Marisa F. Bueloni Cadeira no 32 - Patrono: Thales Castanho de Andrade |
Na semana passada,
a música sertaneja perdeu seu grande ícone, José Rico. Acredito que uma das
mais bonitas homenagens foi feita no programa do Ratinho, na noite de quarta-feira,
dia 4 de março, quando músicos e duplas sertanejas se reuniram para celebrar o
grande ídolo.
Quem
assistiu ao programa, comprovou também que, de fato, Ratinho é um grande
apreciador do gênero e que sua amizade com os cantores e artistas sertanejos é
algo verdadeiro. O apresentador transbordava amizade, carinho e admiração aos
que ali se apresentaram, dando chance para que todos mostrassem sua arte, seu
talento.
No
final apoteótico, os artistas cantaram uma das mais conhecidas músicas da
dupla, “Estrada da vida”, um hino sertanejo, gravado por Milionário e José Rico.
Todos conheciam a letra de cor e cantavam com o coração. É nestas horas que se
pode ver quão amada e admirada era a pessoa, quando os amigos lhe prestam um
memorial digno e pleno de emoção.
José
Rico tinha um visual bastante polêmico, com seus cabelos longos e desgrenhados,
barbudo, ostentando grossas correntes de ouro, anéis, adereços dourados que lhe
davam uma aparência que alguns chamam de “brega”. Óculos escuros, a mão direita
sempre tapando o ouvido direito, enquanto cantava. Como se diz, uma figura.
Consta
que era um sujeito simples, com grande facilidade para compor. Um dos versos de
“Estrada da vida” diz: “Nós devemos ser o que somos / Ter aquilo que bem
merecer”. Filosofia simples, pequena, primitiva. Ser autêntico, verdadeiro, sem
disfarces diante do próximo ou de nós mesmos. Mas, sobretudo, tendo o que
pudemos conquistar e merecer. Filosofia
de sertanejo, do homem que canta com sua viola, seu instrumento de apoio à voz.
Do cantor que vê a vida sem sofisticação, pois ela se resume numa longa
estrada...
Nesta
longa estrada da vida, o compositor tem a “esperança de ser campeão/ alcançando
o primeiro lugar”. Esta frase musical incendeia qualquer coração, também para
os que não são fãs do gênero sertanejo. Todos nós temos a esperança de ser
campeões em alguma coisa. Lutamos e nos esforçamos para realizar algo que nos
dê alguma notoriedade, enfim, sobretudo se gostamos do que fazemos e se nisso
colocamos toda a nossa alma.
A
esperança de ser campeão, alcançando o primeiro lugar! Na corrida diária, nem
todos atingem este patamar. Poucos sobem no pódio para receber a taça, o
troféu, a medalha sonhada. Só mesmo os verdadeiros campeões, os merecedores da
glória. No dia-a-dia de nossas existências, escondem-se campeões anônimos, que
estão se consumindo, gastando suas vidas no serviço ao próximo, à sociedade, a
uma causa bela e justa. Também estes são vencedores, mas ninguém os vê
alcançando o primeiro lugar.
Sempre
achei muito espirituoso o nome da dupla, “Milionário e José Rico”. E agora,
“Milionário” está pobre, pois perdeu seu grande companheiro. O tempo cercou a
estrada de José Rico, o cansaço o dominou, suas vistas se escureceram e o final
desta vida chegou...
Nenhum comentário:
Postar um comentário