Ivana Maria França de Negri - Cadeira n° 33 Patrono: Fernando Ferraz de Arruda |
Natal
virou sinônimo de se empanturrar de comida, de beber além da conta e de
consumir, consumir e consumir!
Onde
perdeu-se a essência do início? Onde ficou a magia da estrela, o deslumbramento
com o presépio vivo, o Menino Sagrado, os reis do Oriente, a mensagem cristã?
Machado de
Assis, numa de suas inspiradas elucubrações poéticas, criou a questão que
empresta o titulo à minha crônica.
Muito se tem
discutido sobre as mudanças que se operam com o passar dos anos. O Natal da
infância é encantado, como encantados são todos os dias da aurora da nossa
vida. O gosto das frutas colhidas no pé, o aroma dos bolos fofinhos da vovó, as
histórias de bruxas e fadas das titias e madrinhas, o vai-e-vem na cozinha, o pinheiro
feito de um galho de árvore e as cartinhas escritas com a ajuda dos mais velhos, tudo tão maravilhoso...
Como era bom
deixar a fantasia aflorar, e ver com olhos infantis toda a mágica atmosfera do
Natal e enxergar as pessoas em sua essência e não pela sua posição social, pelo
cargo que ocupam ou pelas cifras em suas contas bancárias.
Criança vibra
com as novas descobertas, maravilha-se com as pequenas coisas e vive em estado
permanente de encantamento. É o Natal inocente dos pequeninos, que esperam os
presentes que o bom velhinho vai lhes trazer como prêmio pelo bom
comportamento. Também tem a aura de sacralidade que envolve o presépio, o bebê
rosado e sorridente entre os animaizinhos ao redor da manjedoura e os
misteriosos reis magos com seus presentes esquisitos.
A gente cresce
e o encanto se quebra, os sonhos viram pó, os problemas e as preocupações tomam
conta da nossa vida, que perde a poesia. Entramos numa roda viva e não sabemos
mais sair dela. Não se encontra mais a porta de saída. E chegam as neuroses, o
esgotamento, o desânimo, a depressão, as doenças misteriosas que ninguém sabe
como aparecem e muito menos o medicamento milagroso que vai curá-las. Mudaram
os Natais? Ou mudamos nós?
É, meu caro
Machado, certamente todos nós mudamos com o passar dos anos. Mas a celebração
do Natal também vai ficando diferente ano a ano. Se nada é estático e tudo está
em constante transformação, por que não mudaria o espírito do Natal?
Alguns chamam a isso de progresso, outros de
evolução. Crescemos e somos induzidos a enxergar o Natal de outra forma.
Mas há quem
consiga sentir as sensações mágicas da infância, ter o encanto preservado,
apesar de tudo.
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