Carlos Morais Júnior Cadeira n° 18 - Patrona: Madalena Salatti de Almeida |
E no começo da história Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”. Ficamos uma beleza com forma humana, muito próximos do modelo da divindade. Pena que nos tornamos somente invólucro. Por dentro, não somos deuses, mas criaturas que sonham com coisas impossíveis. Na verdade, a impossibilidade já faz parte do nosso cotidiano. Nem nos causa mais aquela impressão desagradável! Virou coisa corriqueira, como a droga, a poluição, os tiroteios, os homens-bomba e a corrupção. É a impossibilidade de viver que nos faz todos loucos, alquimistas, seguidores de alguma religião esquisita, ou de alguma filosofia própria de folhetim; é a impossibilidade de ser, que nos torna pragmáticos, mais voltados para a sobrevivência do que para as luzes da razão, e nos empurra para o abismo escuro de uma nova Idade das Trevas. É a impossibilidade de amar que nos torna animais esquisitos, seres quase irracionais, a sorverem de uma avançada tecnologia, sem no entanto, ter a exata consciência de sua utilidade ou de seu limite! Manipular genes, fabricar vida, duplicar animais e plantas, sonhando com um mundo melhor é tudo o que se precisa, e é tudo o que não se tem. Um clone humano, até o momento, ainda é ficção, não menos ficção que a tão sonhada paz nossa de cada dia, não menos idealização do que visões de um mundo tecnológico.
A vida perfeita, sonhada pelos autores iconoclastas e românticos da década de 60 continua somente nos compêndios envelhecidos de modernidade. Passam as décadas e o mundo fica esperando aquela sociedade utópica e justa, onde todos desfrutam dos mesmos direitos e têm as mesmas chances. O que grassa e já acostumamos a ver, é justamente o contrário: o mundo se torna cada vez pior, e está mais perto da anomia e da catástrofe, do que da perfeição. Nesta sociedade tecnológica, e ao mesmo tempo, neolítica, a busca do sagrado ganha cada vez mais espaço na mídia, nas nossas vidas, no subconsciente dos humanos, a provar que não existe nada mais importante do que ganhar o céu, nestes dias conturbados, sem esperança e sem luz. Já que não se pode ser feliz aqui, hoje, quem sabe num Jardim do Éden, numa outra vida, num outro plano, ou numa outra dimensão, menos terrível, menos enlouquecedora!
As religiões proliferam, mas não conseguem resolver os problemas de sempre: miséria, violência, desumanização. Segunda década de um século novo, vida nova, idéias avançadas, porém calcadas nas mesmices que infernizam o espírito humano há milênios. Queremos alcançar a qualquer custo, a divinização, ou melhor, desejamos ardentemente voltar aos tempos corriqueiros do paraíso, e sorver novamente da sua paz, da sua prosperidade e da sua imortalidade. Tudo o que sonhamos é deixar de ser apenas o invólucro que esconde um monstro inusitado, para nos tornarmos a imagem e semelhança verdadeira da divindade. Porém, a cada dia que passa, mesmo com todas as religiões do mundo, com toda a boa-vontade, mais nos afastamos da luz e buscamos a escuridão.
A tecnologia é perfeita, mas não consegue sobrepujar a ignorância, a Ciência é ilimitada, mas não consegue domesticar a fera que em nós habita. Um milésimo do paraíso prometido, com alguns exageros, pode ser desfrutado por uma elite sobre-humana e privilegiada, que detém o poder, restando ao homem comum, apenas a realidade própria das feras e da mais escura das cavernas!
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