Acadêmica Myria Machado Botelho Cadeira n° 24 - Patrona: Maria Cecília Machado Bonachella |
Não foi bem uma entrevista, mas uma
conversa, como salientou Augusto Nunes,
o condutor do programa “Roda Viva”, nesta última segunda feira, dia 24, durante
a apresentação da poeta Adélia Prado,
pela TV Cultura .No relativo pouco tempo que o competente jornalista vem comandando um dos mais interessantes programas
da TV, trazendo para o interior de
nossos lares um pouco da vida, do conhecimento e da experiência de nomes famosos no campo da cultura, da
economia, das artes e da política (ou alvos da contradição e do julgamento popular),
esta programação se distingue, em meio à mediocridade reinante de nossa Mídia, com raras exceções.
Uma conversa, sim , saborosa, rica e
imprevisível com a autora de tantos títulos em prosa e verso, foi o que
assistimos, magnetizados espectadores, entre a autora e os entrevistadores(as),
capazes e sensíveis, juntamente com o notável chargista e cartunista Paulo Caruso, eles(as) próprios
encantados com a simplicidade e a franqueza da grande mulher. Ela própria, a
personagem central de uma obra que já está inscrita na verdadeira literatura
brasileira. Sem modismos, sem retoques, num estilo claro e direto na forma e na
sintaxe, livre dos obscurantismos e dos
hermetismos tão em moda na poesia e na
prosa de pseudos escritores atuais, os temas cotidianos, aparentemente
corriqueiros, com os quais o leitor se identifica facilmente, destacam-se pelo
talento e pela graça, aliados a um original ineditismo na arte da boa escrita, num
enfoque em que esta simplicidade se transforma em profundidade.
Adélia diz e escreve o que gostaríamos
de ouvir e de escrever.Com precisão e objetividade ela contou um pouco de sua infância na cidade
mineira de Divinópolis, da vida familiar, do pai, seu incentivador indireto que
se apaixonava pelos textos de livros, ao ponto de lê-los em alta voz andando pela casa; da
escola e dos primeiros escritos, composições e quadrinhas que já delineavam seu
futuro; do encontro emblemático com
Clarice Lispector e Drummond com os
quais se correspondia e que, de certa forma, definiriam sua vocação.Falou
também de suas leituras e da profunda identidade que sente com os escritores
russos, sem deixar contudo de mencionar o execrável Putin, ora em foco com a anexação da Criméia.
A escritora, entre vários assuntos, como
o momento crucial que vivemos na política, a vassalagem e o apoio aos regimes
totalitários de Cuba e Venezuela, a Copa, a Petrobrás e os desmandos dos
corruptos, a ausência de lideranças e de uma oposição pra valer e, mais
lamentável, o silêncio e a passividade, uma quase anuência dos intelectuais
brasileiros que não se manifestam contra uma situação quase insustentável.
A pedidos dos entrevistadores, ela
declamou com expressão, dois belíssimos poemas de seu último livro, Miserere,
de forte conotação mística.Uma observação suscitada por Augusto Nunes, a
respeito de suas crônicas, muitas delas quase poemas,
quando Adélia disse, com ~ênfase , que prosa é prosa, e poesia é poesia”, levou-me a concordar com o apresentador. Meu
professor de literatura afirmava
sempre que a prosa , para ser bela, deve
ser musical para os ouvidos, o que,
realmente se encontra nos textos da poeta.
Muito se poderia dizer de Adélia Prado, cuja sensibilidade e talento , a
situam entre os grandes escritores brasileiros e que, ao terminar sua prosa,
bem mineira, deixou em todos aquela sensação
de bem estar e de fé no ser humano, como aquela música que se lamenta quando termina...
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