Marisa F. Bueloni Cadeira no 32 - Patrono: Thales Castanho de Andrade |
Professores queridos, bons mestres, marcam nossa existência para sempre. Quem não se recorda de um determinado professor ou professora? Há nomes famosos de alguns deles, aqui em Piracicaba. Amado ou detestado, o professor zela em ensinar o que sabe. E são os heróis do seu tempo.
Contudo, creio que poucos ensinaram Português como o fez o professor e doutor Benedicto Antonio Cotrim, que partiu para a eternidade na semana passada, evocando em meu peito o abençoado tempo escolar. “Seu” Cotrim (assim o chamávamos) despertou em meu coração o amor à nossa língua pátria.
Ter aulas de Português com o professor Cotrim significava um aprendizado para toda a vida. Ninguém poderia esquecer a aula espetacular da Voz Ativa e da Voz Passiva, com seus gestos no ar, explicando de onde saía o objeto direto e onde entrava o sujeito, cruzando-os em nossas retinas. Eu vi.
“Seu” Cotrim foi meu melhor professor de Português. O mais sábio, o mais culto, o mais inteligente, o mais preparado. Não havia pergunta que ele não respondesse, nem questão do vernáculo para a qual ele não tivesse uma justificativa encantadora.
Amado Colégio Assunção, amados anos 60. Amados professores, livros adorados! As irmãs de São José, de tão grata memória: irmã Júlia, irmã Eulália, irmã Carmelita, irmã Edite, irmã Clara, irmã Amélia, madre Hortência. Como esquecer? Foi naquele tempo, usando o inesquecível uniforme azul-marinho, que a vida apresentou para mim a sua face mais bela.
Era um orgulho vestir a saia pregueada azul-marinho, cobrindo o joelho; a camisa branca com as três nervuras, na frente e nas costas; meias três quartos brancas e o “sapato preto de freira”, comprado na Sapataria Santana. Para completar o nobre vestuário juvenil, uma gravata azul-marinho, símbolo maior do Colégio das freiras.
“Seu” Cotrim nos elogiava em nossos uniformes e nunca impediu nenhuma aluna de permanecer na classe, por ter esquecido a gravata. Leu parte de uma redação minha numa aula e não dormi naquela noite, de tanta alegria! Creio que foi o grande incentivo para continuar escrevendo.
Tudo o que sei até hoje de gramática, devo-o ao querido professor Cotrim. Tive a graça de dizê-lo pessoalmente, num encontro com ele na Rua Boa Morte, há alguns anos. Eu o abordei e ele me reconheceu. Relembramos o amado Colégio Assunção e relatei: tudo o que sei da nossa língua-mãe, aprendera em suas aulas inesquecíveis. O professor pôs a mão na cabeça, num gesto saudoso, e disse: “Mas eu sofro de pensar no quanto judiei de vocês com a análise sintática”…
Respondi que não, que ele não havia “judiado” coisa nenhuma, pois nos fizera um bem imenso de nos ensinar a escrever e a construir bem uma frase. “E você tem uma boa sintaxe”, ele me disse, confessando-se meu leitor do jornal. Senti um grande orgulho e dei-lhe um abraço.
Professor Cotrim, o senhor nos ensinou a beleza das palavras. A fonética, a morfologia e a sintaxe que amo apaixonadamente. Há uma lousa no céu, tenho certeza. E nela, uma locução adverbial de paz paira eterna.
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