Colaboração do Acadêmico André Bueno Oliveira
Cadeira n° 14 - Patrona: Branca Motta de Toledo Sachs
POETA
Cadeira n° 14 - Patrona: Branca Motta de Toledo Sachs
POETA
Das estrelas o brilho sedutor.
O rugir das procelas e o lamento
Que a avezinha desfere, ao sol se pôr.
Vê na coisa menor um monumento
E se perde em cuidados, todo amor,
Por um ninho, uma folha solta ao vento,
Borboletas azuis, sebes em flor.
Extasia-o a visão de um lindo poente,
De uma lua surgindo de repente,
De um riacho entre pedras a correr.
Pobre poeta que choras a cantar!
Se conheces tão bem o que é sonhar,
Melhor sabes ainda o que é sofrer.
Se conheces tão bem o que é sonhar,
Melhor sabes ainda o que é sofrer.
Esta é a definição de POETA, transformada em versos pela professora e poetisa Branca Motta de Toledo Sachs. Um soneto decassílabo perfeito, como perfeitos são todos os sonetos de seu livro “Sonetos de Branca”, publicado em 1999. No último terceto, ela resume em apenas três versos, toda sua alma de poetisa, pois a maioria de seus poemas expressam um canto triste, um sonho interrompido e um sofrimento inconformado. Após o falecimento de seu querido esposo, o professor Alberto Vollet Sachs, seus sonhos coloridos de poetisa, tornaram-se opacos e a eterna saudade de seu amado foi externada na maioria de seus versos.
Embora nascida em Lorena em 02 de Agosto de 1906, foi uma piracicabana por inteira. De corpo, alma e vida. Pelos relevantes serviços prestados à nossa sociedade, recebeu merecidamente da Câmara Municipal de Piracicaba, o título de Cidadã Piracicabana. Dona Branca, como era popularmente chamada, faleceu em Piracicaba, em 29 de Outubro de 1995.
Além de seu legado literário, Branca Motta de Toledo Sachs deixou-nos uma entidade filantrópica maravilhosa, da qual foi fundadora e presidente de 1938 a 1995: a ESCOLA DE MÃES DE PIRACICABA.
Sua dedicação a tal entidade foi uma semente plantada com muito amor, de tal forma que até hoje os frutos são produzidos proficuamente. O exemplo de sua caridade continua vivo até nossos dias, pois as gestantes carentes recebem, na ESCOLA DE MÃES, orientações pedagógicas,
cursos, assistência médica e também enxoval completo para seus bebês.
Sua obra poética revela também o amor à Natureza e à simplicidade da vida. Qual galeria de artes, seu livro expõe belíssimos sonetos, que são verdadeiras telas raras. Preciosas pérolas literárias. Descreve com sensibilidade e sutileza, a chuva, as enxurradas, as trevas da noite,
a luz do sol, o arco-íris, o brilho da lua, o outono, a primavera, as sibipirunas, os ipês, os pássaros...
Para amenizar seus prantos entre alegrias e seus sofrimentos entre sonhos, literalmente expressos nos versos finais do soneto acima citado, Branca Motta de Toledo Sachs encontrou, sim, um lenitivo: O TRABALHO. Sua dedicação à ESCOLA DE MÃES fez com que ela conseguisse superar a dor e a ausência de seu querido esposo. Fez com que ela operasse o milagre de transformar suas longas noites vazias em belos dias de sol. E esse milagre está descrito em seu livro de sonetos, quando inspiradamente ela compôs:
MINHA VIDA
Lua branca no céu cor de marfim,
Esparrama luar por toda a terra.
Para os outros, não sei, mas para mim,
Essa pálida luz, mágoas descerra.
Os sonhos, a alegria eram meus, sim!
Tinha tudo de bom que a vida encerra.
Porém, como se engana, como se erra,
Pensando que seria sempre assim.
Hoje quero viver à luz do dia,
Pois a noite tão longa e tão vazia,
Só me faz não dormir e recordar.
Quero achar no trabalho uma guarida,
Fazer dele (trabalho) a minha vida,
Sem que sobre um minuto pra sonhar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário