Elda Nympha Cobra Silveira Cadeira n° 21 - Patrono: José Ferraz de Almeida Junior |
Durante a juventude, tão
passageira, muitos sonhos ficam sublimados, porque nem sempre se consegue
realizar o que se almeja. Depois do casamento vem o sonho da casa própria, bem
decorada, com jardim, cujas dimensões dependem da condição econômica de cada
um. Sonhar ansiosamente com filhos, e quando eles nascem desejar que cresçam
logo porque, longe de trazerem somente alegrias, trazem também bastante
trabalho e preocupação, que passam para um patamar mais externo.
Mesmo com a violência que nos
assusta, e os perigos na sociedade moderna, os jovens não param em casa, pois estão
preocupados em frequentar as baladas com os amigos, namorar, beber e se
divertir, enquanto resta aos pais ansiosos as noites mal-dormidas, ligações
para celular, que nem sempre são atendidas, e o incômodo de vê-los chegar
sempre com o sol alto para dormirem até duas horas da tarde!
De repente, os pais descobrem sua
verdadeira incompetência, quando não conseguem acompanhar os estudos, os
modismos, nem o linguajar dos rackers que têm em casa, especialistas em
computadores, que pensam numa velocidade tão alta que ter um bom diálogo com
eles torna-se impossível, afinal, quem disse que eles têm tempo, ou estão
interessados nisso? Resta aos pais chorosos, despedirem-se deles na noite do
domingo, quando, às pressas, voltam para suas faculdades, às vezes, em cidades
distantes, ou em outro país.
Certo dia, sem que os pais se
deem conta, acabam os telefonemas, as noites mal-dormidas, as malas de roupa
suja para lavar, a saudade constante por causa da ausência repetida, e eles casam
e vão viver suas vidas. Assim, aquele tempo que os pais sonhavam ter somente
para si está disponível, mas num dia-a-dia misturado com a solidão, com um
gostinho de monotonia e abandono, e aquela certeza de que a família está se
desintegrando pouco a pouco.
A vida segue a sua sequencia,
vagarosamente, e por um espaço de tempo muito curto, os velhos pais curtem o
tempo que lhes sobra exercitando a sua individualidade, cultivando as coisas do
intelecto e do espírito e a prática de esportes. Longe daquele trabalho diário
de doação, longe dos deveres paternos, que eles nem percebem que jamais foram
atingidos, voltam-se para o convívio dos amigos, para a leitura e para cultivar
as artes, viajar, e realizar tudo aquilo que tinha sido apenas sonho sublimado
da juventude.
Os netos, possivelmente, irão
preencher e alegrar seus corações, mas eles terão a certeza de que, apesar de
tudo, saberão usar o tempo dilatado, à sua disposição, que afinal, foi tão
esperado, em seu próprio proveito! Cada fase da vida traz muitos problemas,
dissabores e complicações, mas todas elas têm sua dose de felicidade. Chegou a vez
de eles usarem e dispor desta felicidade!
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