Acadêmica Myria Machado Botelho Cadeira n° 24 - Patrona: Maria Cecília Machado Bonachella |
A
paz,direito inalienável das pessoas, não a temos. As guerras absurdas,
inclusive de irmãos matando irmãos; atentados cegos e seus rastros de
sofrimentos contra civis e pequeninos; atos insanos de jovens portando armas de
guerra e metralhando crianças dentro das escolas; o desprezo e o total
desrespeito á dignidade humana como o que vivenciamos em nosso país, onde se
mata por uma conta de 7 reais, onde se mata no trânsito irresponsável, onde se
mata pela opressão e a corrupção! Em
todos os setores de atividades em que o desrespeito, o egoísmo, a cobiça e a
imoralidade, a exploração do mais forte contra o mais fraco prevalecem, há também
uma outra morte. As relações humanas estão abaladas nas mais variadas
dimensões, pois onde Deus não está, falta a justiça, a solidariedade, o
respeito pela vida da pessoa e seus direitos. Direitos que abrangem também a
vida em geral, os cuidados com a natureza, a criação e o mundo, nossa casa
maior, a casa de toda a família humana e seu bem comum. O mundo está precisando
de um choque de transformações, de formação, de espiritualidade, de culto á
beleza e à sensibilidade.
Somos
nós, os ocupantes da terra, obreiros responsáveis pela sua construção em todos os níveis do convívio social e
humano, em todas as relações, sejam elas políticas, econômicas, educacionais,
em todas as áreas religiosas, culturais, artísticas, no mundo da escola e da
comunicação, onde proliferam as más notícias, os maus exemplos, os estímulos
perniciosos ao consumo desbragado,os falsos ídolos,as relações pessoais tumultuadas e sem objetivos, em que
a sexualidade exacerbada ignora os
sentimentos e os princípios que fundamentam valores essenciais como a família,célula
principal de uma sociedade bem constituída.No Brasil,salvo honrosas exceções,
esta comunicação vai de mau a pior;
basta citar apenas o exemplo do confinamento vergonhoso, nos aspectos
mais execráveis de uma invasão de
privacidade fora dos padrões normais, oferecida em horário nobre pela
rede Globo, no reality show malfadado BBB.
Minha intenção
era o de aprofundar o tema, e comentar outros aspectos de nossa realidade tão
violenta, inclusive a da educação. E o leitor deve estar confuso quanto ao
título e se perguntando: o que tem a ver a música com a paz?
A música é,
sem dúvida, um dos mais poderosos veículos de encantamento; ouvindo-a, em silêncio de oração,sentimo-nos
dulcificados e os sentidos, aos poucos, alienam-se dos problemas,
identificando-se com a beleza.
Lang
Lang, o artista chinês, considerado, aos 30 anos, um dos maiores pianistas da
atualidade,foi menino precoce. Aos 3
anos, assistindo a um desenho infantil que executava uma peça clássica,
encantou-se e, a partir dai, não parou, estudando 5 horas por dia e vencendo todos os concursos
em que se apresentou.
Enquanto
ouvia e via aquelas mãos mágicas deslizando sobre o piano ( piano que mais
parece um prolongamento de seu próprio ser), para uma platéia numerosa e
totalmente siderada na comovente beleza das sonatas de Beethoven(
as de no 3 e a Appassionata), veio-me um pensamento insistente, o da beleza,de
que só ela pode salvar o mundo e trazer a paz, como bem afirmou o grande
escritor russo, Dostoievski.
Creio que é o momento de nos interrogarmos se
nossas buscas não estão em direções erradas; se não precisamos reconquistar os
espaços da sensibilidade que trazemos desde os mais tenros anos, na capacidade
de olhar, ver, ouvir e sentir como a criança para quem tudo é novo, e se
sustenta numa incrível lógica de paz, de amor e de convívio, que nós, a medida
que passam os anos, vamos deixando para trás e substituindo pelos artifícios
mundanos?
Na
segunda parte de sua apresentação, Lang Lang
executou uma outra jóia de I. Albeniz, Ibéria, Livro 3 (Evocação,
Porto e Festa de Deus em Sevilha). Nesses momentos de uma abstração que leva ao
infinito, julguei desnecessário e grosseiro qualquer alusão contrária ao meu
encantamento. Um extra de Chopin, o famoso Estudo no 1, sedimentou minha
decisão de não falar em violência,
chacinas, atentados e guerras, em face da verdade absoluta
da arte e da beleza, verdade que devemos buscar com mais intensa e
denodada razão e urgência!
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