Cássio Camilo Almeida de Negri Cadeira n° 20 - Patrono: Benedicto Evangelista da Costa |
Há cinco dias, durante uma tempestade que destruíra seu barco de pesca, estava o náufrago agarrado a uma tábua, que felizmente dava para ele esticar o tronco seminu.
Após a borrasca que o atingiu, como diz o ditado, veio a calmaria, o mar quase sem ondas e o sol inclemente parecia querer fazer ferver a água, fritando o pobre pescador que boiava à deriva.
Durante esses dias de solidão, entre o céu, o mar e o sol, por várias vezes rememorou sua própria vida. A infância, quando sentia a mão quente da mãe ao lhe dar o banho na bacia, carícia sublime. A adolescência, quando fora nadar no lago da fazenda e esconderam suas roupas e tivera que voltar para casa só à noitinha, escondendo-se atrás das árvores, enveredando-se pelas moitas, tentando fugir da vergonha inocente da nudez nessa idade.
Já adulto, lembrava-se do pai morto, engolido numa noite por uma tempestade em uma de suas pescarias. Esse episódio o atormentou por muito tempo em sua vida. E agora, estava ali, deitado naquela prancha sendo assado pelo sol.
De vez em quando procurava jogar com as mãos um pouco de água nas costas e resfriar a pele em carne viva, mas o sal fazia com que o processo de cozimento piorasse. Notou que a água ao seu redor se revolvia e eis que emergiu algo como um enorme rochedo. Ao fixar os olhos, pensando que talvez já estivesse tendo alucinações, viu que era uma enorme baleia. Seus pequeninos olhos fitavam firmemente os seus.
As horas passavam e aqueles olhos continuavam a fitá-lo. Pareciam tão bondosos e hipnotizavam os seus. Passam os minutos, o tempo desaparece, não sente mais dor, vem o prazer que toma conta do seu corpo e ele parece mergulhar nos olhos da baleia. Atinge uma espécie de êxtase e nesse estado imagina estar sendo olhado pelo próprio Deus. Estaria delirando? Delírio ou não, passa a se entregar a isso. Seus olhos se fecham, tudo gira e sua mente se apaga.
Acorda mais tarde numa cama de hospital. Fora salvo por um grupo de turistas que, vendo de longe o jato da respiração da baleia, se aproximou para ver mais de perto o animal e acabaram encontrando o náufrago.
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