Armando Alexandre dos Santos Cadeira n° 10 - Patrono: Brasílio Machado |
Cinco
são os critérios recomendados a um professor para bem avaliar redações feitas
pelos alunos: a) adequação ao tema solicitado; b) adequação ao tipo de
composição; c) adequação ao nível de linguagem; d) coesão; e) coerência.
Esses
cinco pontos, realmente, são fundamentais. O primeiro deles é óbvio; se o aluno
produz uma obra prima de literatura, mas fora do tema que lhe foi solicitado,
não pode obter boa nota. Faz lembrar o dito célebre de Santo Agostinho: “bene
cucurristi sed extra viam” (correste bem, mas fora da tua pista).
Também
é importante que haja adequação ao tipo de composição. Se é pedido um texto
dissertativo, não se pode fazê-lo em forma epistolar, ou em poesia, ou à guisa
de discurso. Se é pedida uma carta, é uma carta, e não um discurso ou uma
crônica que deve ser feita. Se é uma narração, ou uma reportagem, ou um
requerimento que foi pedido, não se vá fazer coisa diferente.
O
nível de linguagem é também algo a não ser negligenciado. Em princípio, quanto
mais simples, direto e objetivo for o texto, melhor. Evite-se linguagem
rebuscada e cheia de artificialismos. Evitem-se também gírias e expressões
coloquiais, que não cabem num texto a ser avaliado por um professor, num
ambiente escolar. Ainda há poucos meses presenciei um fato muito engraçado.
Estava na Unicamp, num congresso de História Antiga, e apresentou sua
comunicação uma menina muito jovem, de Minas Gerais, ainda estudante de
graduação. Com bastante coragem, foi a um congresso em que quase todos os
oradores já estavam pelo menos no Mestrado e alguns já no Doutorado. Ela expôs
o seu trabalho, naturalmente com imprecisões, com erros, com falhas. Mas todos
os presentes, de modo muito elegante e - quase diria - caridoso, sem humilhá-la
com jeito a ajudaram, corrigiram as suas falhas, recomendaram que pesquisasse
melhor um ponto ou outro. Ela agradeceu e saiu contentíssima. Realmente foi
bonito ver o jeito com que todos, sem exceção, contribuíram para que a menina,
que estava dando o melhor de si, saísse de lá melhorada e engrandecida. Ela,
aliás, percebeu isso e agradeceu a todos, de modo muito tocante, com muito
charme.
O que me chamou a atenção, no caso, foi a observação que fez um dos professores mais graduados que estavam na sala. Com muito jeito, com ar meio bondoso, disse à menina: - Minha filha, vou dar a você um conselho: quando falar de um personagem histórico, não fica bem colocar o artigo na frente do nome, insinuando uma intimidade que você não pode ter com ele. Nunca diga: o Aristótoles, o Platão, o Sócrates. Nenhum dos três foi seu colega ou seu amigo de infância... Esse artigo dá uma nota excessivamente coloquial que não fica bem num trabalho acadêmico.
O que me chamou a atenção, no caso, foi a observação que fez um dos professores mais graduados que estavam na sala. Com muito jeito, com ar meio bondoso, disse à menina: - Minha filha, vou dar a você um conselho: quando falar de um personagem histórico, não fica bem colocar o artigo na frente do nome, insinuando uma intimidade que você não pode ter com ele. Nunca diga: o Aristótoles, o Platão, o Sócrates. Nenhum dos três foi seu colega ou seu amigo de infância... Esse artigo dá uma nota excessivamente coloquial que não fica bem num trabalho acadêmico.
A
menina entendeu a crítica, sorriu e agradeceu.
Por
fim, coesão e coerência são indispensáveis. Conjunções e preposições devem ser
colocadas nos lugares certos, do modo correto. Não são palavrinhas que se
distribuem aleatoriamente pelo texto, só para enfeite. Os conectivos têm
significado que não pode ser ignorado. É com eles que se “costuram” as várias
partes do texto, de modo a adquirirem unidade e coesão interna.
O
pensamento do texto, seu conteúdo, é importantíssimo. Em que medida o aluno
conseguiu exprimir um pensamento lógico, pessoal, maduro e refletido no que
escreveu? Em que medida se limitou a repetir frases feitas, lugares comuns e
banalidades, numa espécie de psitacismo cultural? Em que medida o texto produzido
pelo aluno permite entrever um espírito lúcido, capaz de ver com clareza o
problema e, com igual clareza, expô-lo por escrito?
Se
em todos esses pontos o aluno foi bem sucedido, somente se for muito “malvado”
o professor não lhe dará nota 10...
A
todos esses critérios eu acrescentaria um último, que nem sempre é lembrado mas
considero digno de consideração. Acredito que o professor, além da análise
tanto quanto possível objetiva e imparcial que faça de uma redação, também deve
tomar em linha de conta, subjetivamente, o aluno em si. Um aluno menos dotado
que se esforçou extraordinariamente merece, em justiça, que o professor lhe
faça sentir, na nota mais alta, que compreendeu e deseja estimular aquela
conduta mais esforçada. E um aluno mais dotado que produza uma ótima redação,
mas que evidentemente poderia tê-la feito muito melhor, também é justo que
sinta, na avaliação, que o professor percebeu e lamentou o desleixo.
A
justiça de uma avaliação é, pois, uma composição de objetividade e
subjetividade, de censura e estímulo, de justiça comutativa e distributiva. É
mais equitativa do que igualitária já que, como dizia Rui Barbosa, a verdadeira
igualdade consiste em tratar desigualmente os desiguais.
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