Acadêmica Myria Machado Botelho Cadeira n° 24 - Patrona: Maria Cecília Machado Bonachella |
“As
famílias de trinta ou quarenta anos atrás eram mais sólidas e equilibradas.”
Qual seria a interferência da mulher nesse equilíbrio? Por que razão, hoje, o
casamento atravessa uma crise tão grave, de tão grandes proporções?
No
mês em que se comemora o dia da mulher,meio discriminatório, convenhamos,o tema
proposto acima, vale uma abordagem.
Há
trinta ou quarenta anos atrás, o machismo dominava em toda linha. O homem era
senhor absoluto. Sua palavra, sua vontade e sua conduta, nem sempre louváveis,
eram , quando pouco, respeitadas. Ele podia dar suas “escapadas”, e o adultério
masculino não era considerado um crime. Os próprios filhos e a família o
desculpavam.A mulher devia ser submissa e aceitar, mesmo que tal atitude lhe
custasse o sacrifício da própria identidade. Ou quando ela se insurgia, gerando
um relacionamento apenas social, para salvar as aparências e evitar o
rompimento do vínculo, estabelecia-se um acordo, tendo em vista a segurança dos
filhos e seu desenvolvimento harmonioso e sem traumas. Havia porém, um
sentimento de revolta latente, de frustração que explodiu.
A
mulher insurgiu-se contra uma situação de hipocrisia e de castração. E foi mais
além, com muitos excessos. Não se pode, contudo, responsabilizá-la sozinha,
pela crise que sobreveio. Das mais graves, nos dias de hoje.
Tentando
reagir à dominação machista, a mulher quis ocupar espaços maiores do que os que
lhe cabiam, em termos fisiológicos e psicológicos. A igualdade com dignidade-
uma justa pretensão- extrapolou. Ela passou a ser competidora do homem, quase
uma adversária. Nesta competição hostil, o casamento perdeu sua posição de
união e perenidade. Esvaziou-se do sentido de complementação por excelência. E
os filhos vêm assistindo, perplexos, ao desmoronamento de uma união que
julgavam sólida, transformada em desrespeito mútuo e no desamor, atitude que a
criança, inconscientemente, rejeita.
Os
fatores históricos e sociais apressaram as transformações e estas atingiram,
sobretudo, a mulher. Suas funções específicas e intransferíveis, que não podem
ser substituídas pela governante, pela cozinheira ou babá, sofreram
conseqüências desastrosas. Sua presença como mulher e mãe é e será sempre
necessária, embora não se peça a ela que permaneça no lar como simples
espectadora das transformações sociais.
Ocorreu,
entretanto que, em busca do reconhecimento que faltava e, realmente como uma
fuga,a mulher apostou tudo, fora de casa. As atividades domésticas passaram a
ser menosprezadas; mesmo não saindo para trabalhar fora, sua posição é
diminuída, dentro da mentalidade consumista. O desejo de adquirir também
aumentou, em função desta mesma mentalidade. O fato é que, hoje,pela
superficialidade de ter quanto mais, ou pela necessidade premente, a mulher
ajuda nas despesas. Diga-se, com justiça, que seu desempenho no campo
profissional é ótimo, superando a concepção quase mítica de sua incapacidade.
Por
outro lado, esta realização complicou-lhe grandemente a vida. Ao voltar para
casa,suas tarefas são maiores, depois de um dia cansativo.O trabalho cotidiano
a espera, os filhos requerem sua atenção, desde que, no lar, a família não
precisa da funcionária, da economista, da pesquisadora ou da catedrática.O
cansaço, contudo, lhe abate o ânimo: ela deixou de ser a companheira,a
conselheira, a orientadora, a formadora. Já não é aquela figura ideal e feminina, capaz de
compartilhar com o marido daqueles momentos a dois, tão necessários ao
casamento. E para os filhos, sua ausência na vida de crianças e jovens se reflete
no quadro triste da sociedade atual. É visível a diferença entre os filhos que
recebem os cuidados maternos daqueles que foram terceirizados e entregues à
responsabilidade de outros.
Nada
impede, salvo em casos de necessidade extrema, que a mulher, buscando sua
realização pessoal e seu aprimoramento, se dedique, com prioridade, à formação
dos filhos, à manutenção harmoniosa da família, no sentido de uma convivência
saudável e bem aproveitada em qualidade. Será preciso, contudo que o homem
também colabore e redimensione sua atuação, deteriorada pelo machismo e o
egoísmo inconsequente.
Algumas
vezes, é preferível a separação a uma convivência prejudicada por brigas e
discussões constantes, pela desvalorização, pela concorrência e o desamor. Não
é bom para os filhos o convívio de inimigos em potencial a lhes oferecer uma
realidade deturpada pela hipocrisia e o duelo recíproco. Este exemplo
pernicioso vai refletir mais tarde na própria conduta dos filhos adultos.
A
união é uma necessidade para as duas partes, pois não é bom estar só, desde que
homem e mulher estejam devidamente preparados para um compromisso sério que
exige maturidade, vocação e respeito. Acima de tudo, o amor , capaz de
enfrentar as dificuldades inevitáveis. Só assim se constituirá a família
verdadeira, capaz de contribuir para a formação de um salutar organismo social.
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