Marisa F. Bueloni Cadeira no 32 - Patrono: Thales Castanho de Andrade |
Quero o sabor da infância, a bolsa de couro, novinha, do antigo primário, com um cheiro que impregnava a alma e os sentidos. Quero uma lancheira com alça de cruzar no peito e um bolo de fubá feito pelas mãos da minha mãe.
Quero de volta a inocência da vida. Aquela que todos perdemos, um dia, quando se descobre a verdade. E aí, não tem mais volta. É preciso dignidade no contato com o assombro, e foi de rasgar a alma, não foi?
Quero ter um dia na semana para ficar letargicamente deitada ao sol. Como um lagarto, espreguiçar-me no espaço solar da minha casa terrena. Que a pátria celestial espere um pouco, pode ser? Tem um montão assim de coisa que eu ainda preciso fazer.
Quero agradecer a Deus pelos amigos que Ele me deu. São muitos, cara. São centenas e centenas. Coisa mais linda. Nunca pensei ter tantos amigos assim. São bons como um pão feito em casa. Cheiram a pêssego maduro, a jasmim. Têm a doçura da cana de Piracicaba. A gente precisa e eles estão lá, prontos para uma palavra, um carinho, uma força.
Quero ver você, pelo amor de Deus! Mostre-me seu rosto, mande uma foto. Precisamos nos conhecer. Esta tal de internet é uma coisa ótima, mas nossa amizade precisa de laços mais consistentes. Qual a cor dos seus olhos? E que perfume você usa? Seu prato preferido? Essas coisas. Dê notícias sempre, não vire sabão.
Quero esperar o inesperado. O segundo sol, a terceira margem, a sétima estrela. Quero ver de perto a beleza. Vou me extasiar à sua chegada e será arrebatador. Espio devagarzinho, fecho um olho, tapo a vista, faço de conta que ela não chegou. E pergunto: posso olhar? Não, ainda não.
Quero cantar uma canção sob as estrelas e pegar num raio de luar. Depois chorar. Preciso chorar. Meu peito está trespassado de dor, de saudade, de esperança! Vinde, arauto da paixão. Algo novo rumina dentro da minha alma e não sei o que é. Se soubesse vos diria. Mas não sei.
Quero ganhar, assim, de graça, sem pedir nem insinuar, um buquê de rosas vermelhas, destes que se manda quando se quer muito bem uma pessoa. Rosas vermelhas. Como resistir, meu Deus? E que venha com um cartão indecifrável.
Quero ler um livro onde haja uma história de amor, esse dono das nossas almas e que canta ao nosso redor. Quero ler até cansar e depois dormir o sono dos séculos. Acordar plena e com o coração batendo a alegria de viver.
Quero a plenitude dos momentos inexatos. Aquele onde tudo falta e, no entanto, tudo preenche. Você não entendeu. E não é para entender mesmo. Não se preocupe.
Quero que este texto sem pretensão nenhuma leve a cada coração o meu coração. Que a vida pegue leve conosco. Que as dores sejam suportáveis, nada que um Advil não resolva. Nenhuma cirurgia à vista, por favor. Nem para mim, nem para os que me leem neste momento.
Quero dizer o que ainda não disse. O que fica lá, no substrato de todas as coisas. E em algumas delas, resiste, forte e infinito, belo como nunca, algo chamado amor.
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