Maria Helena Vieira Aguiar Corazza Cadeira n° 3 - Patrono: Luiz de Queiroz |
Não importa a chuva, o movimento exagerado das ruas, o frio estampado nos rostos descobertos e frios, nem nos passos fugitivos pulando poças nas calçadas querendo se refugiar do lado de lá... Importa encontrar o mar...
Não importa se o sol foi escurecendo mais cedo, num dia que poderia ter sido todo dourado, quente e brilhante, nem se a noite chegando antes da hora resolveu se apoderar do dia, ou se a lua saiu a procurar aquela sua face de dias anteriores, quando mais plena e bela se mostrava envaidecida lá no alto, soberana, na certeza de que ninguém poderia tocá-la, a não ser o ar teimoso que resolveu levar alguma nuvem marota e brincalhona a fazer reviravoltas ao seu redor disfarçando sua estonteante e exuberante presença... Importa encontrar o mar...
Não importa o vento desmanchando os cabelos das pessoas, nem o tremor que arrepia o corpo da garota desnuda que saiu para a praia sem imaginar a virada do tempo que começou muito faceiro, não contando de jeito nenhum, do jeito que iria se transformar depois... Importa encontrar o mar...
Nada importa. Nem o transito impiedoso que nega e dificulta a passagem de motoristas ou de gente afobada e aturdida, que precisa retornar à casa após um dia de trabalho exaustivo, e tantas vezes decepcionante, pois afinal de contas a vida lhe dá a certeza, cada vez mais, de que nada é fácil sem grandes esforços ou dedicação intermitente...
Importa o mar, o caminho que leva ao mar, nas ondas que batem na praia e invadem a areia voltando sempre obedientes, na ordem gigantesca da natureza impiedosa que comanda como quer o seu rumo e o seu curso, sem perdoar a contagem dos minutos ou das horas, nem por quanto tempo ainda terão que fazer tantas viagens de idas e de voltas... Chegadas e retornos contínuos e incessantes, de milhões de anos já passados e impostos por Deus? Quem sabe?
Importa o mar... Importa encontrar o caminho que leva ao mar, e, ao chegar, olhar, olhar até encontrar a interrogação do horizonte infinito que, imensurável, jamais contou a alguém onde vai chegar, nem quando alcançará o seu destino...
Importam neste momento o mistério e o fascínio que o mar provoca deslumbrando todo aquele que gostaria de entender, na sua enormidade, tanta magnificência e extensão de estonteante realidade.
Importa, sim, encontrar o caminho que leva ao mar, e importa saber da vida que vem do mar, no cheiro da água salgada e da maresia que caminham ao encontro do desconhecido até se distrair num barco pesqueiro que madruga em busca do pão de cada dia, ou em algum surfista arrojado e destemido cujo desafio nas ondas mais altas provoca a vida que despenca, num mergulho de verde azulado ou azul esverdeado...
Mais do que tudo neste tempo é importante caminhar ao encontro do mar assim, de alma e coração abertos, de mãos dadas com a existência pura e plena, na calmaria e certeza de quem chegou a um porto seguro, real e benfazejo.
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