Armando Alexandre dos Santos Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado |
a) O que o cinema significa para você?
O cinema, enquanto arte, tem enorme significado para mim. Assisti a incontáveis filmes na infância e na adolescência. Aprecio, sobretudo, alguns gêneros de filmes: 1) os históricos, que apresentam retratos de épocas passadas; 2) os que contêm problemas filosóficos, psicológicos ou existenciais profundos; 3) os que envolvem discussões em tribunais de júri, debates entre advogados etc.; e 4) aqueles que retratam a história de um grupo familiar, num recorte de larga duração, abarcando várias gerações. Não me agradam os filmes chamados “de ação”, policiais, com tiroteios, perseguições malucas de automóveis, ou de ficção científica. De modo geral, aprecio mais os filmes europeus (italianos e franceses, sobretudo) do que os filmes norte-americanos.
b) Tente se lembrar de sua adolescência e infância, como o cinema influenciava sua vida?
O cinema, assim como a leitura, marcarou muito a minha infância e adolescência. Fui leitor voraz, a ponto de, aos 13 anos de idade, ter relacionado por escrito, de memória, todos os livros, de todos os gêneros, que até então havia lido. O número chegou a 300. Também via muitos filmes, geralmente quatro por semana, sempre que a programação do cinema perto de casa (onde eu tinha entrada gratuita, já que o gerente era meio parente meu) permitisse a presença de meninos da minha idade. Para mim, os livros e o cinema constituíam meios alternativos para emergir no passado, numa outra dimensão que me parecia incomparavelmente mais fascinante do que o presente. Como nasci em 1954, ainda assisti a incontáveis filmes em branco e preto e testemunhei a chegada dos primeiros coloridos. Na infância e na adolescência, como eu ainda não tinha maturidade para entender filmes de conteúdo mais filosófico, o que mais me atraía eram os filmes históricos sobre a Antiguidade Greco-Romana. Eu ficava, entretanto, furioso porque via que, frequentemente, os filmes modificavam os fatos que eu já tinha lido, alteravam-nos à vontade para favorecer um enredo hollywoodiano. Eu era muito criança, mas acho que foi naquela fase que começou meu senso crítico que só aumentou com a idade. É claro que, naquela jovem idade, não tinha condições de compreender, nem de longe, todo o alcance filosófico das duas epopéias de Homero ou a ele atribuídas. Isso, só com a idade fui alcançando compreender. Bem mais tarde, em contato com os textos originais de Homero (em traduções, claro!) e, recentemente, lendo outros livros que me marcaram muito (especialmente "A cidade antiga", de Fustel de Coulanges) e vendo ─ ou revendo ─ filmes novos ou antigos sobre a época (Tróia, Alexandre, Os 300 de Esparta etc.) é que me dou conta de como, sem sentir, aquelas leituras da infância me marcaram. De fato, compreendo agora que a Ilíada e a Odisséia significaram muito na minha vida, como podem significar na vida de quaisquer outras pessoas.
c) Que filmes (possivelmente) marcaram sua vida?
É um pouco difícil relacionar. Apenas para recordar alguns, destaco, entre os de cunho histórico, El-Cid, Coração Valente, Patriota, Ben-Hur, O Leopardo; entre os que apresentam problemas filosóficos ou psicológicos, Doze Homens e uma Sentença, O Mistério do Rosário Negro etc.; entre os que mostram o histórico de várias gerações de uma família, O Poderoso Chefão.
Artigo publicado na TRIBUNA PIRACICABANA
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