Rio Piracicaba

Rio Piracicaba
Rio Piracicaba cheio (foto Ivana Negri)

Patrimônio da cidade, a Sapucaia florida (foto Ivana Negri)

Balão atravessando a ponte estaiada (foto Ivana Negri)

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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

FIM de CARNAVAL

 


                                                                       Leda Coletti

 

Quando professora, morei em Araraquara, na casa de uma senhora, onde Rosalina cuidava dos serviços domésticos. Beirava a casa dos sessenta anos, embora não aparentasse. Morena trigueira, enviuvara alguns anos atrás. Era muito estimada pela moradora, pois ela e o finado marido foram caseiros da família. Por isso, sempre residiram no grande sobrado, ocupando o apartamento do quintal. Após seu falecimento, continuou ocupando-o, sozinha.

Muito expansiva e “sem papas na língua”, era muito querida por todos que frequentavam aquela casa. Cuidava bem dela, principalmente da cozinha, onde procurava fazer sempre um quitute especial, para agradar as visitas e seus moradores. O café da manhã era mesmo um requinte! Preparava suco de laranja, leite fervido, pão fresco e quente, buscado na padaria da esquina e, antes do despertador tocar nos quartos, lá estava ela batendo nas portas, com a bandeja pronta, coberta por alvo guardanapo.

Gostava muito de festas e, sobretudo da comemoração de seu aniversário, quando os familiares e amigos de sua patroa se reuniam para uma suculenta feijoada. Nesse dia ela se esmerava no penteado, usando uma das minhas perucas,(ela gostava muito da loira).Vestia a blusa preta colante, sandálias de salto e uma saia longa rodada, com grande babado. Muitos colares adornavam seu pescoço, além de brincos pingentes. Sua pintura carregada em excesso chamava a atenção. Ela se achava muito bem assim, e insistia no reforço positivo dos conhecidos : “Você está  abafando!”

Nos finais de semana saía à noitinha e, geralmente voltava “alegre”, por causa da cervejinha e outras “tranqueiras”, como dizia minha amiga. Esta, chamava sua atenção por chegar tarde da noite, cantarolando, batendo portas, e até falando sozinha. Havia ocasiões, em que se formava um “bate-boca” acalorado, entre as duas. Ela, a tudo retrucava e só parava, ao ouvir sua voz forte “cale essa boca, vá cuidar da vida.”

Naquela noite, juntamente com as amigas fui ver o Carnaval na avenida principal da cidade. Para ver o desfile, havia pessoas acomodadas nas janelas, nos mesaninos dos prédios, em cima de caminhões. Os mais afoitos por lugares melhores sentavam na calçada, em bancos improvisados e cadeiras. O burburinho era geral. Enquanto o corso não começava, um grande “footing” se formava. Rapazes e moças, com roupas leves e vaporosas, aproveitavam o tempo para paqueras e conversas. Os vendedores de água, pipoca, amendoim, algodão doce, bexigas, cervejinhas, refrigerantes, sorvetes, passavam oferecendo seus produtos.

De repente, ouve-se o som de tambores que se aproximam. Os guardas insistem para que as crianças e adultos, deixem a passagem livre para os foliões. Uma fileira de senhores vestidos de terno de linho branco, calçando sapatos da mesma cor, bengala numa das mãos, e na outra segurando a cartola saúdam o povo que os aplaude. De intervalo a intervalo se sucedem os blocos: o das odaliscas, dos bichos, das baianas, que acompanham com muita desenvoltura a bateria, todos com trajes típicos.

Para separar os blocos e carros, sempre aparecem moças dançando, fazendo evoluções. Numa dessas passagens, nós ficamos surpresas ao vermos aquela senhora, destoando entre as demais. Vestia um maiô vinho cheio de vidrilhos e usava meia de seda na perna descoberta. Os seus trejeitos não revelavam ensaio anterior, como as demais dançarinas. Percebia-se ser tudo improvisado. Mas isso não impedia que o público a aplaudisse, pois sua animação era contagiante. Jogava confete, serpentina, não parando de cantar e sambar. Foi numa das evoluções, quando se aproximou do lugar em que estávamos, que a reconhecemos. Era Rosalina. Ela não nos viu.

