Mulheres e livros
Para Marcelo Rubens Paiva, resistente,
resiliente
Mesmo que ainda
não seja o ideal, há algo de novo no mundo dos livros. Fiquei emocionado
quando, terça-feira passada, vi quinhentas pessoas lutando por um espaço no
SESC Pinheiros para assistir Itamar
Vieira Junior conversar com Walter Hugo
Mãe. Brilhantes e bem humorados. Eu regressava
de três cidades nas semanas anteriores em feiras
organizadas por mulheres à frente de academias locais. Como Rosana Celidonio,
em Pindamonhangaba e Ivana Maria em
Piracicaba, à frente de um grupo que se reuniu há décadas em uma oficina
literária e está junto até hoje. Finalmente, Araraquara chegou a sua terceira
Fli-Sol, graças a tenacidade de Bernadete Passos, que levou forte time de
autoras, da portuguesa Ana Filomena Amaral a Djamila Ribeiro, da Academia Paulista de Letras, fundamental na luta contra o machismo e o preconceito contra negros. Ela veio de Nova
York, onde leciona atualmente. E ouvimos a
especialista em envelhecer, Lilian Lianga, chinesa de 50 anos, que
conhece todas as zonas azuis do mundo, onde as pesssoas chegam aos 120 anos..
Sem esquecer o encontro com a trans Amara Moira que teve uma recepção entusiasmada. Assombrosa
pela cultura e humor. Mais tarde, ao meu lado no jantar, Amara passou horas a explicar a um professor de
línguas os estranhos termos do romance
“Ulisses”, de James Joyce. Tudo tão claro que decidi, de novo, tentar a leitura
Corri, comprei
“Neca”, romance de Amara, e penetrei em uma linguagem “moireana”. Joyce perde.
Sabem o que é “ocó”, “nenar”,
“equê”, “ruela”, “tombar a necka”,”cli”.
E dai em diante?
E
de repente, percebi onde começaram essas
feiras a fomentar a leitura. Com uma gaucha destemida, que por quarenta anos, mulher que
nós ,escritores de todo o Brasil
amamos Tania Rösing, ex- professora da Universidade de Passo Fundo,
criadora das Jornadas de Literatura, que ao serem encerradas há pouco abrigavam a cada ano sete a oito mil pessoas
na plateia, vindas do país inteiro. Não por acaso a cidade gaúcha registra o
maior índice de leitura do Brasil. Mas o sucesso das Jornadas provocou o ciúmes de um reitor que deu um
basta. A jornada terminou, depois de centenas de milhares de escritores terem
passado por ela.
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