Ivana Maria França de Negri
Às vezes, quando estou muito cansada,
triste ou desencantada com a vida, imagino que me transformo em vapor d´água,
numa fumacinha branca com densidade de nuvem.
Imóvel, imersa em imensa paz, cada átomo
do meu corpo se desintegra e se liquefaz. E vou me tornando uma espuma
borbulhante. Não mais existem ossos, nervos, tendões, músculos, vísceras ou
carnes. Só espuma...
No início da transformação, sou uma
substância viscosa, mais densa, mas aos poucos vou me purificando, me
destilando e me tornando cada vez mais etérea.
A estrutura dos tecidos se modifica, meu
corpo vai se metamorfoseando, se dissipando, mesclo-me às nuvens até me fundir
com a imensidão do Universo.
Mudo de dimensão sem ter que passar por
estágios dolorosos de doenças, sofrimento, UTIs, definhamento, caixões, flores,
rezas, despedidas, missas, velórios, simplesmente desapareço sem deixar
rastros. Num estalar de dedos, assim: “pluft!” e sou pulverizada.
Viro uma entidade do ar, não mais da
terra. Leve, sem peias, sem grilhões, deixando para trás problemas, mágoas e
dores. Como a água, que ao ser aquecida se transforma em vapor e passa do
estado líquido para o gasoso.
Não preciso mais de lágrimas, sou a
própria lágrima evaporada e me despeço das lutas do mundo.
Viro brisa perfumada na primavera, sopro
morno no verão, aragem amena no outono e neblina gelada no inverno. Um vapor
aquoso sem forma, que não pode ser contido.
Deito suavemente no travesseiro do tempo
onde dormem os que sonham liberdades.
Mudar de estado vibratório é fascinante!
Nas dimensões mais altas tudo é bem mais sutil e maravilhoso. Posso sentir o
calor de um sol que vibra em minhas moléculas, uma quentura boa e relaxante.
Não preciso mais ganhar dinheiro (pra quê?) nem trocar de roupa, nem comer, nem
ler. Os livros que li e os que não li, estão todos impregnados nesta nova
entidade puríssima. Uma energia vibrante
flui em mim. O sopro inicial da vida é minha essência. Sou fluídica,
volatizada, e nesse estado de torpor intenso, consigo captar todos os segredos
do Universo.
Vou deixando partes de mim pelo
caminho...Gotas de orvalho numa flor, neblina numa densa floresta, gotículas
espumosas numa onda de mar, vapor d´água num caudaloso rio, umidade fresca num beijo de amor,
Sou nada e o nada me preenche. E assim,
segura, intocável e imune às agressões e sofrimentos, sigo invisível pelos
séculos e séculos, amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário