolher as palavras, desprezar os floreios que deixam a frase obesa, enxugar as metáforas que esticam o fio condutor da narrativa, suprimir ecos e aliterações que lembram rimas poéticas; era preciso usar pontuações adequadas que dão fluência e amálgama ao personagem e às suas peripécias, enquadrar a ação do personagem  e o movimento narrativo no binômio espaço/tempo para estabelecer empatia com o leitor; era preciso fazer que o tema se insinuasse aos poucos,  sem sobressaltos, para evidenciar-se somente no epílogo, ou depois dele; era preciso trabalhar a concisão da história, nem tão pouco que a transformasse num romance, nem muito para que se fizesse mera crônica.
Ao final, percebeu que condensara tanto o amargo de sua história, que a essência de sua dor acabou por transbordar das entrelinhas, gotejando lamentos e os restos de seus sonhos mortos.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

GÊNESE DOLOROSA



João Baptista de Souza Negreiros Athayde
Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira



                             (mini-conto)

Tentava condensar a quadra mais amarga da história da sua vida nas linhas apertadas de um conto; sabia que era preciso escolher as palavras, desprezar os floreios que deixam a frase obesa, enxugar as metáforas que esticam o fio condutor da narrativa, suprimir ecos e aliterações que lembram rimas poéticas; era preciso usar pontuações adequadas que dão fluência e amálgama ao personagem e às suas peripécias, enquadrar a ação do personagem  e o movimento narrativo no binômio espaço/tempo para estabelecer empatia com o leitor; era preciso fazer que o tema se insinuasse aos poucos,  sem sobressaltos, para evidenciar-se somente no epílogo, ou depois dele; era preciso trabalhar a concisão da história, nem tão pouco que a transformasse num romance, nem muito para que se fizesse mera crônica.
Ao final, percebeu que condensara tanto o amargo de sua história, que a essência de sua dor acabou por transbordar das entrelinhas, gotejando lamentos e os restos de seus sonhos mortos.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A Poesia - João Baptista de Souza Negreiros Athayde - Cadeira no 30

Patrono: Adriano Nogueira



Nos versos de um poema
cabe inteiro o Universo
Condensado
na magia das palavras
Iluminado
pelo encanto das metáforas
e alegorias
Descoberto
aos poucos
nos sussurros das entrelinhas
aninhados sutilmente
na cadência mística
da estrofe

No universo do poema
os versos pintam
galáxias e constelações
candentes
Salpicos de estrelas
e sonhos
completam a tela
envolta na moldura nebulosa
da alma do poeta

O verso não disfarça
o seu reverso
asfixiado
no universo imenso do poema

Além da moldura
o verso, que era verso,
e o poema, que era poema
fazem o milagre da POESIA.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Adriano Nogueira

Colaboração do Acadêmico João Baptista de Souza Negreiros Athayde
Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira

A cadeira nº 34 da APL

Conheci Adriano Nogueira no ano de 1971, nos corredores da Faculdade de Direito do IEP (atual UNIMEP), quando de seu ingresso no então Curso de Ciências Jurídicas e Sociais, do qual era eu segundanista.
Coleguismo de acadêmicos, a princípio, discutindo questões ligadas ora com o andamento dos estudos, ora com a demora de reconhecimento da Faculdade pelo MEC, ora fazendo digressões sobre os chamados “anos de chumbo” e padecendo juntos da mesma asfixia de ideias, ideais e sonhos da juventude da época, imposta pela ditadura militar.
Mas, apesar disso, havia espaço também para as noites degustadas e bebericadas nas confraternizações do Diretório Acadêmico de Direito, ali na Rua Rangel Pestana, num tempo em que cada Faculdade tinha o seu próprio Diretório, e neste era possível perceber o surgimento do sentimento mais puro que identifica o universo estudantil : o espírito acadêmico, esse substrato mágico que permeia a diversidade de indivíduos, e acaba por uni-los para sempre num magma de amizade e afeição.
Algum tempo após nossas formaturas, voltamos a ombrear em novas lutas, desta vez como profissionais do Direito, participando do mesmo escritório de advocacia, convívio esse que perdurou por pouco tempo, quando Adriano decidiu-se pelo funcionalismo público, ingressando no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, e ali permaneceu até sua aposentadoria, após o que entregou-se de corpo e alma ao magnífico projeto da criação e edição do Jornal literário “Linguagem Viva”, em parceria com a poetisa Rosani Abou Adal.
Na verdade, nem foram longos meus tempos de convivência com a pessoa de Adriano Nogueira, afastados pela distância entre São Paulo e Piracicaba e pela diversidade das atividades que exercíamos. No entanto, se a convivência não foi extensa, nem por isso o liame surgido nos bancos acadêmicos deixou de se consolidar no tem¬po e com o tempo, na medida em que os raros reencontros serviam para renovar sempre a substância e identidade daquela amizade. Em 1985, convidei-o para padrinho de meu primogênito Marco Aurélio.
Estranho que, embora divergíssemos sempre em termos de ideologias políticas, tal fato não provocava nenhum distanciamento entre nós, talvez porque cultivássemos a mesma pureza de ideais e porque bem compreendíamos a infância dos nossos sonhos.
Nem mesmo a política estudantil nos abalava. Basta dizer que foi para ele que perdi, pela primeira vez, uma eleição estudantil, e justamente quando disputamos a presidência do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito. Lembro-me de que, sem nenhuma amargura, nenhuma mágoa, acompanhei-o na comemoração dessa vitória, ali no Bigeto, em noite memorável de amizade e descontração, e sobretudo, de respeito mútuo.
Adriano era, na verdade, uma grande alma, dessas almas grandes que dignificam o substrato de humanidade que existe em cada um de nós; e como convem às almas dessa natureza, era um homem simples em todos os aspectos : no modo de ser, de falar, de vestir, de conviver.
Era um literato, e conhecia a fundo o universo das letras, sem nunca dar-se ares de estudada intelectualidade. Era um poeta, e de finíssima sensibilidade; e, embora pouco se tenha dedicado a trilhar as diáfanas veredas de Parnaso, deixou-nos pérolas encantadoras, demonstrando rara criatividade e inspiração poéticas.
Piracicabano apaixonado por sua terra, não economizava ho¬menagens aos grandes valores morais e intelectuais que aqui pontificaram, culminando por publicar o seu “Registros Literários”, divulgando nomes e obras de poetas e escritores locais que, ao longo do tempo, dignificaram as letras piracicabanas. Não pode, contudo, concluir o projeto de publicar outras edições dessa obra, com que ampliaria o registro do panorama da Arte Literária de Piracicaba. Faleceu antes disso, deixando interminado o trabalho.
Tenho para mim que a escolha de seu nome para Patrono da Cadeira nº 34 da nova Academia Piracicabana de Letras resultou de ato da mais pura justiça, posto que esta se patenteia quando, mesmo no universo das paixões humanas, vislumbra-se o reconhecimento da legitimidade do verdadeiro mérito.
E a mim, a quem coube a honra de poder escolher ADRIANO NOGUEIRA por meu Patrono na Galeria de Acadêmicos da APL, resta-me o compromisso e a responsabilidade de dignificar-lhe o nome, e esforçar-me por fazer jus à sua dimensão como pessoa, como cidadão, como profissional e, também, como inesquecível literato.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Colaboração do Acadêmico João Baptista de Souza Negreiros Athayde - Cadeira no 34 -Patrono: Adriano Nogueira


