Marisa F. Bueloni Cadeira no 32 - Patrono: Thales Castanho de Andrade |
Se me perguntarem qual mês é mais bonito,
se abril ou maio, hesitarei na resposta. Abril é todo feito de luz, prenúncio e
confirmação da beleza outonal. A Terra se recompõe para um novo movimento e
pode-se ouvir o rumor de seu eixo em rotação.
Maio me traz uma parte linda da
infância e do grupo escolar. É o mês dos casamentos, o mês de Maria, o mês do
rosário. Relembro meu pai e minha mãe, rezando o terço, de joelhos, diante do
quadro dos Sagrados Corações. Não sei se rezo mais em maio do que nos outros
meses; acho que não. Rezo igual.
Nesta longa estrada da vida, vamos
todos seguindo e não se pode parar. À medida que avançamos na idade, nosso
trabalho parece aumentar, os compromissos e deveres se avolumam de forma
curiosa. Da vida ninguém se aposenta. É uma grande bênção ser útil em qualquer
tempo, todos os dias, para os outros, para nós mesmos e para Deus.
Quem julgou descansar em berço esplêndido
na aposentadoria, pode tirar o cavalo da chuva. Claro, há aqueles que, por
vontade e planejamento, desejam se enfurnar em algum sítio, deitar numa rede e
ali ficar para sempre. Mas em geral, não é bem assim.
Podem acontecer coisas terríveis na
sonhada mudança da cidade para o campo, quando se compra uma chacrinha graciosa
e se tem de conviver com o vizinho e mais quatro cachorros de diferentes raças.
Uma sinfonia de latidos para ninguém dormir.
Ou então, você compra a propriedade para
morar e o seu vizinho tem a dele para as festas e farras dos finais de semana.
Aí, você está perdido. Venda para o primeiro que aparecer. E vá se aposentar em
outro lugar. Talvez numa casinha boa, num bairro sossegado, sem tanto barulho.
Assim é a vida e suas surpresas, seus
golpes rasteiros, que nos pegam numa curva do caminho. Paciência. Porém, existe um grupo
privilegiado de pessoas que escapa meio ileso, envelhece com saúde, viaja o ano
todo, curte praia, tem dinheiro para tudo isso e é feliz. Qual será o segredo?
Não existe segredo algum. Ninguém sabe
como estas pessoas driblaram o derrame, o temido “alemão”, a diabete, as
doenças degenerativas e chegaram tão inteiras e dispostas, trafegando pela
longa estrada da vida sem bengala. Uns morrem de enfarte aos trinta anos,
outros estão nos setenta, dançando nos bailes saudosistas e programando a
próxima viagem.
Esta estrada é nossa velha conhecida e
por ela nos conduzimos, dando um passo por vez. Ao longo do trajeto,
encontramos os caminhantes ao nosso lado e dividimos um copo de água, um pedaço
de pão, uma peça de roupa, um abraço, pois seguimos todos para o mesmo lugar.
Quem trabalha de sol a sol, quem já se
aposentou ou já percorreu boa parte do caminho, enfim, cada um vai deixando sua
presença, sua marca e seu rastro no solo abençoado que palmilhamos hoje e onde
repousaremos amanhã.
Que a terra desta longa estrada da vida
nos dê frutos benfazejos e faça brotar de nós a relevante solicitude do amor.
Como diria o filósofo Mario Sergio Cortella: “Vivam bem e morram em paz!”.
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