Cássio Camilo Almeida de Negri Cadeira n° 20 - Patrono: Benedicto Evangelista da Costa |
Cai a tarde.
São mais ou menos dezoito horas, a hora da Ave-Maria.
Estou caminhando, como quase sempre faço, para exercitar o corpo
físico, e lendo, ao mesmo tempo, para exercitar o intelecto.
Agora, sento-me no teatro de arena no Parque da Rua do Porto, bem
embaixo de uma amoreira carregada de frutos, e que me cede algumas de suas
delícias vermelhas, quase pretas.
À minha direita, chega um
passarinho para também comer amoras e me ensina uma grande lição. Esse ser
alado come as amoras bem verdes e olha para mim como a me dizer:
–“ Você come as frutas vermelhas
e eu as verdes. Qual a mais gostosa?”
Apanho uma fruta verde e ele voa para não sei onde, me deixando sem
resposta.
Durante a caminhada, eu vinha lendo um artigo – não importa de que
religião ou de qual filosofia – que
dizia ser aquela a verdadeira sabedoria, a verdade eterna, a verdadeira amora
vermelha.
Mas, o passarinho gosta da verde...
Qual a melhor? A amoreira tem frutas verdes, vermelhas, e também, olhem
no chão, tem as amoras pretas, bem podres, cheias de vermes que se deliciam com
elas.
Qual a melhor? A vermelha, a verde, ou a preta?
Obrigado vermes, vocês também resolveram reforçar minha lição.
Todas as amoras vêm da mesma amoreira e nenhuma é melhor do que a
outra.
Para mim, a melhor é a vermelha. Para o passarinho , a melhor é a
verde. Para o verme, a melhor é a podre.
Assim são as religiões, as filosofias. Todas são ótimas para a pessoa
certa, no momento certo, no lugar certo. A melhor é aquela que estou seguindo
neste instante, pois não existe nenhuma superior a outra. Cristianismo,
Budismo, Islamismo, Induísmo, Espiritismo e outros ismos e sofias, todas são
boas para a pessoa certa, no momento certo, no local certo.
Devemos ter muito cuidado de não cairmos nessa arrogância sutil que é a
arrogância espiritual de achar que só nós estamos com a verdade.
Seja a amora vermelha, verde ou podre, cada uma cumpre sua função.
Basta abrir os olhos da intuição e “ ver” a lição, tão clara a sua frente.
Obrigado, amoreira. Obrigado, passarinho. Obrigado, verme. Vocês me
ensinaram uma grande lição pela intuição, mais do que o livro que eu lia, pelo
intelecto.
Ensinaram-me que tudo é benéfico no momento certo, no tempo certo, no
lugar certo.
“ Quem tem olhos para ver, que veja!”
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