 O espetáculo terminou por volta aproximadamente das duas horas da manhã. Fui em seguida para casa e logo me deitei. Como a janela do meu quarto dava para o seu apartamento, fiquei atenta para ouvir quando ela chegaria. As horas foram se passando e nada dela chegar. Perdi o sono. Já eram cinco horas da manhã; os galos das casas vizinhas cantavam, anunciando a quarta-feira de cinzas, e nem sinal dela chegar. Ao levantar para tomar um copo d’água deparei-me com minha amiga e contei-lhe o ocorrido. Ambas decidimos sair para ver se a localizávamos.

Fui dirigindo meu carro pela avenida onde morávamos, na direção do centro comercial do bairro. Um vulto de mulher na quadra adiante, chamou nossa atenção. Paramos a uns cinquenta metros e ficamos observando. Era um bar conhecido na cidade, frequentado por bêbados, que se reuniam diariamente para tomarem vários “tragos” de pinga. As brigas que aí ocorriam, culminavam muitas vezes em prisões e até em assassinatos.

A mulher que se parecia com nossa amiga sentou-se na sarjeta e, de onde estávamos ouvíamos seus palavrões, acompanhados de gestos com os braços. Segurava numa das mãos um copo. Era nossa companheira. Enquanto trocávamos ideias sobre quais atitudes tomar, saiu um senhor com andar cambaleante e foi em sua direção. Falaram alto alguns segundos e, sem que se esperasse, ele lhe deu um chute, fazendo com que ela caísse na sarjeta e o copo se quebrasse.

Por sorte, nesse momento passou uma viatura da polícia. Minha amiga saiu do carro e fez sinal para que parasse. Era um policial, seu conhecido. Contou-lhe o sucedido e pediu-lhe que conduzisse Rosalina para nossa casa, onde a esperaríamos. Este prontamente atendeu seu pedido, mesmo ouvindo seus impropérios, recusando-se a entrar no camburão.

Quando esta chegou escoltada pelos soldados, minha amiga lhe disse com voz alterada: “Depois conversaremos”. O dia já rompia.

Dirigindo-se ao apartamento, não entrou de imediato. Sentou-se na porta e olhando em direção aos meus aposentos, dizia:

_ Suas bruxas, o que vocês pensam que são? São umas chatas, metidas a madames, e eu, a trouxa, todo dia a levar café na cama para vocês. Mas, vão ver! A partir de hoje, não vai haver mais nada disso. Adeus ao lombinho e à berinjela de forno. Ela se referia aos quitutes muito apreciados por nós.

Eram sete horas da manhã, quando se fez silêncio naquele sobrado. Que quarta-feira de cinzas! Sem café na bandeja, sem almoço, e os olhos ardendo e vermelhos, fui trabalhar  no período da tarde. Logo que entrei na sala de aula, uma aluna observou:

- Ei professora, brincou bastante? A senhora está com cara de que farreou a noite inteira! 

Ao retornar do trabalho, vi que a mesa do jantar já estava posta. Antes que sentássemos para saborear a suculenta sopa, Rosalina já estava anunciando:

-Amanhã vou preparar aquela bacalhoada que vocês gostam, e, sem se importar com as broncas da patroa saiu a cantarolar.

Era assim  nossa convivência. Um misto de surpresas alegres e tristes. De tudo ficou a lembrança saudosa das amigas que já partiram para o lado  de cima.