Prefácio a um poema


Parece estranho pretender-se prefaciar um Poema, principalmente quando se sabe que a Poesia é completa em si mesma, a dispensar qualquer outra espécie de manifestação que se intente fazer, ainda que à guisa de explicação.
A Poesia é, na verdade, o suprassumo da Arte Literária, visto ter o poder de condensar, através da síntese e da metáfora, todo o pensamento que move a sua construção, culminando por materializar no Poema não só o pensamento de seu criador, mas também sua visão de mundo e, principalmente, a inquietação de seu espírito, que parece ser a marca registrada do artista.
A Poesia de verdade quer a palavra certa e insubstituível, colocada na exata dimensão do pensamento criador, capaz de plantar a força e o colorido da imagem na seara fértil do compasso dos Versos. Não descreve a imagem, nem o pensamento, nem a intenção: trá-los prontos e vigorosos, envolvidos na musicalidade imperceptível da Estrofe.
Por isso a Poesia fala ao espírito de forma tão marcante e duradoura, justamente por conter na síntese da imagem e no encanto cadenciado do Verso, todo o universo da alma do artista, sempre encharcada de Sentimento.
Por isso deixa sempre vestígios no espírito dos que apenas a leem, e mais ainda no daqueles que procuram entendê-la. Por isso pode moldar caracteres. Por isso pode transformar universos. Por isso a Poesia não pode ser, sempre e, apenas, diletante. Impõe-se-lhe o compromisso e o envolvimento.
Há de ser universal, como universal é aquela inquietação que assola, diuturnamente, a alma do Poeta, que tem escancaradas as ja¬84 Revista da Academia Piracicabana de Letras
nelas de sua alma, como que para absorver não só a beleza do amor, das cores, dos sons, das alegrias da vida, transformando-os em cantos sublimes, mas também, e principalmente, para sentir as dores imensas e tantas do mundo e das coisas, as angústias das injustiças e os pesares da morte, e transformá-los em sentidas elegias, em gritos de guerra ou hinos de esperança.
Tal é o destino do Poeta. Tal é o ideal da Poesia. Por isso impende que o Poema seja, também
POEMA

I

Mais que um canto de doçura
É preciso que a poesia
seja o látego implacável
vergastando a hipocrisia
Mais que murmúrio suave
lembrando amores doridos
Melhor que a poesia seja
o hino dos excluídos
Mais que frases leves, soltas
em metáforas douradas
seja a poesia o retrato
das misérias disfarçadas
É preciso que a poesia
Seja nas ruas forjada
Que venha da massa informe
Eternamente enganada

II

É muito mais! É preciso
Seja a poesia a fornalha
onde possam consumir-se
o vil, o infame, o canalha
Onde caibam de mãos dadas
os traidores da raça
esses borrões que nodoam
a tela nobre da massa
Onde calcinem ao fogo
os mercadores do vício
os que corrompem valores
militando em torpe ofício
O mentiroso, o hipócrita
sejam também atirados
na mesma lava em que ardem
políticos alugados
Corruptores, corruptos
que se vendem a granel
sejam vertidos às chamas
purificando o labéu
Os que fazem de seus cargos
balcão p’ra vender favores
transformando esta nação
num circo enorme de horrores
Os que fazem do poder
um lupanar de desgraças
fabricando miseráveis
abandonados nas praças
Os que toldam seus mandatos
com o véu da impunidade
e barganham sua honra
pelos brilhos da vaidade
Para esses celerados
Estadistas de brinquedo
seja a poesia a vergasta
nas mãos do povo sem medo

III

Cada verso seja o raio
e o estridor da tempestade
sobre as cabeças caindo
o crime e a infâmia punindo
na fornalha da verdade
Cada estrofe seja a lança
nas mãos do poeta enristada
trazendo na aguda ponta
a dura e feroz afronta
ao perverso destinada
Cada rima leve ao torpe
angústia, remorso e dor
curvando-lhe a fronte impura
ao peso atroz da censura
da turba irada ao furor
Cada poema semeie
o joio da maldição
sobre o trigal das vaidades
onde medram nulidades
enterrando uma nação

IV

Que a poesia seja a espada
e a lava, e o fogo e o cinzel
moldando num tempo novo
nova história para um povo
novo mundo e novo céu.

