Antonio Carlos Fusatto
Cadeira n° 6 - Patrono: Nélio Ferraz de Arruda
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Monólogo escrito por
ocasião dos 100 anos da ESALQ
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
Rebuscando
meus alfarrábios, encontrei anotações, de um tempo não muito distante, uma das
últimas caminhadas que o “destino” me permitiu fazer, pelo parque da ESALQ em
busca de, vigor físico e harmonia espiritual.
Cenário
deslumbrante!
Aqui,
ali, acolá, estouros de cores balouçantes ao vento ameno. É primavera,
gargalhando flores em toda parte, tornando a natureza um poema de bucólica
beleza, um painel multicor que somente o Grande Arquiteto do Universo sabe
pintar.
Sol
em ouro escaldante, incendeia a terra, embora a manhã apenas começando.
Grande
quantidade de pessoas divididas em pequenos grupos ou casais, caminham
tagarelando pelo parque, indiferentes à misteriosa magia que as cerca, jovens
estudantes, alegres e brincalhões, caminham para as aulas “num ritual
cotidiano”, afinal estão vivendo a “primavera” de suas existências.
Inconstantes
ventos tépidos, parecem carregar ânforas de perfumes sobre os vergeis,
inundando tudo com a fragrância da estação. Céu azul, com nuvens gigantescas
emolduram a paisagem multicor, onde flores jovens por toda campina, tremulam ao
suave toque de audaciosos insetos.
Caminho
mais um pouco; paro, observo, sinto a inconstância do vento, batendo em meu
rosto como a segredar alguma coisa, tento entrar em sintonia com esta Egrégora
Cósmica... Mais adiante, o velho e saudoso bonde, ainda bem conservado em seu
“pedestal” no meio de um jardim.
O
pensamento vagueia pelo tempo, e direciona a atenção para o passado: ouço seu
ruído inconfundível sobre os trilhos da R. São João, sinto seu balanço,
carregado de irrequietos e até irreverentes agricolões, revejo as normalistas
do Normal Rural, em seus uniformes impecáveis, os calouros (bichos) caras
pintadas, saltando dos estribos para fugir dos veteranos, e, ouço o sino tocado
pelo cobrador a cada passagem recebida.
Estas
recordações fazem vibrar a sensibilidade de minh’alma, tocam-na até o âmago.
Recomponho a mente, e observo que não estou mais sozinho neste local pictórico;
jovem nubente posa feliz para as câmaras de prestigioso fotógrafo.
Enquanto
filhotes de pássaros chilreiam num ninho que balouça em baixo ramo, expondo a
doçura da penugem que guarnece suas gargantas, do alto das árvores, trinado dos
sabiás e arrulhos das rolas, completam a
sinfonia da vida aumentando a magia do parque.
Mais
acolá, a antiga casa do diretor; hoje o bem cuidado museu da ESALQ, onde
relíquias históricas da velha escola são conservadas com carinho e devoção
quase religiosa. No lago à frente, a nostalgia profunda de uma solitária garça
pousada à beira.
O
tempo passa lento, continuo minha caminhada, a maioria dos habituais
caminheiros do parque foram embora.
A
grandeza majestosa das enormes árvores plantadas durante décadas por turmas de
formandos, erguem-se para o céu em constante e silenciosa oração; lembrança
viva daqueles que, aqui passaram...
A
orquestra da natureza não pára; emite acordes sonoros, provocando neste uma
emoção misteriosa, sou expectador e protagonista deste belo espetáculo de vida.
Não muito longe, sob melodia inconfundível da cascata do Piracicamirim, bando
de pássaros bailam pelas nuvens, formando desenhos no ar.
O
bem cuidado parque da ESALQ Piracicaba é um santuário ecológico no coração da
cidade.
Antonio
Carlos Fusatto é membro da Academia Piracicabana de Letras, Centro Literário de
Piracicaba e Clube dos Escritores.
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