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Galeria Acadêmica

1-Alexandre Sarkis Neder - Cadeira n° 13 - Patrono: Dario Brasil
2- Maria Madalena t Tricanico de Carvalho Silveira- Cadeira n° 14 - Patrono: Branca Motta de Toledo Sachs
3-Antonio Carlos Fusatto - Cadeira n° 6 - Patrono: Nélio Ferraz de Arruda
4-Marcelo Batuíra da Cunha Losso Pedroso - Cadeira n° 15 - Patrono: Archimedes Dutra
5-Aracy Duarte Ferrari - Cadeira n° 16 - Patrono: José Mathias Bragion
6-Armando Alexandre dos Santos- Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado
7-Barjas Negri - Cadeira no 5 - Patrono: Leandro Guerrini
8-Christina Aparecida Negro Silva - Cadeira n° 17 - Patrono: Virgínia Prata Gregolin
9-Carmen Maria da Silva Fernandez Pilotto - Cadeira n° 19 - Patrono: Ubirajara Malagueta Lara
10-Cássio Camilo Almeida de Negri - Cadeira n° 20 - Patrono: Benedito Evangelista da Costa
11- Antonio Filogênio de Paula Junior-Cadeira n° 12 - Patrono: Ricardo Ferraz de Arruda Pinto
12-Edson Rontani Júnior - Cadeira n° 18 - Patrono: Madalena Salatti de Almeida
13-Elda Nympha Cobra Silveira - Cadeira n° 21 - Patrono: José Ferraz de Almeida Junior
14-Bianca Teresa de Oliveira Rosenthal - cadeira no 31 - Patrono Victorio Angelo Cobra
15-Evaldo Vicente - Cadeira n° 23 - Patrono: Leo Vaz
16-Lídia Varela Sendin - Cadeira n° 8 - Patrono: Fortunato Losso Netto
17-Shirley Brunelli Crestana- Cadeira n° 27 - Patrono: Salvador de Toledo Pisa Junior
18-Marcelo Pereira da Silva - Cadeira n° 28 - Patrono: Delfim Ferreira da Rocha Neto
19-Carmelina de Toledo Piza - Cadeira n° 29 - Patrono: Laudelina Cotrim de Castro
20-Ivana Maria França de Negri - Cadeira n° 33 - Patrono: Fernando Ferraz de Arruda
21-Jamil Nassif Abib (Mons.) - Cadeira n° 1 - Patrono: João Chiarini
22-João Baptista de Souza Negreiros Athayde - Cadeira n° 34 - Patrono: Adriano Nogueira
23-João Umberto Nassif - Cadeira n° 35 - Patrono: Prudente José de Moraes Barros
24-Leda Coletti - Cadeira n° 36 - Patrono: Olívia Bianco
25-Maria de Lourdes Piedade Sodero Martins - cadeira no 26 Patrono Nelson Camponês do Brasil
26-Maria Helena Vieira Aguiar Corazza - Cadeira n° 3 - Patrono: Luiz de Queiroz
27-Marisa Amábile Fillet Bueloni - cadeira no32 - Patrono Thales castanho de Andrade
28-Marly Therezinha Germano Perecin - Cadeira n° 2 - Patrona: Jaçanã Althair Pereira Guerrini
29-Mônica Aguiar Corazza Stefani - Cadeira n° 9 - Patrono: José Maria de Carvalho Ferreira
30-Myria Machado Botelho - Cadeira n° 24 - Patrono: Maria Cecília Machado Bonachela
31-Newman Ribeiro Simões - cadeira no 38 - Patrono Elias de Mello Ayres
32-Angela Maria Furlan – Cadeira n° 25 – Patrono: Francisco Lagreca
33-Paulo Celso Bassetti - Cadeira n° 39 - Patrono: José Luiz Guidotti
34-Raquel Delvaje - Cadeira no 40 - Patrono Barão de Rezende
35- Elisabete Jurema Bortolin - Cadeira n° 7 - Patrono: Helly de Campos Melges
36-Eliete de Fatima Guarnieri - Cadeira no 22 - Patrono Erotides de Campos
37-Valdiza Maria Capranico - Cadeira no 4 - Patrono Haldumont Nobre Ferraz
38-Vitor Pires Vencovsky - Cadeira no 30 - Patrono Jorge Anéfalos
39-Waldemar Romano - Cadeira n° 11 - Patrono: Benedito de Andrade
40-Walter Naime - Cadeira no 37 - Patrono Sebastião Ferraz