As
ondas do mar irradiavam reflexos dourados da lua cheia. Tal clarão dava
incentivo às águas do rio para o batismo no mar.
Em épocas passadas, esse momento era tenebroso para o rio; significava
a ausência de aconchego das plantas nos barrancos dos riachos, o desapontamento
de não usufruir com crianças, jovens e adultos as paradisíacas praias fluviais.
Sua vontade era permanecer por mais tempo nesses locais, porém, isso nunca foi
possível, desde que as águas do rio não podem parar e não retrocedem jamais.
Contudo, nos dias de hoje, ele não mais acalenta esses desejos; ao
contrário, quer sua trajetória rápida, pois a paisagem ficou triste, desoladora.
As matas ciliares foram devastadas, o leito onde se deleitava com os peixes
moleques, fazendo-lhe cócegas tornou-se viscoso, escuro e infunde medo e
repugnância.
Está chegada a hora de ser arrebatado dessa paisagem lúgubre. Suas
águas, agora aumentadas pela junção de outros rios, estão sendo arrebatadas
pelo mar. A expectativa é de alegria, misto medo.
Mas, eis que de repente, uma sensação de bem-estar o invade, ao ser
recebido pelo mar com mensagens de boas-vindas. É com muita emoção que o mar
saúda o Rio da Prata, formado por muitos irmãos, destacando-se de modo especial
o Paraná, Tietê e um de nome indígena, Piracicaba. De imediato, o mar se
simpatizou com o nome deste último, e quis conhecer um pouco de sua história. Soube,
que em algumas dezenas de anos passados, quando ocorriam constantes piracemas, peixes
variados de pequeno, médio e até grande porte, tentavam subir as suas
quedas d’água.
Porém, o que mais o impressionou, foi saber que no Rio Piracicaba, tanto
no passado, como nos tempos atuais, sempre aparece sobre suas águas, uma jovem
noiva com um véu de brumas esvoaçantes, conhecida e querida por todos que
habitam a cidade. É a Noiva da Colina, que com seu alvo véu, apenas roça levemente
as águas, nunca se entregando totalmente a elas. Por essa razão, muitos a chamam
eterna noiva, pois ainda não desposou em definitivo o seu parceiro, o Rio
Piracicaba.
Ouvindo com atenção o relato, o
mar silenciou por instantes, solidarizando-se a esse caso de amor.
Já escureceu. No céu pincelado de estrelas, a lua cheia espia e sorri
para o mar, emitindo raios de luz tão intensos, que a noite parece dia!
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