Carlos Morais Júnior Cadeira n° 18 Patrona: Madalena Salatti de Almeida |
O toque das marchas militares
ecoa, enche as ruas e as casas
como um troar de trovoada,
como uma voz possante e inflamada
pelo orgulho dos mortos
e pelos feitos dos heróis.
A multidão frenética, histérica,
vê a massa fardada que passa
no seu passo de gigante,
batendo os pés, sacolejando os braços,
como se a rudeza daqueles gestos
deixasse transparecer
a ânsia varonil
que seus peitos tanto aspiram.
E a multidão delira! A multidão geme,
sentindo o orgasmo febril
das paixões políticas e sociais,
sentindo a satisfação voluptuosa
de ver a força bruta,
a demonstração do poder das armas,
a desfilar garbosa e masculina
ante seus olhos chispantes,
ante seus olhos de lava,
que escondem atrás de si
a revolta, o ódio e a sede maligna
de ver aquele mesmo exército
lutar até a morte,
num clímax de violência, sangue e dor!
Depois passam homens herméticos, frios,
escondidos em tanques,
manejando imensos canhões,
dirigindo poderosos carros de combate...
Parecem monstros amorfos
saídos de algum conto de fada,
ou quem sabe, de um terrível pesadelo!
E a multidão aplaude, urra, baba,
ao ver aquele espetáculo magnífico
de poder bélico, de poder mortal.
E passam os generais engalanados
trazendo o sinete de sua força,
e no estômago, a úlcera, a má digestão
da insatisfação política e social do povo!
Aviões cruzam em algazarra
pelo cimo dos edifícios
marchetado de cabeças,
pontilhado de sorrisos obscenos,
parecendo antes pássaros gigantescos
vomitando, de quando em quando,
a poluição dos confetes coloridos.
Um padre abençoa as armas
fazendo delas instrumento sagrado,
para que jamais disparem menos
que papel colorido e bolhas de sabão.
E marcha o orgulho verde da nação
emproando o peito altivo,
empunhando o fuzil amigo
tal qual feras de anilina
de panos e de metal.
Os tambores rufam mais alto
mostrando a todos
os acordes da liberdade:
– Passo à direita. Um... Dois...
– Passo à direita. Um... Dois...
Meu filho assiste à tudo
eufórico, alegre, vibrante,
no seu entusiasmo infantil.
E levado pela febre magnífica
sacode os bracinhos finos,
levanta as perninhas frágeis,
e bate no chão os pezinhos fracos,
enquanto a boquinha pura
entoa na sua ingenuidade angelical:
– Passo à dileita. Um... Dois...
– Passo à dileita. Um... Dois...
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