Galeria Acadêmica

1-Alexandre Sarkis Neder - Cadeira n° 13 - Patrono: Dario Brasil
2- Maria Madalena t Tricanico de Carvalho Silveira- Cadeira n° 14 - Patrono: Branca Motta de Toledo Sachs
3-Antonio Carlos Fusatto - Cadeira n° 6 - Patrono: Nélio Ferraz de Arruda
4-Marcelo Batuíra da Cunha Losso Pedroso - Cadeira n° 15 - Patrono: Archimedes Dutra
5-Aracy Duarte Ferrari - Cadeira n° 16 - Patrono: José Mathias Bragion
6-Armando Alexandre dos Santos- Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado
7-Barjas Negri - Cadeira no 5 - Patrono: Leandro Guerrini
8-Christina Aparecida Negro Silva - Cadeira n° 17 - Patrono: Virgínia Prata Gregolin
9-Carmen Maria da Silva Fernandez Pilotto - Cadeira n° 19 - Patrono: Ubirajara Malagueta Lara
10-Cássio Camilo Almeida de Negri - Cadeira n° 20 - Patrono: Benedito Evangelista da Costa
11- Antonio Filogênio de Paula Junior-Cadeira n° 12 - Patrono: Ricardo Ferraz de Arruda Pinto
12-Edson Rontani Júnior - Cadeira n° 18 - Patrono: Madalena Salatti de Almeida
13-Elda Nympha Cobra Silveira - Cadeira n° 21 - Patrono: José Ferraz de Almeida Junior
14-Bianca Teresa de Oliveira Rosenthal - cadeira no 31 - Patrono Victorio Angelo Cobra
15-Evaldo Vicente - Cadeira n° 23 - Patrono: Leo Vaz
16-Lídia Varela Sendin - Cadeira n° 8 - Patrono: Fortunato Losso Netto
17-Shirley Brunelli Crestana- Cadeira n° 27 - Patrono: Salvador de Toledo Pisa Junior
18-Marcelo Pereira da Silva - Cadeira n° 28 - Patrono: Delfim Ferreira da Rocha Neto
19-Carmelina de Toledo Piza - Cadeira n° 29 - Patrono: Laudelina Cotrim de Castro
20-Ivana Maria França de Negri - Cadeira n° 33 - Patrono: Fernando Ferraz de Arruda
21-Jamil Nassif Abib (Mons.) - Cadeira n° 1 - Patrono: João Chiarini
22-João Baptista de Souza Negreiros Athayde - Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira
23-João Umberto Nassif - Cadeira n° 35 - Patrono: Prudente José de Moraes Barros
24-Leda Coletti - Cadeira n° 36 - Patrono: Olívia Bianco
25-Maria de Lourdes Piedade Sodero Martins - cadeira no 26 Patrono Nelson Camponês do Brasil
26-Maria Helena Vieira Aguiar Corazza - Cadeira n° 3 - Patrono: Luiz de Queiroz
27-Marisa Amábile Fillet Bueloni - cadeira no32 - Patrono Thales castanho de Andrade
28-Marly Therezinha Germano Perecin - Cadeira n° 2 - Patrona: Jaçanã Althair Pereira Guerrini
29-Mônica Aguiar Corazza Stefani - Cadeira n° 9 - Patrono: José Maria de Carvalho Ferreira
30-Myria Machado Botelho - Cadeira n° 24 - Patrono: Maria Cecília Machado Bonachela
31-Newman Ribeiro Simões - cadeira no 38 - Patrono Elias de Mello Ayres
32-Angela Maria Furlan – Cadeira n° 25 – Patrono: Francisco Lagreca
33-Paulo Celso Bassetti - Cadeira n° 39 - Patrono: José Luiz Guidotti
34-Raquel Delvaje - Cadeira no 40 - Patrono Barão de Rezende
35- Elisabete Jurema Bortolin - Cadeira n° 7 - Patrono: Helly de Campos Melges
36-Eliete de Fatima Guarnieri - Cadeira no 22 - Patrono Erotides de Campos
37-Valdiza Maria Capranico - Cadeira no 4 - Patrono Haldumont Nobre Ferraz
38-Vitor Pires Vencovsky - Cadeira no 30 - Patrono Jorge Anéfalos
39-Waldemar Romano - Cadeira n° 11 - Patrono: Benedito de Andrade
40-Walter Naime - Cadeira no 37 - Patrono Sebastião Ferraz