Ivana Maria França de Negri
Os versos de Manuel Bandeira foram
a inspiração desta crônica. Mas...onde fica Pasárgada? Existe mesmo esse lugar?
Dizem que era uma antiga cidade da Pérsia, mas não existe mais. Restou apenas
um sítio arqueológico e a metáfora de um local fantasioso, onde reinaria a
felicidade plena. Em alguma fase da vida todos temos esse desejo de evasão,
quando o mundo se apresenta cruel demais e queremos fugir da realidade e viajar
para o mundo das ilusões.
Final de um ano, início de outro, ciclos que terminam,
recomeços, e todos ficamos mais reflexivos, questionamos nossa existência e
contabilizamos as conquistas e as perdas.
Sonhamos com um paraíso onde não há sofrimento, nem dor, que
nos acena promessas de felicidade. Mas só poetas e crianças conseguem vislumbrá-lo
em algum momento de suas vidas. Esse éden pode existir em outras dimensões
inimaginadas.
“Além do horizonte existe um lugar, bonito e tranquilo pra
gente se amar” diz a letra da música. E reza a lenda que no final do arco-íris
tem uma ponte que liga a terra ao céu... Muitos tentam localizar o paraíso
perdido, o Jardim do Éden descrito na bíblia. Talvez alguns até descubram o
portal que se abre para esse Eldorado, mas se o encontram, não contam para
ninguém, pois não querem ser chamados de loucos. A maioria dos pobres mortais,
apenas o visitam em sonhos, quando estão nos braços do deus Morfeu, entre a
vigília e o sono. E quando despertam, ficam com aquele sentimento de angústia,
de nostalgia, de querer voltar, mas não sabem como chegar até lá, a não ser em
sonhos mesmo.
No conto de Peter Pan, o menino que se recusava a crescer e
virar adulto, existia uma ilha denominada Terra do Nunca, um lugar mágico e de
localização indefinível. Talvez só exista no imaginário das crianças e dos
adultos com alma de criança. Lá os meninos perdidos vivem aventuras sem fim,
com piratas, índios, fadas, muitas descobertas,
surpresas e emoções. Emoções essas que só podem ser sentidas e não
compreendidas.
E a gente conclui que tudo nesta vida tem que ter uma certa dose
de fantasia. Existe o mundo real e o surreal. E às vezes, viver o real é bem
doloroso. Por isso é bom sonhar!
Alice, a do país das maravilhas, em seu
universo não menos mágico, pergunta ao coelho branco: “Quanto tempo dura o
eterno? E ele responde para Alice: “às vezes, apenas um segundo...”
O Pequeno Príncipe, outro personagem intrigante e enigmático,
traduz em sábias palavras o que é preciso para entrar nesse mundo onírico: “o
essencial é invisível aos olhos e só se pode ver bem com os olhos do coração.”
Termino meu texto com Bandeira, tal como o iniciei: “Vou-me
embora pra Pasárgada, lá sou amigo do rei, em Pasárgada tem tudo, é outra civilização!
Lá a existência é uma aventura! E quando eu estiver mais triste, mais triste de
não ter jeito, quando de noite me der, vontade de me matar, vou-me embora pra
Pasárgada, aqui eu não sou feliz...”
* Texto publicado na GAZETA de PIRACICABA - 9 de Janeiro 2018
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