Evaldo Vicente Cadeira n° 23 - Patrono: Leo Vaz |
Nunca é
demais falar, em Piracicaba e especialmente no âmbito da Academia Piracicabana de Letras (APL) – que, neste 11 de março, completa 45 anos de fundação –, de
João Chiarini, o professor, o jornalista, o escritor, o tribuno e, acima de
tudo, do animador cultural que Piracicaba pode ter séculos pela frente. Sua
obra poética, “Argamassa”, um conjunto de manifestações sociais em versos
livres, será a grande divisora de águas do seu trabalho intelectual, tenho
certeza. É que, ainda, um crítico da área, técnico, não parou para analisá-la
profundamente.
E falar
do “amado” João Chiarini sem falar de Jorge Leal Amado de Faria, para quem
conheceu bem o primeiro, parece que não tem graça. E, dos mais brilhantes
jornalistas de Piracicaba, Roberto Antonio Cera, o Cerinha, sabe bem, muito
bem, a que me refiro. Numa certa roda, qualquer que fosse, Chiarini chegava e
falava de Jorge Amado, o escritor, com desenvoltura, sossego, quase tudo de cor
e salteado, e que havia ligado para ele ou que Jorge tinha lhe telefonado. E se
alguém lhe perguntasse de que Jorge – dizia ele apenas Jorge, sem o Amado –
“qual Jorge?”, tranquilamente um nome feio saia daquela língua ferina.
É que
Jorge Amado, já com Zélia Gattai, foi padrinho de casamento de João Chiarini e
Tita – apelido carinhoso de dona Iraídes –, a sempre doce Tita que nos recebia
com afeto na casa dos chás gelados da rua Santo Antonio. De tantas histórias e
tanta leitura, pois era ela, a Tita, a grande devoradora de livros e mais
livros da imensa biblioteca do autor de “Argamassa”. Talvez lenda, mas se dizia
que, no dia do casamento, Chiarini deixou a jovem esposa e ficou, horas e horas,
a conversar com o seu “amado” Jorge Amado e, lógico, com Zélia e a própria
Tita. Lua de mel, naquele tempo, ficou para depois! Lenda? Não sei.
Era
sonho de Chiarini que o laureado e louvado escritor baiano viesse em 1972,
naquela tarde de 11 de março, um sábado, no antigo prédio da Faculdade de
Odontologia de Piracicaba (FOP), para a instalação da sua (e nossa) sonhada
Academia Piracicabana de Letras, hoje presidida pelo acadêmico Gustavo Jacques
Dias Alvim, vereador à época e que representou o Poder Legislativo de
Piracicaba em tão concorrida cerimônia. Não veio Jorge, o “amado” de Chiarini,
mas vieram figuras destacadas da cultura na época, como Flávio Carvalho,
Norlândio Meirelles de Almeida – o doutor em Castro Alves – e um sobrinho-bisneto
do autor de “Navio Negreiro”, então diretor da Aços Villares, empresa da
família em São Bernardo do Campo.
E muito
se falou de Jorge Amado, “amado” de João Chiarini, naquela sessão solene, cheia
de medalhas e até medalhões, de pessoas simples, pescadores, cantadores de
cururu, violeiros, sanfoneiros, que foram prestigiar o professor e mestre do
folclore caipiracicabano, João Chiarini – o livro “Cururu” basta como citação –
já assentado ao lado do “pai” Luis da Câmara Cascudo e do paulista não menos
famoso e sempre mestre Alceu Maynard de Araújo. Imponente, ao lado de João
Chiarini, a figura mais perfeita do caipiracicabanismo, o professor Thales
Castanho de Andrade, autor de “Saudade” e de tantas histórias que se seguiram
para os sonhos do mundo infantil.
A
academia que herdamos de João Chiarini era mais do que os personagens de Jorge
Amado. Tudo diversificado, liberado, livre dos preconceitos exportados pela
França, como Gabriela, descobrindo e impondo um mundo novo, uma nova história.
O Jorge “amado” de Chiarini, foi o patrono, na instalação da APL, do não menos consagrado
escritor Cecílio Elias Netto, que, na época, colhia os frutos do sucesso de “Um
Eunuco para Ester”, romance, que tocava o clarim a uma sociedade que viria a
reconhecer como ser humano os homossexuais, as lésbicas, enfim.
Amado,
Jorge Leal de Faria, foi padrinho e orgulho de Chiarini, João. E todos tinham
que saber, sem qualquer aviso, que, quando falasse de Jorge, o autor de
“Argamassa” estava falando do autor do “País do Carnaval”. Várias vezes fui advertido
e até ofendido por Chiarini em tentar citar um outro Amado, James, irmão mais
novo de Jorge. Autor de “Chamado do mar” (de Ilhéus), James sequer era lembrado
na roda de Jorge “amado” Chiarini, o João.
Nenhum comentário:
Postar um comentário