Armando Alexandre dos Santos Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado |
Durante muito tempo, desde meados do Século XIX até certa altura do Século XX, debateu-se muito se Literatura era algo possível de existir na velocidade – que àquele tempo parecia já vertiginosa – da produção de textos jornalísticos. A pressa com que se devia, a cada 24 horas, fechar a edição de um jornal, seria consentânea com os nobres vagares da elaboração literária, que durante milênios se firmara como assente? A produção quase em série de textos, numa velocidade que fazia lembrar a famosa linha-de-montagem fordiana, permitiria um burilamento e um controle de qualidade sobre o que se escrevia e rapidamente se imprimia?
Por outro lado, a rapidez extrema com que, no jornalismo impresso, as novas notícias envelheciam e se desatualizavam, fazia com que também dificilmente um texto pudesse ser apreciado, reapreciado, saboreado aos sorvos (mais ou mesmo como estou fazendo com o livro do Renato) e, assim, adquirissem certo caráter de permanência e atemporalidade, indispensável para que pudesse ser, em algum tempo, mimoseado com o prestigioso e ambicionado epíteto de “clássico”. As produções escritas tornavam-se, por força das circunstâncias, efêmeras, quase descartáveis, e isso parecia não combinar, de modo algum, com o que sempre se entendera por literatura.
No entanto, nas entranhas mesmo desse impiedoso processo produtivo tão compressor e massificador, curiosamente estava sendo gestado um gênero literário novo, típico da época e que hoje já se encontra inteiramente assimilado e reconhecido nos moldes da literatura. Refiro-me à crônica, gênero de texto rápido, diário, ambíguo e polivalente, que diz tudo e nada diz, que, quando bem feito, atrai e convida à reflexão e à crítica, e que tem, ademais, o condão de quase viciar um leitor. Quem conseguia, nos velhos tempos, abrir o Estadão sem procurar logo as deliciosas crônicas diárias de L. M. (Luís Martins), sucessor de outro brilhante cronista que, no passado, marcara época e deixara saudades, V. Cy (Vivaldo Coaracy)? E quem, ainda hoje, em Rio Claro ou Piracicaba, deixa de ler diariamente as crônicas sempre vivas e sugestivas do meu amigo Jaime Leitão?
Hoje, a crônica constitui um gênero literário inteiramente aceito. Neste ano, já o Prêmio Escriba, da Prefeitura Municipal de Piracicaba, contemplou essa categoria literária, que será alternada com as de Poesia e Contos. Foi uma sugestão minha essa inovação, e com alegria e surpresa foi aceita sem resistências... Imaginei que houvesse reações, mas não houve. Os estudos preliminares foram feitos, uma lei municipal chancelou a ideia e agora o Prêmio Escriba de Crônicas é uma realidade. A poetisa e escritora Ivana Maria França de Negri foi a piracicabana mais bem colocada na primeira edição do concurso. Ainda neste mês deve receber seu merecido prêmio.
Quando começaram a se generalizar os blogs, também não faltaram pessimistas que viram, na novidade, o toque de finados para a Literatura... A velocidade vertiginosa dessas publicações on-line lhes parecia, realmente, de todo em todo incompatível com a serenidade que habitualmente se espera de um sisudo e bem comportado profissional das Letras.
Pois agora o meu amigo Renato, profissional das Letras, literato e mestre de Literatura, não sisudo, mas brincalhão e bem-humorado, vem demonstrar que, nas velocidades espantosas do teclado e da cibernética também é possível escrever com talento, com bom gosto, com profundidade de pensamento e de análise.
Seu livro é manifestação evidente disso. Nele lemos contos, crônicas, textos poéticos, entrevistas, análises futebolísticas (esqueci de dizer que o Santos Futebol Clube é, quase, a religião do Renato...), comentários cinematográficos (outra grande paixão do autor), considerações sobre Gastronomia e Culinária, sobre Música, sobre Literatura (que afinal de contas é a especialidade do autor). E, dando um charme especial ao conjunto, alguns textos tocantes sobre seu filho Théo e sobre a grande mulher e mãe exemplar que é sua esposa Sílvia Renata.
Detenho-me por aqui, convidando o leitor a procurar na Internet o próprio site do Renato, ou a encomendar, à editora Multifoco (Av. Mem de Sá, 126, CEP 20230-152, Rio de Janeiro-SR), um exemplar do livro.
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